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Drag Queens

Who’s That Queen? Roem

“As rainhas brasileiras também são outra coisa. Eu, é claro, amo Pabllo Vittar, mas também Gloria Groove”, diz Roem, de Drag Race Holland, nesta entrevista exclusiva.

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🕓 10 min de leitura

Foi aqui que pediram pelo serviço de quarto? Pois ele será feito pela robô humanoide que, infelizmente, passou rápido demais pela primeira temporada de Drag Race Holland, exibida pela Videoland em parceria com a WOW Presents Plus e estreada em 18 de setembro de 2020.

Neste spin-off holandês o público foi apresentado a Roem, drag queen originária de Urk, pequena ilha holandesa localizada há uma hora da capital, Amsterdã. Então com 21 anos, ela é a sexta das dez drag queens do elenco a entrar na sala de trabalho no episódio um, “Land of the Queens”.

Logo depois de perceber que conhecia algumas de suas concorrentes, Roem encarou seu primeiro mini desafio: uma sessão de fotos subaquática em um tanque no qual ela pulou de costas para entrar, porém, devido ao enchimento usado no quadril, os mergulhos foram prejudicados, o que lhe fez flutuar em vez de nadar e posar para a foto.

Em seguida, as drags precisaram homenagear suas rainhas preferidas na passarela. O que era um sonho até aqui começa a ganhar contornos de pesadelo. Roem havia planejado fazer tributo a um símbolo da mitologia grega, a Medusa, porém, a produção do programa lhe disse para não usar esta roupa, o que a fez ser obrigada a recorrer a sua segunda opção, A Rainha Má da Branca de Neve. Aqui cabe uma pequena observação: todas as roupas usadas no programa são enviadas para a produção com muita antecedência.

Este conflito entre os produtores e Roem fora explicado pela mesma, em uma postagem no Instagram, feita no dia 17 de setembro de 2020:

Espelho, espelho na parede: quem deveria ter o visual mais babadeiro de todas elas? Bom palpite, eu. Não pensei duas vezes quando soube que a categoria de passarela seria “queen”. A própria rainha das cobras, Medusa. Infelizmente a produção pensou que essa icônica criatura mitológica não era tanto uma rainha como Diana Ross [Megan Schonbrood], Maria [Ma’Ma Queen] ou a protagonista do filme de abelhas [Janey Jacké]. Ver minha opção alternativa se concretizar não me deixou mais feliz pois essa não era a visão que eu estava procurando. E os juízes, com razão, perceberam isso também”.

Por fim, antes que olhemos para o Gorgon e ele nos transforme em pedra, Roem também afirma que o visual finalizado de Medusa teria uma capa de corrente, uma coroa e varinha de cobra e, é claro, as botas que você viu na passarela.

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Encerrando sua participação neste reality show, Roem acabou entre as duas piores ao lado de Megan Schonbrood. Juntas elas dublaram “Express Yourself”, clássico oitentista de Madonna.

Apesar de ser sua primeira dublagem em toda a vida, ela estava confiante por ser fã da rainha do pop há muito tempo, entretanto, depois de regravarem o lip sync três vezes por Megan ter dificuldade para escutar a música, esta drag acabou no décimo lugar da competição.

Ao se despedir do programa, Roem disse que veria todos nós on-line. Foi desta forma que reconstruí seus passos para entregar a você a resposta que Drag Race Holland não lhe deu: afinal, Who’s That Queen?

Nascido no dia dez de fevereiro de 1999, Willem Pasterkamp conseguiu a proeza de crescer como LGBTQIA+ em uma das cidades politicamente mais conservadoras da Holanda, Urk, local no qual o conservadorismo dita as regras.

É neste contexto que ele recebe uma rígida criação religiosa que, por mais forte que fosse, não conseguiu impedi-lo de trilhar um caminho sem volta: o do autoconhecimento.

A partir de 2009 é exibido o programa de comédia “De TV Kantine”. Willem, fã ardoroso, adorava as imitações de celebridades e paródias. Mais do que isto, se sentia atraído pelas perucas, maquiagens e figurinos, o processo de transformação em si.

Mais a frente, em 2010, quando tinha dez anos, Willem pesquisava paródias de cantoras pop americanas quando encontrou uma versão peculiar de “Telephone”, de Lady Gaga e Beyoncé. Ele não sabia que aquelas pessoas eram Sherry Vine e Peppermint. É neste ponto que entende, de fato, o que é uma drag queen, porém, não pense que a assimilação foi simples.

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Ao entrar em contato com o mundo drag, toda uma cultura e criação religiosa foram confrontadas, afinal, não somente os pais de Willem não aceitavam drag queens, como a cidade toda compartilhava da mesma aversão. Em um primeiro momento, ele basicamente não gostou de nada relacionado a este universo de drags. E tem mais.

Além da indiferença, Willem sentiu medo da altura delas, com maquiagem “estranha” e tom de voz específico, entretanto, fatores como a criatividade o intrigavam e despertavam algo que, logo, logo ele entenderia perfeitamente, afinal, como diz RuPaul, tem rainhas por todo lado.

Retornando à infância de Willem, é neste período que ele começa a aflorar seu lado feminino, andando com cobertores pela casa. Junto a um amigo, comprou perucas para que se apresentassem como suas estrelas preferidas do universo musical, algo que é um bom indicativo do que viria a seguir, na pré-adolescência.

O ano é 2013. Willem tem 14 anos de idade no momento em que um de seus melhores amigos o recomendou, insistentemente, para que assistisse a quinta temporada de RuPaul’s Drag Race. O que ele viu na tela revolucionou sua mente a ponto de creditar a este programa a sua verdadeira iniciação no mundo drag.

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Se por um lado Willem vivia os primórdios de uma nova paixão, por outra ela também acontecia de forma sigilosa. Sua mãe não podia ter conhecimento sobre a descoberta que fazia o coração do filho bater mais rápido, logo, a solução foi lhe dizer que queria ser maquiador. A estratégia deu certo: Willem ganhou dela um Kryolan – Tv Paint Stick, uma base em bastão que custa por volta de R$ 215,60. Junto a ela Willem acrescentou algumas perucas velhas de festa que estavam em seu quarto e a maquiagem de sua irmã, itens importantes para o que viria a seguir.

Quando os pais de Willem saíam para ir à igreja, ele corria para o banheiro após ter assistido diversos tutoriais de maquiagem e, no prazo de duas horas, tempo que seu pai e mãe se ausentavam, tentava fazer o melhor rosto que conseguia. A fantasia acabava quando ouvia o som do carro estacionando. Neste momento, ia para o chuveiro e eliminava qualquer vestígio do que estava fazendo.

A situação pioraria quando o pai de Willem descobriu que o filho estava se montando como drag queen. Para ele, isto é coisa do diabo e o choque fez com que ameaçasse expulsá-lo de casa. Segundo sua lógica, os pais não imaginavam que ele faria “apenas” maquiagem drag.

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Esta fase melhoraria tempos depois, no outono de 2015, quando Willem recebeu sua primeira peruca frontal de renda. A partir daí ele passa a confeccionar suas fantasias e a investir na internet, lugar no qual conseguiria seu primeiro êxito.

Aos 17 anos, em 2017, é lançado, no YouTube, a série “Rapal Dark Res”, uma paródia sobre RuPaul’s Drag Race com caricaturas mal feitas propositalmente. A ideia para criá-lo surgiu após Roem assistir “The Ladey Gags Show”, outra série online que acompanha celebridades em causos curiosos. A indicação de um amigo virou obsessão para, em seguida, transformar-se no próprio programa de Roem.

Esta experiência, que durou quase quatro anos, fora fundamental para Roem expandir sua presença em territórios internacionais, mas uma surpresa desagradável colocaria um ponto final nela:

“Alguns de vocês estão perguntando onde estão os vídeos do RaPal Dark Res. O YouTube basicamente me forçou a derrubar a maioria deles ou todo o meu canal seria desmonetizado. A fim de manter meu canal seguro eu baixei todos eles porque eu não quero que nenhum desses problemas volte mais tarde. Vou carregá-los em uma plataforma diferente quando tiver tempo e tudo isso for resolvido, porque não acho justo da minha parte manter esses vídeos privados depois de tomar essa decisão. Não há outra opção para mim agora e espero que entenda isso. Avisarei vocês quando puderem encontrá-los publicamente novamente”, disse, em postagem no YouTube, em nove de abril de 2019.

Independente do desfecho, é fato consumado que este projeto abriu caminho para o que Roem pretendia em Drag Race Holland: aumentar seu público, desenvolver sua plateia holandesa e mostrar para as pessoas que tudo bem sua drag orbitar apenas o mundo digital, porque sabemos que existe espaço para muitas linguagens.

Para Roem, sua drag é uma musa ciborgue que, consigo, carrega uma crítica contundente para os dias atuais: nós estamos viciados em tecnologia e nos prazeres da vida digital, mas também acabamos esquecendo nossa humanidade, algo importante para esta artista que se descreve como uma mistura de Judy Jetson e a atriz Joan Crawford.

Seu nome, Roem, significa famoso em holandês. Seguindo esta palavra à risca, ela agora ainda colhe os louros gerados pela exposição mundial na maior competição drag do mundo, para a qual seus pais, já devidamente esclarecidos, a apoiaram do melhor jeito possível.

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Ainda no campo pessoal, Roem atualmente também namora a drag queen Faith Intervention, nome que ela indica com orgulho para a segunda temporada de Drag Race Holland, além das rainhas Love Masisi e Vivaldified. E o que mais se passa pela cabeça de Roem? É o que você descobre logo abaixo, na entrevista disponibilizada na íntegra. Confira!

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A segunda temporada de Drag Race Holland já foi confirmada. Se você pudesse escolher o elenco, quem faria parte do programa com certeza?

Eu adoraria ver a Ivy-Elyse Monroe. Ela é uma das irmãs da Envy e da Abby. Keta Minaj também é uma rainha feroz que não só iria matar a concorrência, mas também a parte de reality televisivo. Miss Magic Merlot seria ótima, bem como ela realmente é o pacote completo. Na verdade, quero ver todas as minhas irmãs atuando sob as circunstâncias do show, mas especialmente as rainhas experientes. Eu sinto que elas precisam ser mostradas também. Deedee Janssens, por exemplo. Todos sabem quem ela é e aposto que ela pode levar a coroa para casa depois da Envy.

Drag Race Holland estreou há oito meses. Depois desta época, quais foram os erros e sucessos do programa como competição e reality show?

Foi uma primeira temporada, por isso há, naturalmente, um monte de falhas. Uma delas é um vestido de muito bom gosto.

Este shade até me desconcentrou.

Não, mas piadas à parte, acho que tentaram mesmo fazer algo especial. Especialmente para a televisão holandesa. Eu não esperava que eles fossem tão grandes. O elenco em variedade de drag foi perfeito para a primeira temporada e realmente introduziu a nossa indústria para o público mainstream. Poderíamos falar incessantemente sobre edição, julgamento, desafios e lip syncs, mas no final do dia devemos estar felizes que há uma plataforma popular para nós agora. Também adorei como nossa temporada foi muito mais punk. Madness com sua barba e, em seguida, dizendo: “Que se foda, me deixe raspar ela”. Chelseaboy estando lá para jogar fora todas as regras de drag e Ma’Ma Queen que decide não se definir por uma categoria de passarela. Eu amei tudo isso. É uma mentalidade muito holandesa. Uma segunda temporada só pode melhorar a partir deste ponto.

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O que exatamente você estava fazendo por volta de maio de 2020, quando recebeu a ligação da produção de Drag Race Holland confirmando o seu nome no elenco?

Na verdade eu estava me mudando para uma nova cidade para viver com o meu namorado, que todos conhecem como Faith Intervention. Isto foi em março do ano passado. Depois de um tempo, eu meio que desisti da chance de filmar Drag Race, mesmo tendo sido confirmada para a temporada. Algumas semanas depois, o processo de inscrição começou e eu fiquei tão animada novamente. Era como me preparar para um acampamento de verão interminável e gay.

Quando eu assisto reality shows competitivos sobre drag queens, sempre penso em como você realmente lida com as críticas dos juízes, afinal, drag é arte e arte é algo subjetivo. Como lidar com esta situação sem “perder a elegância”?

No final do dia, você se inscreveu em um reality show. A ideia de sermos todos kumbaya e nos divertirmos juntos é ótima, mas não funciona para a TV. E também não funciona para a nossa carreira. Não importa se você for julgado por pessoas que não são as mais educadas em drag, porque você pode aprender de todos os tipos de perspectivas. Isso não significa que sempre concordei com tudo o que estava sendo dito ou julgado. Mas Drag Race não existe com a intenção de melhorar totalmente a si mesmo. É para mostrar sua grandeza, fraqueza e colocá-lo sob pressão. Você não pode e não deve mudar isso, porque foi para isso que você disse sim.

Estou absolutamente certo de que você não teria sido eliminada no primeiro episódio se você tivesse usado a roupa da Medusa. Não havia a menor possibilidade de você usá-la? Como foi este dia?

Na verdade, não tenho a certeza se o teria feito. Não se encaixava na categoria que eles julgavam. Eu não estava na mentalidade de ter roupas perfeitas, ser totalmente polida e ser a versão de mim com mais glamour. E isso é o que você tem que ser para Drag Race. Isso é o que eles estão procurando. Eu não estava realmente pronta para a competição. Estou feliz por ter ido para casa porque me forçou a olhar para as coisas com uma mentalidade diferente.

Que lição você pode aprender vivendo cerca de 20 anos numa cidade conservadora que não reage bem a drag queens?

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As pessoas com quem falo fazem parecer que viver em Urk deve ter sido a pior experiência da minha vida. E sim, não foi perfeito, mas treinou o meu cérebro a nunca se importar e isso é algo que desejo para todos. Me ocorreu que não importa a sua área, quem você é ou o que você faz. As pessoas sempre terão uma opinião, então dê a elas uma grande história para falar.

Você tem trabalhado como drag por seis anos. Quando você analisa a evolução da sua maquiagem neste período, onde você melhorou?

A minha jornada como drag me levou por todo o lado nos últimos seis anos, mas para responder à sua pergunta: todos os dias. Eu ainda aprendo e continuarei sempre a melhorar.

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É notável a sua evolução ao vermos as fotos que você já postou no Instagram.

Amei cada rosto que já tive. Não importa se era duro ou não misturado, era sempre autêntico. Nunca tentei basear a minha maquiagem em ninguém e é isso que me deixa mais orgulhosa. No entanto, acho que minhas técnicas de maquiagem melhoraram drasticamente em 2019. Foi quando eu comecei a “encontrar o meu rosto”, mas eu provavelmente vou dizer isso a cada poucos anos.

Para concluir por hoje, gostaria que surpreendesse o público brasileiro: o que você sabe sobre o Brasil além da Miss Abby OMG?

Eu amo o Brasil! Muitos dos meus apoiantes são daí. Eles são realmente as melhores e mais doces pessoas que eu conheço. Também as mais obsessivas, hahas! Eu sei que vocês têm meninos muito bonitos aí, mas de qualquer maneira, de volta à questão: as rainhas brasileiras também são outra coisa. Eu, é claro, amo Pabllo Vittar, mas também Gloria Groove.

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Que coisa boa de saber. Obrigado pelo seu tempo, Roem.

Muito amor!

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Para ler outras entrevistas exclusivas do Who’s That Queen clique aqui.

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