Com o Ruverso em constante processo de expansão, é natural que os reinos ora conquistados por RuPaul’s Drag Race passem a caminhar sozinhos. É o caso de Drag Race Holland, cuja segunda temporada estreara no último dia seis de agosto, sexta-feira. Do elenco formado por dez drag queens, uma delas é a protagonista desta edição da coluna de hoje.
Responsável por abrir a competição, ela dá o tom logo de cara, nos minutos iniciais do primeiro episódio, intitulado como Who’s That Queen? “Qual é, segunda temporada? É Reggy B na sua área”. E diz mais: “Como você gosta disso?”, pergunta, ao entrar, e faz ruveal em seguida.
Drag criada por Bram Louts, um holandês nascido em 20 de abril de 1996, na cidade de Leidschendam, Reggy deu seus primeiros passos em 2018 e, tempos depois, é alçada à fama mundial neste spin-off europeu do programa de RuPaul.
“Sou a primeira. Meu nome é Reggy B, tenho 25 anos. Sou rainha há três anos. Tenho certeza de que posso reivindicar meu espaço agora”, conta. Em seguida, ao sentar-se em uma mesa, mostra-se espirituosa: “Assim como todos os homens em Amsterdã, quando eu sento nele, é meu”.
Atenta a suas concorrentes enquanto elas se desmontavam, Reggy comenta que o homem mais bonito fora do drag é My Little Puny, o que é interessante de destacar porque ambas se conheciam antes desta experiência. O mesmo vale para o que vem em seguida.
Quando Fred passa para conversar com as rainhas, Reggy está com Ivy-Elyse Monroe, irmã drag de Miss Abby OMG, por sua vez, a mãe drag de… Reggy. Neste momento ela compartilha esta informação com o apresentador e também revela: “Abby não sabe que estou aqui e pode ficar com raiva porque eu não contei à ela”.
Em seguida, Fred questiona sobre o Talent Show, desafio principal desta primeira semana competitiva, e Reggy conta que escreveu uma música, um rap sobre garotas que não lhe querem ver em saltos altos. O resultado de sua escolha seria conhecido no dia seguinte, o segundo de Drag Race Holland, que ainda guardava a passarela, com o tema Nightlife Extravaganza (extravagância da vida noturna).
“Meu visual é inspirado pela cena Club Kid de Amsterdã. Eles são uma das maiores origens de inspiração para minha carreira drag e estou muito feliz em apresentar esse look na passarela”, argumenta Reggy sobre o que Fred descreveu como ‘alumínio mortal’.
Na sequência, Carlo Boszhard, cantor e apresentador que cumpre papel de jurado rotativo, ajuda a definir o futuro de Reggy no jogo: “Eu acho que você sabe o que você quer, mas no momento em que você está olhando para nós, você também está evitando seus olhos um pouco. Posso dizer que há alguma insegurança”.
Depois dele, Marieke Samallo, apenas a criadora do Milkshake Festival, evento no qual Reggy se apresentou em 2019, decreta. “Achei que era enérgico e divertido. O que eu não gostei foi quando você se virou e nos mostrou a calcinha um pouco larga”.
Carlo prossegue ao assumir que tem um ponto fraco por esta drag e Fred ressalta que a maquiagem dela estava terrível porque não conseguia dizer quem era e a peruca você poderia comprar no Walmart por 20 dólares.
“Reggy, você sabe que eu adoro o visual, eu odeio a peruca e você tem que mudar sua maquiagem, mas você é uma rainha faminta”. Dito isto, minutos depois, a dublagem pela vida se fizera inevitável e ela enfrentou Juicy Kutoure ao som de Physical, de Dua Lipa, eliminando sua amiga e irmã drag.
No Instagram, dois dias depois, em oito de agosto, Reggy publicou uma foto do seu primeiro look de passarela e creditou a Fred o cabelo usado, além de complementar o shady com: “[peruca] comprada na loja de festas da cidade”.
Apesar de ter inaugurado o bottom dois, o saldo ainda pode ser considerado positivo, pois a performance de Reggy no show de talentos rendeu o seu primeiro single, Petty, lançado oficialmente nas plataformas digitais no dia 20 de agosto. Ao lado disto, o apoio dos amigos, como Patty Pam-Pam – da primeira temporada, que inclusive fez sua roupa do material promocional que apresentou as novas Rugirls -, contou e a ajudou bastante para o que viria pela frente, o segundo episódio, Ooh, I Got Sunburned!
“Juice, eu te amo, mas esse é o meu tempo e eu vou ficar e nunca vou embora”, Reggy pontua para depois apagar a mensagem dela do espelho. Tensão superada, é hora do mini-desafio, uma sessão de fotos na bicicleta. “E agora eu tenho que sentar em uma bicicleta com as minhas bolas no estômago”.
O comentário acima, leve e divertido, rapidamente seria substituído por uma certa preocupação, afinal, com o tema Glamping Couture, o desafio é confeccionar uma roupa com materiais não convencionais. Como se não fosse suficiente, uma bolsa deveria ser feita para complementar.
No decorrer deste segundo episódio, transmitido em 13 de agosto, outros momentos, não os de tensão pelo medo de costurar, ganham destaque e naturalmente recebem menção honrosa por aqui, como quando Ivy notou algo na mão esquerda de Reggy, ao que sua irmã prontamente explicou que tinha um polegar extra e o operou.
Segundo seu relato, os médicos disseram que não poderia fazer esportes ou dançar, por exemplo. Sabemos que a superação aconteceu, não é? Coisa típica da comunidade LGBTQIA+, sigla que Reggy não conseguia soletrar de jeito nenhum em depoimento fora do drag. Um instante leve que não poderia deter a força do que tem que acontecer.
Para o desafio principal, esta Rugirl obviamente teve problemas com a máquina de costura, o pedal para ser mais específico. Junto ao fato de que não tinha experiência como costureira, tornaria tudo mais difícil para Reggy, não? Sim.
Como Sleepy B ela defende seu traje: “Essa garota acabou de acordar do seu sono de beleza e está desfilando seu look ‘fora da cama’ na passarela porque ela acordou assim”. O que era para ser de um jeito, saiu de outro, porque seu salto quebrou: “A pior coisa que pode acontecer no palco principal de Drag Race é o seu salto quebrar”, afirma. O que os jurados achariam disto?
Carlo Boszhard: “Achei que o seu desempenho foi ótimo! O sonambulismo, essa foi uma boa escolha, e então deu errado, você quebrou o salto. E você não pensou, ‘Não, pare, meu salto’! Nenhum dano causado. Seu desempenho foi bom”.
Soundos El Ahmadi, atriz e jurada convidada, pensa um pouco diferente de Carlo. “Sim, achei que foi maravilhoso, mas a roupa parece um pouco quando minha filha troca as roupas das suas Barbies e elas estão usando a roupa errada”.
Finalizando as críticas de Reggy, Fred relembra que a rainha esteve na dublagem da semana passada. “Sim, na semana passada eu tive que fazer o lip sync para me salvar, mas essa é a Reggy B e ela merece estar aqui. E se eu tiver que dublar vou precisar de um salto novo porque esse ainda está quebrado, mas eu sou uma artista, então deixa rolar!”
Infelizmente, o discurso de Reggy não funcionou 100%, porque Carlo comenta que ela é incrivelmente espumante, personalidade jovem, e que por isso talvez não tenha desenvolvido todos os seus talentos ainda. “Temos que ser honestos sobre isso porque a roupa dela não era boa o suficiente”, pondera.
A situação passa a mostrar-se desconfortável quando Fred compartilha a dificuldade para tomar uma decisão sobre uma drag tão adorável, entretanto, mais um lip sync pela vida se confirmava, como as palavras de Fred davam a entender.
“Reggy, você é uma rainha com muita fome, você continuou depois do salto quebrar e é por isso que você está usando essa linda bota rosa patenteada, mas o seu visual não era bom”. E como tal, fora responsável por sua dublagem de Don’t Leave me This Way, de Thelma Houston, contra Ivy-Elyse.
Profético, o título desta canção, que pode ser traduzida como “Não me Deixe Assim”, realmente foi a trilha-sonora dos últimos suspiros de Reggy, que não saiu de cena murcha: “Bem, isso foi um ótimo show. Eu cobro de você, Fred?”
Por fim, Drag Race Holland chegou ao fim para Reggy da seguinte forma: “Estou triste por sair tão cedo assim. Esse é o maior sonho que eu já realizei, mas o mundo é meu agora mesmo. Reggy B na sua área. Sempre estarei na sua área e você ainda não se livrou de mim”.
Mentindo ela não está, Dragliciosa, até mesmo porque, logo abaixo você lê, na íntegra, a nossa entrevista. Confira!
Muitas pessoas não conhecem o ser humano por trás da rainha, então eu gostaria de começar esta entrevista fazendo a você a seguinte pergunta, Reggy B: como foi crescer como uma pessoa LGBTQIA + em Leidschendam?
Foi bom crescer em Leidschendam. Não tive problemas na cidade. Desde o ensino fundamental até a academia musical, sempre tive apoio sobre minha sexualidade. Minha família era ótima e ficava literalmente tipo: “Seja o que for, se você está se sentindo assim, faça o que quiser”. Crescer gay com minha família e as escolas que frequentei é o exemplo perfeito de como deveria ser para todos. É por isso que sempre me sinto tão mal e triste quando ouço aquelas histórias que não são como as minhas. Ainda não consigo acreditar que ser queer é um problema.
Quando você se mudou para Amsterdã?
Me mudei para Amsterdã quando tinha 21 anos pois minha Amsterdã era o lugar para estar. Para o trabalho, mas também para o estilo de vida. Minha vida mudou completamente quando me mudei para cá e não me arrependo de nada.
A história da sua drag começa com Miss Abby OMG. Se vocês não tivessem se conhecido, sua drag existiria hoje?
Eu conheci Abby porque eu costumava ser uma dançarina reserva para ela (fora do drag). Eu sempre fiquei hipnotizada sobre o estilo de vida das drag queens, então isso fez com que algo em mim começasse a querer fazer drag. Eu só pensei que não era talentosa o suficiente para entregar isso. Quando fiz o teste para a versão holandesa do Kinky Boots, tive que estar montada no segundo dia de audição. Peguei algumas roupas emprestadas da Abby e fiz uma chamada de FaceTime para ela semanas antes, enquanto praticava minha maquiagem. Quando recebi a ligação que não fiz para o show, Abby me convidou para uma performance dela e o resto é história.
O que ela te ensinou sobre o Brasil?
Abby fala português às vezes com amigos quando estou com ela.