No próximo dia 13 de outubro, completa-se seis anos exatos de exibição da primeira temporada do Academia de Drags, web reality show pioneiro, criado e dirigido pelo cineasta Alexandre Carvalho.
Apresentado por Silvetty Montilla e tendo como jurados fixos o estilista Alexandre Herchcovitch e o maquiador Cabral, esta competição apresentou, durante sete episódios, o trabalho de oito drag queens de diferentes estados brasileiros, como São Paulo (SP), Brasília (DF), Cascavel (PR), Dourados (MS) e Recife (PE).
No programa as drags tinham aulas com temas centrados em seu universo: maquiagem, moda, dança, humor, entre outros. Para as “alunas” ficarem com a lição na ponta da língua, jurados especiais como Alexia Twister, Marcia Pantera, Tchaka, Titi Muller e Grace Gianoukas compartilhavam suas experiências e, mais a frente, enquanto professores, faziam conselho de classe para decidir o destino das bichas, o que incluía a vencedora, as que seguiriam para a próxima semana e, claro, duas piores para a recuperação: uma dublagem.
No final das contas, a pernambucana Gysella Popovick venceu a primeira temporada do Academia de Drags e este feito é também importante por dois motivos: uma big girl abocanhou o principal título competitivo da nossa primeira tentativa de competição drag nos moldes que todos conhecem hoje. Sim, em 13 de outubro de 2014, data da estreia desta temporada, o Drag Race já estava em sua sexta edição americana e tendo exibido sua primeira temporada do formato All Stars.
Assista a primeira temporada completa de Academia de Drags aqui.
Quando me dei conta de que até hoje não temos um Drag Race tupiniquim e de que o Academia de Drags foi nossa tentativa mais próxima de levar drag ao mainstream, percebi que sim, caro leitor, nós precisamos voltar a falar de Academia de Drags. Temos que conversar sobre um show pautado na cultura LGBTQIA+ quando ninguém, até então, o havia feito por estas bandas do mundo onde o fascismo tem nos dado pauladas religiosamente.
Motivado para tal, fui em busca do elenco. Entrei em contato com cada uma delas para saber de suas carreiras, projetos, como tem sido trabalhar como drag e, principalmente, como elas foram marcadas pelo Academia e o que este projeto representa para elas, seis anos após tudo começar.
A primeira delas, que inicia esse especial dividido em partes, é a namoradinha do Brasil, vedete do Lula e garota-propaganda do comunismo. Ainda não sabe quem é, arrombadinhe?
“Meu nome é Rita Von Hunty. Além de drag queen, também sou esposa, mãe de dezesseis crianças e dona de lar. Lavo, passo, cozinho… eu disse COzinho, seu pervertidinho”, afirma em seu perfil no Youtube.
Paulistana com pouco tempo de carreira antes de entrar no Academia, Rita infelizmente não chegou a final, mas garantiu o quinto lugar e o posto de Miss Arrasa Bicha, equivalente a Miss Simpatia. Obteve um histórico bom, porém, após dublar, pela segunda vez, contra Yasmin Carraroh, foi eliminada, ao som de Lorena Simpson. Curiosamente, Lorena também é a cantora de Brand New Day, lip sync da estreia, em que Rita performou contra Laurie Blue. Neste momento, elas protagonizaram o primeiro duplo shantay da herstória do Academia.
Após sua passagem pelo programa, Rita cresceu e apareceu. Em 23 de abril de 2015, entrou no Youtube. Hoje em dia, seu canal, Tempero Drag, tem 651 mil inscritos. O que começou com receitas culinárias virou um grande negócio: o vídeo “Bíblia: a escritura sagrada”, com 809.000 views, é o mais assistido, e não estou mencionando outros que ultrapassam meio milhão de visualizações.
Em 2017, ao lado de Ikaro Kadoshi e Penelopy Jean, Rita tornou-se apresentadora de Drag Me As A Queen, o primeiro programa brasileiro apresentado somente por drags e no qual elas montam mulheres. Em paralelo a outros trabalhos, esta foi mais uma experiência que contribuiu para aumentar o monopólio online de Rita: no Instagram são 506 mil seguidores, número que a coloca entre as dez drag queens mais seguidas do Brasil.
Ciente de tudo isso e com o receio natural de falar com alguém que faz o meu QI se igualar ao de um peru, mandei uma carta em papel carbono endereçada a uma pensão cubana onde, dizem as boas e más línguas, Rita está infiltrada com “um bando de gente queer” tramando a mudança do design da bandeira do nosso país. Parece que ela será substituída por outra, em tons de vermelho sangue com uma estrela. Enquanto isso não acontece, confira a entrevista exclusiva dada a Draglicious:
Já se passaram quase seis anos desde a exibição do primeiro Academia de Drags. Quando você pensa nessa experiência, quais são seus três momentos favoritos na competição?