Se você nunca ouviu falar de Scranton, não tem problema algum. É desta cidade média-pequena, no estado da Pensilvânia – onde pessoas trans não podem servir nas forças armadas e terapia de conversão em menores de idade acontece em certos locais – que vem a próxima entrevistada do Who’s That Queen?
Ela é conhecida como uma dona de casa celebridade internacional e por sempre ter tempo para um coquetel:
“Senhora Kasha Davis é uma dama. Qualquer um pode ser uma garota, mas tem que ter muitas bolas pra ser uma dama”.
Antes de criar Mrs. Kasha Davis, Ed Popil, a pessoa por trás da personagem, formou-se em teatro na Universidade Marywood e trabalhou, por 18 anos, como diretor, na Dial America, empresa de call center.
No campo familiar, Kasha divide-se entre duas famílias: uma com Steven Levins, seu marido, com o qual cria duas filhas; a outra com sua falecida drag-mother, Naomi Kane, o que a torna drag sister de Darienne Lake, RuGirl da sexta temporada, e tia de Pandora Boxx, da S2.
Atualmente Kasha está radicada em Rochester, Nova York. Foi neste local que, 16 anos atrás, sua drag foi criada. Kasha é homenagem para seu primeiro cachorro, um poodle branco. Davis é uma rua de Michigan. Junto ao parceiro, Davis, anos atrás Kasha assistiu um show de Miss Richfield 1981, no qual ela contava histórias bem-humoradas e cantava. Neste momento, ela percebeu como seria sua persona drag.
No dia dois de março de 2015, a grande reviravolta: estreia de RuPaul’s Drag Race Season 7. Eliminada na quarta semana pela latina Kandy Ho, Kasha soube aproveitar a oportunidade. Resultado? Can I Get An Amen, clássico de RuPaul, ganhou versão dela inclusa no álbum RuPaul Presents CoverGurlz 2, lançado em fevereiro de 2015. Cocktail, seu primeiro single, composto por ela mesma, Mr. Davis, Michelle Taylor e Danny Hoskins, estreou em março do mesmo ano.
Ainda em 2015, em parceria com Adam Barta, Kasha divide os créditos da composição de Seasoned Queen, música lançada em novembro, junto ao videoclipe oficial. Dois anos depois, em dezembro de 2017, Kasha repete a dobradinha com Adam e participa, junto com Eureka O’Hara e Kennedy Davenport, da faixa natalina One Last Christmas Card. Basic, escrita por Joseph Adam Hodges, chegou às plataformas digitais em abril de 2018 e encerra sua discografia até o momento.
Depois de tudo isto, será que valeu a pena deixar o emprego formal para viver full time in drag e substituir shows parcos, aqui e ali, por turnês mundiais com plateias sedentas? Abra sua caixa de vinho e descubra agora mesmo com esta entrevista exclusiva dada para a Draglicious:
Kasha, você nasceu na Pensilvânia. Como é a cena drag de lá?
Eu nasci em Scranton (PA) e menino, oh menino, foi um tempo diferente em relação às pessoas estarem confortáveis em ser gay. Era muito um segredo para qualquer um quem era gay e todos fingiam ser heterossexuais. No primeiro bar gay que fui lá cheguei com minha então esposa e estava literalmente tremendo. Ela me perguntou por que eu estava tão nervoso! Foi porque não só eu era gay, mas a “cena” não era como eu me via vivendo e eu estava com medo. Hoje as coisas em Scranton são melhores, mas em geral não é um lugar que eu corro de volta para visitar.
Quantos anos de carreira drag? Em todo esse tempo, o que você acha que contribuiu para fazer essa arte chegar ao mainstream?
Comecei oficialmente a fazer drag em 2004. Eu digo oficialmente porque eu estava sempre muito intrigado por celebridades femininas e o que as mulheres vestiam! Eu costumava experimentar o sutiã acolchoado da minha mãe e batom em segredo e os vestidos da minha esposa. Eu fiz um papel em uma peça de uma bruxa e foi o meu primeiro encontro em drag e EU AMEI. Me lembro de ouvir ‘Cover Girl’ da RuPaul e meu tio dizendo: “Isso não é uma mulher” e eu estava fascinado. Nós cantamos ‘Shante shante shante’ e sacudimos nossas botas para a música. Quando eu comecei a fazer drag foi a tempo parcial e me permitiu realizar meus desejos de teatro depois do meu trabalho de dia e eu amei muito, porque eu estava no comando de tudo! O som, a personagem, a música, a dança, TUDO era eu e o Senhor Davis, claro. Ele está sempre ao meu lado. Drag indo para o mainstream agora é incrível, porque para mim como uma criança não havia espaço para ser gay, diferente, questionamento de gênero… nada disso. Se de fato foi discutido, foi perverso ou doente. Hoje estamos encorajando crianças de todas as idades a aceitar e amar seu eu genuíno com esta forma de arte e sendo tão popular é verdadeiramente fantástico.
Você tentou entrar em RuPaul’s Drag Race 7 vezes. O que você fez de diferente para conseguir na sétima tentativa?
Meus erros foram que eu estava tentando dar a eles o que eles queriam, em vez de ser verdadeiro comigo mesmo e com Kasha. Quando filmamos, se o Sr. Davis e eu pensávamos que eu estava tentando muito ser alguém diferente, nós faríamos outra tomada até que parecesse verdadeiramente genuíno.
Qual foi o conselho que Naomi Kane, sua mãe drag lhe deu e que você levou para a vida?
“KASHA, VOCÊ É UMA DRAAAAAG QUEEEN, não tente ser uma supermodelo” e “Sempre use unhas!”.
Naomi também cuidou de todo o nosso grupo de rainhas e fez com que cada uma de nós se sentisse como uma estrela que deveria brilhar nossa luz.
Basic é o nome do seu terceiro single. Dois anos após o lançamento, como você vê essa música?
Cada uma das canções que gravei foram feitas para gozar com as críticas que as pessoas fizeram de mim. Cocktail, Seasoned Queen e Basic são canções divertidas e simples e o Senhor Davis fez os vídeos para Cocktail e Basic e isso me deixa orgulhoso. Nunca nos levamos muito a sério. Mais recentemente eu estou trabalhando em música para o meu tempo de História com Criança e cada uma dessas músicas eu escrevi as letras e Andy Pratt, meu amigo e acompanhante, escreve a música. Estas canções tocam o meu coração.