Hoje a coluna falará de alguém que você acha que conhece, a fênix. Não o ser mitológico, o cavaleiro do zodíaco ou a mutante. A nossa fênix foi vista na televisão, mas não, você não a conheceu de fato. Por isto ela é a estrela desta edição da Who’s That Queen?
O ano era 2011, dia 24 de janeiro. RuPaul’s Drag Race chegava a sua terceira e mais longa temporada até então. Entre as 13 drag queens do elenco, assim como acontecera na edição passada do programa, a segunda eliminada também é natural de Atlanta, Geórgia, neste caso, Phoenix. Anteriormente fora ninguém menos do que Nicole Paige Brooks.
Este pouco tempo de tela foi prejudicial para Phoenix por dois motivos principais: dos 16 episódios desta temporada, ela marcou presença apenas em quatro, destes, somente dois são competitivos, o que naturalmente dificultou para que o público pudesse compreendê-la, afinal, não houve tempo para que uma relação fosse construída, além de outros pormenores que surgiram no meio do caminho.
Logo no primeiro episódio, pouco é dito sobre Phoenix. Você descobre que ela tem 29 anos e Mariah Paris Balenciaga a conhecia antes do programa, o que é natural, visto que ambas nasceram em Atlanta e são as únicas representantes desta cidade na terceira temporada.
Em seguida, quando India Ferrah entra na sala de trabalho pela primeira vez, mal sabia ela que a eternidade a aguardava, como relembra Phoenix, sobre um acontecimento particular envolvendo as duas:
“Um momento no tempo que a India e eu nunca seremos capazes de escapar. Literalmente, ao longo dos anos, este acontecimento foi transformado em um milhão de gifs e memes diferentes. Todo mundo sempre quer saber: isso foi planejado? Absolutamente não. Era uma peruca popular na época. O couro patenteado e o look roqueiro, nenhuma pista, merda acontece… realmente foi apenas uma coincidência louca. Posso dizer, pelo menos para mim, eu realmente não estava prestando tanta atenção em nós duas “combinando” quando ela entrou. Claro, os produtores pegam isso e as meninas sozinhas e dizem: “Oh, meu Deus, e a Phoenix e a India andando com a mesma roupa”, e misturam essas reações junto com alguma edição e você tem magia de TV. Não foi tão intenso no momento, mas nos manteve em alta e você rindo ao longo dos anos. E nós não nos importamos com quem vestiu melhor porque foi há tanto tempo. Neste ponto, nenhuma de nós usaria isso hoje, por isso, realmente não importa”, disse, no Instagram, em 21 de dezembro de 2017.
Mais para a frente, depois de um mini desafio rápido com temática natalina, é mostrado um breve confronto com Venus D-Lite, que a acusa de plagiar o seu look. Antes do desafio principal, Phoenix é a segunda drag a falar com RuPaul sobre o que estava preparando para a passarela, na qual teria que mostrar uma roupa de alta costura feita com acessórios e materiais comprados com 50 dólares em um brechó.
No palco principal, o vidro quebrado, usado por Phoenix, recebeu elogios de RuPaul. É aqui que nós desmistificaremos o segundo fato da rápida passagem dela pela competição, em postagem da própria, no Instagram, em 25 de maio de 2017:
“Primeiro dia de RuPaul’s Drag Race, não tinha ideia do que esperar e esse desafio de brechó, natal, acontece. O engraçado é que este é o que eu fui acusada de copiar uma certa rainha porque eu vi algo brilhante, pareciam espelhos e eu usei… estávamos em lados opostos [na sala de trabalho]. Sem shade, acho que você faz o que tem que fazer quando você não está se sentindo confiante. Informação secreta: as peças da bola de natal que você vê no meu vestido é porque eu cortei meu dedo e elas estavam camuflando o sangue”.
No final do dia Phoenix estava salva e apta para competir no episódio três, “Queens in Space”, a sua despedida do grande público que a acompanhou na corrida. Neste desafio de atuação, vencido por Shangela com Alexis Mateo, o resultado não foi tão bom, o que lhe fez dublar contra Delta Work a música “Bad Romance”, de Lady Gaga.
“Estou limpando meu quarto de drag e abri uma caixa e lá estavam eles! Eram os sapatos que eu tinha quando fui expulsa de RuPaul’s Drag Race. Todo mundo sempre pergunta: “Garota, por que você tiraria seus sapatos?” Eles são muito mais altos do que fotografam, além disso eu os criei com arame e fita… basicamente eles são quase impossíveis de usar para performar. Foi tirá-los ou arrebentar minha bunda na TV internacional. De qualquer forma eu sabia que estava saindo”, disse, nas redes sociais, em seis de julho de 2018.
Ao relembrar destas memórias, Phoenix também confessa que sabia que era a vilã da temporada na época, mas isto não justifica os ataques que recebeu ao longo dos anos, sobre os quais ela é enfática: “É claro que eu não pareço a mesma ou agiria da mesma forma. Chama-se crescer. A maioria dos fãs de hoje, dez anos atrás, estava aprendendo o ABC. As pessoas realmente precisam assistir esse programa pelo que ele é, e se você ainda está julgando as pessoas de quase dez anos atrás, você realmente precisa ter uma vida”.
Finalizando o ciclo de Drag Race, Phoenix garante que assistiu sua temporada apenas uma vez, o que lhe deu crise de ansiedade e, por conta disto, nunca mais a viu em anos e anos: “No começo foi porque senti decepção comigo mesma e como as coisas terminaram, mas hoje é porque eu nem reconheço aquela pessoa e artista”. E complementa: “Tudo é tão diferente, mas é assim que deveria ser. Como pessoas devemos evoluir e crescer ao longo de nossos anos. Eu adoraria voltar ao programa como a pessoa e rainha que sou hoje”.
E atualmente, em março de 2021, quem é a Phoenix? Para entendê-la, temos que tirar toda a sua maquiagem, peruca, acessórios e roupas. Feito isto, nos concentramos em Brian Trapp, a pessoa por trás da rainha.
Nascido no dia 12 de dezembro de 1980, Brian criou sua drag por influência de Christian Leonardo, seu amigo fiel desde a época do colégio e que o apresentou à comunidade gay e ao mundo das drag queens, o que mudara drasticamente tudo que ele conhecia até então.
Anos depois, em 2001, aos 21 anos, Brian cria sua drag em homenagem a avó, mãe e irmã, as três mulheres mais importantes de sua vida. Sua avó ajudou o avô a administrar uma grande empresa e, não menos difícil, uma família também. A mãe é o elo de confiança e Tiffany Wheeling, a irmã, é uma mulher trabalhadora e esposa amorosa.
Saindo do seio familiar e indo para o campo da amizade e trabalho, não dá para falar de Phoenix sem citar Chris Tyler: “Aqueles que não sabem, Chris tem criado a maioria dos meus trajes por muitos anos. Sua criatividade é algo que mesmo depois de mais de uma década de amizade, ainda me deixa sem palavras”, diz.
Estilista, Chris ajudou Phoenix a criar a rainha que ela é hoje. Caso você não esteja associando o nome à pessoa, neste caso, a obra, ele fez os vestidos que Biqtch Puddin usou em sua coroação na segunda temporada de Dragula, além de também assinar o de Trinity The Tuck quando ela soube que havia vencido RuPaul’s Drag Race All Stars 4. LaLa Ri, da décima terceira temporada, também usa suas criações: “Este estilista tem mais talento em seu mindinho do que a maioria tem em todo o seu corpo”, acrescenta Phoenix.
Mais para a frente, em uma fase ainda bem anterior ao Drag Race, quando morava em Los Angeles, ela viveu uma experiência inovadora, que a ajudaria no futuro. Na companhia de Megan Brooks, que não faz mais drag atualmente, Phoenix gravou o reality show “Life is a Drag”, que acompanhava a rotina destas duas rainhas ao redor de Atlanta e Los Angeles: testes para chamadas de elenco, ensaios para shows, compras por Hollywood, o dia a dia delas em geral. Um projeto inovador para a época, mas não seria o único…
Em 2008, alguns produtores voaram para Atlanta. Eles procuravam drag queens para o elenco de RuPaul’s Drag Race. Phoenix foi sondada, porém, não participou desta primeira temporada. Semanas antes da estreia, ela recebeu uma ligação da equipe de produção com um pedido peculiar: que ela e, veja só, Megan Brooks, fizessem resenhas dos episódios, as quais seriam publicadas no site da Logo TV.
Neste ponto, o ano já é 2009 e as redes sociais não eram um terço do que são hoje em dia, então, Phoenix e sua parceira receberam um pacote que incluía DVDs de cada episódio, notas e uma câmera flip. O programa era uma novidade e ninguém, nesta época, fazia o que hoje chama-se de ruview.
A experiência, curta, fora interrompida obviamente pela participação de Phoenix na terceira temporada, justamente o que lhe fez conhecer Nova York pela primeira vez, para cumprir eventos de imprensa relacionados a promoção do show.
De lá pra cá, tudo mudou muito para a primeira Miss Chaparral de Atlanta. Mas e agora, como estão as coisas para Phoenix? É o que você descobre na entrevista logo abaixo, disponível na íntegra. Confira!
São inacreditáveis dez anos desde que a terceira temporada de RuPaul’s Drag foi ao ar. Após todo esse período, o programa se tornou uma febre mundial. Você estava lá no início de tudo, então, na sua opinião, quais são os três fatores que fizeram deste programa algo gigante?
Artistas drag são algumas das pessoas mais talentosas. Personalidades criativas, grandes e fortes e a transformação é fascinante. Essa combinação faz uma ótima TV.
Muitas pessoas não sabem que sua mãe drag é Nicole Paige Brooks. Se você pudesse passar algum conselho que ela lhe deu sobre drag para drags que agora estão começando na profissão, o que você diria?
Sim, anos atrás, Nicole foi uma das minhas mentoras, eu tive várias. Na verdade, considero Shawnna Brooks mais uma mãe e mentora para mim. Ela e eu temos um ótimo relacionamento pessoal e admiro seu estilo e sua arte mais do que qualquer pessoa.
Aqui no Brasil dizem que os lip syncs do programa são feitos duas vezes. Foi o que aconteceu quando você dublou contra a Delta Work?
Para ser sincera, não me lembro quantas vezes fizemos o lip sync. Tenho certeza de que fizemos isso várias vezes para fins de filmagem. Isso foi há muito tempo e tudo acontece bem rápido. A principal coisa que me lembro de nosso lip sync foram meus sapatos. Eu estava com sapatos muito altos e sem salto. Eu sabia que se eu os mantivesse, cairia na frente de todo mundo na TV internacional, então optei por tirar eles… o que provavelmente foi um erro. Mas também, eu sabia que iria para casa de qualquer maneira…
Pela minha contagem você começou a fazer drag em 2001, ou seja, são 20 anos de carreira. Como foram as últimas duas décadas para sua drag?
Tive uma fantástica carreira de drag. Trabalhei muito antes mesmo de entrar em Drag Race. Drag me permitiu fazer coisas que nunca sonhei. Já estive em filmes, revistas, livros, vários programas de TV. Foi um passeio muito divertido!
É inevitável perguntar: sete de suas 12 irmãs de temporada retornaram ao All Stars, que está em sua quinta edição. O que falta para vermos seu retorno ao programa? Sempre penso em tudo que não vimos de você na competição.
Eu adoraria fazer o All Stars porque mudei muito como artista e como pessoa desde então. Pense no quanto você mudou em 10 anos.