Com ela as coisas funcionam de duas formas: gostou? Like. Não gostou? Pode dar deslike, não tem babado. Linda, bonita, gordinha e gostosa, fecha na lata que o poder dela é revelado, mas vai ter que obedecer. Aqui é rainha P.O.P.O.V.I.CK, a danada que fica de bunda no paredão.
Capricorniana nascida no dia 16 de janeiro de 1992, em Recife, Pernambuco, Gysella Popovick radicou-se em São Paulo, capital, em 2006, local no qual vive até hoje e o mesmo onde criou sua drag, um ano depois (2007).
Durante sua infância na década de 90, no nordeste, Genival Alexandre Ferreira Neto, filho de Gena Gomes e criador de Gysella, teve seus primeiros contatos com a arte do transformismo, através do programa “Gente que Brilha”, no SBT, apresentado por Silvio Santos. Nomes como Marcinha do Corinto lhe chamavam atenção e mal sabia Gysella que ela estava sendo apresentada a sua futura profissão.
Na capital paulista, mais especificamente na boate Ultradiesel, pelas mãos das drags Morgana Striker e Lauanda do Mor, Gysella experimentou se montar pela primeira vez. Foi o primeiro passo para o que viria a seguir: como eu vou me chamar? Gysella Mclaren? Gysella Beauthy? Hum… Gysella… CHEGA. “Ficaria mais bacana Popovick pois você é comunicativa, divertida, falante e lembra a Silvia Poppovic”, ouviu de um amigo.
O começo de carreira foi marcado por dificuldades, a principal delas? Falta de verba para dar um acabamento melhor a sua personagem, porém, mesmo com o desejo inicial quase que comum entre drag queens de se montar apenas por close, Gysella já sabia que a profissionalização poderia lhe levar longe.
Entre um concurso e outro, Gysella começou, pouco a pouco, a marcar seu nome na noite paulistana. Ter vencido a Hora do Gongo, na Danger Dance Club, ajudou nesse sentido, assim como quando foi escolhida “Drag New Face” da Parada LGBT de São Paulo, em dois de junho. No dia 12 do mesmo mês, entra no Instagram. Ambas as atividades em 2013.
Todos estes acontecimentos foram fundamentais para a grande virada que chegaria em breve para Gysella, mais precisamente no dia 13 de outubro de 2014 quando, entre 71.442 inscrições recebidas, a dela foi uma das oito selecionadas para integrar o elenco da primeira temporada do web reality show Academia de Drags.
Assista a primeira temporada completa de Academia de Drags aqui.
Durante sua participação neste programa, chama atenção como o número um lhe acompanhou durante toda a competição: Gysella foi a primeira drag a entrar no Academia, venceu um desafio e, apesar de ter sido a segunda a garantir sua vaga para o lip sync da grande final, foram os seus strass e glitter que saíram na foto com o título de número um e de drag queen mais completa do Brasil com uma viagem internacional com acompanhante, uma peruca de cabelo humano da Lully Hair e um show produzido na boate Blue Space.
“Eu simplesmente amei participar, aprendi e cresci muito como pessoa e me beneficiei como profissional pois foi uma alavancada em meu trabalho. Ganhar o concurso foi ainda mais incrível, mas todas as participantes merecem os créditos e serem consideradas vencedoras pelo simples fato de darem a cara a tapa em um projeto novo aqui no Brasil”, disse sobre participar e vencer o Academia, para a Fourton Magazine.
Por fim, Gysella como winner é muito significativo porque estamos falando de uma drag big girl nordestina que não é caricata desafiando os padrões que todos conhecemos desde sempre e, durante muito tempo, foram forçados como únicas opções de corpos, afetos, relações e sexo. É de tomar nota, caro leitor.
Em seguida, Gysella pôde colher os louros de seu trabalho árduo e expandir seu campo de atuação. Antes restrita a São Paulo, sua drag começou a chegar nas demais capitais brasileiras, como Brasília, onde apresentou-se pela primeira vez em 27 de fevereiro de 2015. Baladas pelo Brasil todo foram recebendo a rainha coroada que sim, bate cabelo, mas também sabe se virar e entregar outras coisas para o público.
No Youtube, por meio do canal TV GYSELLA POPOVICK, ela entrevista diversos artistas, faz vlogs e tutoriais. Também nele disponibilizou, em 22 de fevereiro de 2019, o videoclipe de “Meu Poder”, seu primeiro single, composto por Mc Santini com direção musical de Malharo, disponível nas principais plataformas digitais.
A seguir, para encerrar este especial Academia de Drags, você confere, na íntegra, a conversa que tive com Gysella. Falamos sobre carreira, como ela foi parar no programa, projetos futuros, Academia de Drags 3, entre outros assuntos não menos interessantes. Confira:
Quase seis anos depois da exibição do Academia, como você analisa essa experiência? Qual foi o peso dela na sua careira?
Amigo, o Academia de Drags foi um divisor de águas pra mim. Ela veio no momento certo, numa hora certa, na qual eu tava batalhando pra ser reconhecido como profissional na área, que a gente sabe o quanto é difícil. Naquela época ainda, seis anos atrás, pra você ser um profissional reconhecido, renomado e respeitado pelas pessoas, pelos artistas, não bastava você ter talento, mas você precisava passar por concursos famosos, concursos de boates, você ganhar um concurso pra você ser visto como um profissional: “Olha, ela ganhou um concurso tal, ela já tá pronta pra trabalhar em casas”. Isso eu ter ganhado o Academia me ajudou muito como profissional.
Depois do Academia minha carreira deslanchou, porque as pessoas aqui em São Paulo já me conheciam, algumas pessoas. Eu já era do meio centro aqui e quando eu ganhei o Academia, devido ao Youtube, repercussão que deu, as pessoas do Brasil inteiro começaram a me conhecer, onde que eu comecei a trabalhar, viajar e ter a oportunidade de trabalhar em boates que eu nunca tinha pisado na minha vida como profissional, como convidada, entre Blue Space, Danger [Dance Club], Tunnel, Freedom [Club], Cantho [Club], Bubu [Lounge], The Week, Planet G [Club], na época que tinha, entre outras boates que fecharam também. Foi um divisor de águas incrível na minha vida.
Como você ficou sabendo das inscrições? Consegue lembrar o que passou na sua cabeça no primeiro dia de gravação?
Eu vi um post sobre as inscrições no Facebook, perfil Academia de Drags falando um pouco sobre o projeto e como funcionaria e ir lá pra você se inscrever. Eu me inscrevi umas dez vezes, não, desculpa, dez não, mais ou menos dez vezes, sim, dez vezes. Eu mandava show meu e meus dados, o que eles pediam de dados pessoais e mandava um vídeo de um show meu, um show aleatório. Pegava um show do Youtube e mandava e eu não era chamada. Eu via várias amigas minhas do meu lado que mandaram vídeo e foram chamadas, umas acabaram recusando porque não se sentiam preparadas e eu fiquei meio frustrado por não ser chamado, por não ter recebido o convite, óbvio, como qualquer pessoa ficaria querendo participar muito de um projeto, até que um amigo meu falou: “Popovick, como é que você tá mandando o vídeo?”. Eu mandava um vídeo de um show aleatório. Ele falou assim: “Não, eles pedem pra você falar um pouquinho da sua drag, descrever um pouco da sua drag”.
Então eu resolvi mandar um vídeo falando, eu filmei pelo meu celular, falando um pouquinho de mim, de menino, depois eu mostrei minha drag, isso e aquilo e nesse vídeo eu fui chamado. Eu recebi uma ligação numa quinta-feira e as gravações começavam três dias depois, que era num domingo. Eu fiquei muito feliz. Tentei pegar tudo que eu tinha em casa de show, de roupa, de peruca, peruca de amigo pra levar pro Academia porque uma vez que a gente levasse todos os materiais, a gente não podia tirar nada e nem levar mais nada, então foi incrível, incrível. Essa foi a forma que eu me inscrevi, essa foi a forma que eu fui chamado. Eu fiquei muito feliz e eu realmente não acreditava. Quando eu recebi a ligação da produção eu fiquei assim, tipo em êxtase. Eu falei: “Eu vou dar o meu melhor”.