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Drag Queens

Who’s That Queen? Natalia Pliacam

“O Carnaval do Rio de Janeiro é empolgante e hipnotizante. O vestido de noite brasileiro é tão lindo”, conta Natalia Pliacam nesta entrevista exclusiva para a Who’s That Queen?

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🕓 10 min de leitura

É dia sete de janeiro de 1980 quando um bebê nasce no vigésimo país mais populoso do mundo. Lá em Bancoque, coração econômico, cultural e político da Tailândia, em um mês tipicamente frio, veio ao mundo Assadayut Khunviseadpong, uma pessoa que tem aquilo que todo jornalista adora: histórias para contar.

As origens de Assadayut, por si só, já são dignas de nota, afinal, ele é natural de um local cuja maioria da população é budista teravada, a escola mais antiga do budismo, criada na Índia, para a qual, ser gay, é visto como um castigo devido a pecados cometidos em outras vidas, como o adultério.

Em paralelo a este contexto, a homossexualidade só foi descriminalizada na Tailândia em 1956, ou seja, até a década de oitenta, apenas 24 anos se passaram desde que fora legalizado ser LGBTQIA+ neste país, o que não impedia as pessoas, nesta época, de exercerem seu preconceito, porque muitas delas consideravam a homossexualidade e a transexualidade, por exemplo, como doenças mentais ou desvios de caráter.

Neste cenário pouco propício a diversidade, com minorias sendo escondidas e aniquiladas pela discriminação, Assadayut conseguiu não somente sobreviver, mas prosperar através de sua própria criatividade.

Em 1997, aos 17 anos de idade, ele começa a ter aulas de dança e atua como líder de torcida para alunos surdos da Rangsit University, instituição privada localizada em Pathum Thani. Neste posto, atuou durante uma década.

Mais à frente, em 2006, Assad participa do concurso “Miss ACDC Life”, uma sátira do Miss Universo cujos competidores criam uma personagem para representar países do mundo. Ele escolheu os Estados Unidos e, mais importante do que isto, sua drag nasceu.

Natalia vem da modelo e Miss Universo 2005 Natalie Glebova, além de ser o nome de uma marca de analgésicos. Seu sobrenome, Pliacam, também é um trocadilho em inglês que faz uma piada com lábios cansados. Neste caso, os vaginais.

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Brincadeiras à parte, ao vencer esta competição, Natalia pôde fazer um show em Bancoque durante alguns anos, o que, infelizmente, não lhe impediu de aposentar, temporariamente, sua drag.

Ao lado de um mundo cheio de perucas, maquiagens, acessórios e vestidos, Assadayut trabalhava como administrador e vendedor de caixões e esculturas sagradas na empresa de sua família, um negócio tocado há gerações.

Como na Tailândia é comum que empresas familiares sejam repassadas aos filhos, o pai de Assadayut tem preparado ele e os irmãos para, mais do que assumirem os empreendimentos, possam expandi-los. Uma das metas é o título de primeiro planejador funerário tailandês que também realiza casamentos, junto ao desejo de modernizar a companhia como um todo.

Neste clima progressista, Assadayut passa a se interessar cada vez mais por drag, uma forma de arte ocidental relativamente nova na Tailândia que atraía um interesse cada vez maior das pessoas, principalmente quando um certo reality show ganhasse sua versão asiática.

Natalia Pliacam, campeã da primeira temporada, e Art Arya.

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Em 15 de fevereiro de 2018, através da Line TV, começa a ser exibida a primeira temporada de Drag Race Thailand com apresentação de Art Arya e Pangina Heals. Entre o elenco formado por dez drag queens, Natalia era a mais velha na época das gravações, com 37 anos de idade.

Safe no primeiro episódio, esta drag mostra a que veio em seguida, no episódio dois, “The Power of Love”, ao vencer o mini-desafio e o desafio principal: um ensaio fotográfico como noivo e noiva.

Salva novamente no episódio três, faz história na sequência, no episódio quatro, “Drag Race Thailand Debut Season Award”, ao ganhar novamente o desafio principal, porém, o prêmio de um ano de fornecimento de produtos de beleza Bioré lhe custou um preço alto.

Como nesta franquia o desafio de passarela tem um valor individual e seu próprio peso dentro da competição, Natalia teve que encarar sua primeira dublagem, contra Amadiva. Após o lip sync de “Dhoom Dhoom”, da cantora e atriz Tata Young, fora declarado o inesperado: ambas ganharam Shantay e a história se fez: uma rainha registrou o feito inédito de ganhar o desafio e dublar no mesmo dia.

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Em seguida, no tradicional Snatch Game, Natalia assegura sua terceira e última vitória, no desafio principal e passarela, sendo a primeira a fazer isto. Nos episódios seis e sete, fica entre as três melhores, fechando um histórico digno de realeza, com sua coroação na final, no episódio oito, exibido dia cinco de abril de 2018.

De lá pra cá, Natalia se tornou muito mais do que um modelo para os jovens chineses que, por circunstâncias diversas, ainda “estão no armário”, com suas vivências enquanto corpos LGBTQIA+ sendo suprimidas ou silenciadas. Esta representação ela sente por nomes como Suharit Siamwalla, que atuou de forma vanguardista durante as eleições para o governo, em Bancoque, no ano de 2013. A ele ela credita sua inspiração para querer entrar na política.

Sua plataforma, ademais de ser pautada pela igualdade, a qual inclui os campos do entretenimento, imprensa e trabalho, abrange, principalmente, a luta por pessoas LGBTQIA+ com deficiência, como os surdos. Independente do caminho que escolha seguir, é certo que a visibilidade online de Natalia a ajudará.

Em matéria da TheGayUK publicada em 18 de fevereiro deste ano, uma pesquisa mostrou um ranking que lista as 18 vencedoras de RuPaul’s Drag Race que mais lucram com o Instagram. Natalia está lá, em décimo oitavo lugar. Se esta posição é uma prova do preconceito do fandom brasileiro com rainhas asiáticas? Provavelmente sim, no entanto, os 26 mil e 900 seguidores de Natalia no Instagram importam mais. E no final do dia o selo de verificação dela segue intacto, ok?

E foi justamente por esta rede social que eu entrei em contato pela primeira vez com Natalia. Atualmente aos 41 anos, esta capricorniana segue como o país que a viu nascer e progredir: uma nação que nunca foi colonizada. Como tal, ela é independente.

E é esta pessoa que você encontra, na íntegra, na entrevista disponibilizada logo abaixo. Sawatdi, caro leitor, e guarde esta palavra: ela lhe será útil ao final desta edição da Who’s That Queen?

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Boa noite, Natalia! Como você está hoje?

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Agora eu estou trabalhando. Muito calor aqui na Tailândia.

Você faz drag há 15 anos. Desde então, esta forma de arte passou do underground para o mainstream. Depois deste tempo de carreira, quais são as maiores transformações que você acha que aconteceram no mundo drag? Boas e más.

Ao longo dos anos sendo uma drag queen, acho que toda vez que o fazemos, é sempre uma grande mudança, mas tudo depende de como as pessoas interpretam essa ação. Porque nossas boas histórias podem ser pequenas para alguns, mas nossas grandes histórias podem ter uma influência de longo alcance para outros também, porém, o que realmente acontece e não muda é que eu sempre sei quais mudanças minhas ações estão criando, tanto para mim e em torno delas. Sempre pensei que a humanidade nos ensina a necessidade de nos movermos para a frente para sobreviver.

Como foi gravar seu lip sync contra a Amadiva no episódio quatro? Foi o primeiro duplo Shantay na história de Drag Race Thailand.

Na verdade, não é tão inesperado quanto possa imaginar: “Meu Deus, fui atingido”. Muitas pessoas estão se perguntando por que a competição veio de uma forma que não é tão completa como costumava ser em um conjunto regular. Muito fácil. Minha resposta é: tenho ótimas lembranças disso. Adoro ser uma líder de torcida, nasci com isso e fiz isso antes de me tornar uma drag queen séria. Fui capitão de equipe durante meus dias de escola e também aproveitei para ensinar surdos, para ser a primeira equipe na Tailândia também. Então eu acho que se acreditarmos no que fazemos, tenha orgulho disso, pois estou comprometida com o Drag Race Thailand, e tenho orgulho disso. Logo, quando comecei a dublar, estava no meu melhor na época, e se você olhar com cuidado, você pode ver que no final da música a Amadiva pula até mim e eu a abraço com instintos de líder de torcida. E se eu não fosse uma líder de torcida poderia ter sido um acidente, hahaha!

Aqui no Brasil, muitas pessoas tem curiosidade sobre o trabalho que você mantém em paralelo a vida de drag: a empresa de fabricação de caixões da sua família. Você poderia explicar, para quem acha impossível conciliar estas duas ocupações, como é o seu dia a dia em cada uma delas? Você tem algum episódio engraçado para compartilhar?

Como muitos de vocês sabem, Natalia Pliacam tem um negócio de vida após a morte e também é uma drag queen, mas você pode acreditar ou não que, por causa do fato de que eu estou no ramo funerário, isso faz com que as pessoas se lembrem ainda mais de mim. Não estou apenas no ramo funerário. Também tenho outros negócios, incluindo meu papel como consultor de marketing e relações públicas e, atualmente, como um aluno bolsista de pós-graduação na Câmara de Comércio da Universidade da Tailândia, que é a universidade de negócios líder número um na Tailândia. Minha vida é diversificada porque eu acredito que um ser humano deve ter uma história que temos que criar para nós mesmos. Para permitir que as pessoas aprendam diversamente, porque se o mundo tivesse apenas uma área da história, poderíamos não ver diversidade cultural, população ou dinâmica social, mas o que eu digo não significa que todos tenham que fazer isso. Assim dessa forma. Eu apenas gosto de variedade, desafio, mas acho que uma coisa que posso fazer melhor do que todas as pessoas que são drag queens no mundo é o negócio funerário, especialmente na Tailândia, onde nasceu a hashtag: “Não consegue respirar, chame a Natalia”.

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Se você pudesse formar um grupo pop de garotas com mais quatro drag queens, quais seriam as suas escolhidas e por qual motivo?

Eu terei que escolher todas drag queens tailandesas, mas quem são essas? A primeira que não vou esquecer é Jai Sira. Ela é minha boa amiga. Nós nos conhecemos há cerca de 20 anos e foi minha primeira amiga drag queen.

E o restante?

Ainda não posso responder agora, mas é claro que deve ter a vencedora da segunda temporada de Drag Race Thailand, Angele Anang.

Certo. Eu vi no seu Instagram que você canta. Nunca pensou em lançar um single?

Pensei nisso, mas há coisas que quero fazer ao longo do caminho.

Dearis Doll canta. Você gosta? Curte as músicas dela?

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Dearis Doll canta, você gosta? Ela faz bem o seu papel e é clara em seu caminho.

Eu escuto, mas não entendo nenhuma palavra das letras.

Sim, música tailandesa. Você pode dizer isso à Dearis, haha!

O que a vitória de uma drag queen plus size de descendência chinesa na primeira temporada de Drag Race Thailand representa para a comunidade gay asiática e o mundo no geral?

Gostaria de dizer que no primeiro momento em que decidi competir, não me vi representando asiáticos ou plus size. Mas eu me vejo como um ser humano que faz o que ama e o que amo gera bons sentimentos um pelo outro. Ser chinês de ascendência asiática, ser uma pessoa plus size, não me faz sentir separado do ser humano. Porque se eu realmente quero dividir o grupo, posso optar por não tentar responder aos fãs brasileiros, como você me pediu. Porque somos diferentes raças, diferentes línguas, diferentes culturas, mas porque não sou bom em inglês. Mas eu escolhi tentar responder de uma forma (eu tenho o Google) para mostrar que não importa a raça que você seja, nós podemos entregar coisas boas um ao outro.

Entendo perfeitamente.

Mas se me perguntar se tenho orgulho de ser tailandês, chinês e plus, a resposta é que sou muito orgulhoso e, claro, todo mundo tem uma história. Também estou orgulhosa do meu estilo.

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Sua apresentação na final de Drag Race Thailand é matadora: iluminação, coreografia e sua energia estavam todas alinhadas e acima da média. Quando exatamente você teve a ideia para esta performance? Ao assisti-la hoje em dia, o que passa pela sua cabeça?

Estou muito orgulhosa disso. Eu mesma criei o show. Que tipo de luz escolho usar? Eu escolhi um vestido, eu mesmo escolhi os gráficos. Eu fiz isso com minha mente. Mais do que orgulhosa de mim, passei por um problema muito grande antes da final. Apenas um dia antes me perguntaram sobre mudar a música para uma versão diferente que eu nunca tinha ouvido antes, por alguma razão técnica. O que eu fiz é que tive que pular esse problema. A equipe me perguntou como fazer isso, eu respondi que agora a única coisa que posso fazer é: “Eu confio em toda a minha equipe para saltar por esse problema. Vá!” E a conclusão, eu consegui fazer isso. Se eu pudesse voltar no tempo gostaria de ter uma foto com todo o staff como lembrança. Porque se naquele dia eu estivesse com raiva ou pressionada a manter o mesmo padrão, isso poderia afetar muitas listas e trabalhadores, só porque eu olho apenas para o meu próprio benefício. Esta forma de pensar eu aprecio por ser uma líder de torcida que aprendeu a estar em um time e entendo porque eu tenho que usar uma roupa de líder de torcida.

Eu sou brasileiro e você é tailandesa, mas foi drag que nos uniu, uma arte que não tem barreira linguística. O que mais drag, enquanto arte, é capaz de fazer e as pessoas não sabem?

O que podemos fazer, embora estejamos em um canto diferente do mundo hoje, é inovação mais criatividade, que é igual a passar adiante com desejo.

O que você conhece sobre o Brasil que nós brasileiros ficaríamos surpresos?

O que o brasileiro dificilmente saberá… o que eu acho é que quero estar em procissão. O Carnaval do Rio de Janeiro é empolgante e hipnotizante, e porque sou fã de concurso de beleza. O vestido de noite brasileiro é tão lindo, e enfim, se eu quiser um amigo homem, o brasileiro vai ter. Alguém gosta de mim que participei do Drag Race Thailand?

Eu estou completamente impressionado que você conhece o Carnaval brasileiro. Como isto aconteceu?

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Vi esse festival por fotos, programas de TV, documentários. Isso me impressionou. O traje, o movimento, desenho de dança. A diferença é muito emocionante.

Você conhece algum artista brasileiro, Pabllo Vittar?

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Uau! Você escuta “Amor de Que”. Isto é sério?

Oh, incrível!

Natalia, infelizmente, chegamos ao fim da nossa entrevista.

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Eu gostaria de adicionar uma pequena mensagem.

Vamos lá, rainha. Fale.

Obrigada pelo bom sentimento. Estamos disponíveis um para o outro.

Em português? Que gentil!

Sim. O google tradutor tem o português. Eu não tenho certeza se essa é a língua brasileira.

Nós falamos português mesmo. Por fim, obrigado pela oportunidade, Natalia. Desejo o melhor a você.

Meu inglês não é bom mas eu tentei por você.

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Sawatdi: a única palavra tailandesa que conheço. Eu tentei por você, minha rainha.

Siga Natalia Pliacam no Instagram, Facebook e Twitter.

Tradução das minhas perguntas: Thiago Paulo de Souza, estudante de letras da Unifesp/EFLCH.

Para ler outras entrevistas exclusivas do Who’s That Queen clique aqui.

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