Diva Houston é uma drag queen pioneira, responsável por colocar o nome do Brasil na rota mundial de RuPaul’s Drag Race, afinal, ela foi uma das 15 participantes de The Switch Drag Race: Desafío Mundial, primeira versão da celebrizada franquia americana, cuja estreia ocorrera em 25 de março de 2018, através da rede de televisão chilena Mega.
Nesta segunda temporada deste reality show, Diva registrou um histórico curioso: apesar de ter levado Sashay Away no episódio 12 (semana quatro), retorna à competição no episódio 22 (semana oito) para, enfim, ser eliminada na última semifinal do programa, o que lhe garantiu um honroso sexto lugar.
Mas tudo isto aconteceu há mais de três anos e, caso você não tenha acompanhado a competição, deve estar se perguntando: who’s that queen? Não tem problema nenhum o questionamento. Eu te conto no próximo parágrafo. Sigam-me os bons.
Em 1998, ao apresentar-se pela primeira vez como drag, Felipe Marques percebeu que não havia decidido por um nome artístico ainda. Na dúvida, optou por Débora. Após sua performance, um jornalista fotográfico da revista Playboy brasileira, que cobria a coluna social desta revista, só sabia lhe dizer uma única palavra: diva. Felipe incrementou o adjetivo com o sobrenome Houston, de sua grande inspiração artística, Whitney Houston, e sua persona drag nasceu.
Original de São Paulo, capital, Felipe nasceu em 1979. Aos 19 anos, este virginiano inicia sua carreira, cuja qual já caminha para seu 23° ano. Nestas mais de duas décadas, Diva apresentou-se em lugares como Ibiza, Alemanha, Coreia do Sul, Egito, França, Holanda, Inglaterra, Itália, México, Portugal, Rússia, Cingapura, Chile e a maioria dos países da União Europeia.
O passaporte recheado de Felipe ganharia um carimbo especial em 2002, quando ele tinha 23 anos e se mudou para Madrid, Espanha, local no qual vive até hoje.
“No Brasil eu não conseguia alavancar minha carreira e além disso sempre sonhei em conhecer o mundo. Acho que a força da minha vontade, tanto em ter sucesso como drag e de viajar pelo mundo, fizeram que isso acontecesse. E foi maravilhoso”, afirma sobre viver em outro país. E acrescenta: “Não me davam chance de mostrar meu trabalho, de crescer. Quando vim pra fora do Brasil foi totalmente o contrário. As portas se abriram todas pra mim”.
E é de lá, da capital espanhola, que Diva Houston me concedeu a entrevista disponível logo abaixo, feita em duas rodadas. Nela focamos em dois assuntos que, tanto minha entrevistada quanto eu, adoramos: o The Switch Drag Race: Desafío Mundial, e música, claro. Confira!
Em 1998 eu tinha oito anos e você começou a se montar. Nesses 22 anos de carreira, qual foi o momento no qual você pensou: “Realmente, eu não posso desistir mesmo”?
Acho que nunca tive esse pensamento. No Brasil foi bem difícil, não tive oportunidade de mostrar meu trabalho como eu queria. Mesmo assim minha vontade de brilhar sempre foi grande e esse foi sempre meu motor de incentivo. E já que no Brasil eu não pude brilhar, eu tive que ir atrás do que eu queria e consegui brilhar para o mundo.
Você foi a primeira brasileira a estrelar uma versão de RuPaul’s Drag Race, seguida por Miss Abby OMG e, fora deste universo, Catherrine Lecrery, no Queen of Drags, e Rhubarb Rouge no House of Drags. O Brasil é uma “potência” a ser considerada em reality shows competitivos de drag?
Vou ser bem sincera, ando muito desconectada do momento atual da cena drag no Brasil e em geral. Acho que antes sim tínhamos muito talento genuíno, hoje, após o RPDR, em qualquer país, se vê muita similaridade nas artistas. Por isso, não penso que seja uma questão de país, e sim de talento. Se essas garotas puderam participar nesses reality shows, foi porque elas tinham talento e foram selecionadas por isso.
Passados mais de dois anos do fim de The Switch Drag Race: Desafío Mundial, os frutos gerados pelo programa ainda influenciam no seu trabalho?
Na verdade são 4 anos desde que gravamos o programa, mas só foi ao ar em 2018. Houve sim uma boa exposição desde que foi exibido. Muitas pessoas passaram a ser meus fãs e admirar meu trabalho. Uma prova disso é o meu perfil do Instagram, que pulou de pouco mais de 3.000 seguidores para 45 mil. Pouco antes da final, eu voltei ao Chile e pude fazer alguns eventos muito bacanas. Porém, fora do Chile, em relação a trabalho e eventos, não houve tanta repercussão.
Se você pudesse dar um conselho para a Diva Houston que estava no primeiro dia de gravações do programa, qual seria? A Diva de hoje aconselhando a Diva de outrora.
Eu devia ter sido mais competitiva, mais mente aberta e ter me preparado melhor. Às vezes tenho mania de perseguição e fico procurando e analisando todos os detalhes.
Você acha mesmo que a Gia Gunn devia ter participado do The Switch Drag Race: Desafío Mundial?
Por que não?
Não é estranho ela ficar em segundo lugar em uma competição de canto?
Ela é ótima pessoa. Bom, não é que ela não cantava bem. O canto era só um dos requisitos. Mas Gia deu um show em outros aspectos: de looks, presença, etc. Eu aprendi muito com ela e de amizade ela foi incrível comigo.
Você segue mantendo contado com as drags do elenco da sua temporada?
Tive uma amizade maravilhosa com todas. Com a Pavel, Leona, Rochelle, inclusive Kandy [Ho]. Com a Pavel e a Leona éramos inseparáveis. Fazíamos reuniões nos nossos apartamentos. Com Rochelle tive muitas conversas, é uma pessoa incrível! A Marie também, muito divertida! A Kandy é um amorzinho!
Me conta algo que aconteceu durante as gravações e ninguém sabe? Um fato engraçado.
Aí agora você me pegou. Já faz tempo.
Sou jornalista dos bons, rainha.
Eu sei. Tô tentando lembrar algo. Teve um episódio, num final de semana que saímos pra nos divertir. Na volta pro hotel estávamos morrendo de fome. Em frente tinha um McDonald’s 24 horas, porém, estava em um horário que eles paravam pra fazer limpeza. Já estávamos indo embora quando um dos funcionários, que sabia quem éramos, gritou pra nós. Ele abriu a loja e deu um monte de batata frita de graça pra gente. Rimos muito e foi como água no deserto.
História ótima! Quem estava com você?
Éramos quatro: Pavel, Marie, Rochelle e eu.
Você ficou surpresa ao ser eliminada pela segunda vez? Achou que era sua hora?
Bom, eu saí um capítulo antes da final. Eu imaginava que na final eu não chegaria. Eu sabia que não ia ganhar.
Por que você acha isso?
Porque eles avaliavam um artista integral. E eu tinha minhas debilidades, como à dança coreografada. No canto não me desenvolvi muito bem. Eu ficava muito apreensiva e tendo na hora que cantar. Em vez de escutar a música e desfrutar, eu ficava prestando atenção em todos os detalhes da minha voz. Isso me distraia e me descontrolava.
Entendo perfeitamente. Você ter consciência disso é ótimo.
Além do que, a Pavel e a Leona arrasam no canto.
Quem você queria que ganhasse o programa?
Eu queria que fosse a Pavel ou a Leona, porém, eu sabia que ia ser a Leona, eu pressentia.
Compreendo. Bom, com o fim do reality, fica o registro para a vida toda.
Fiz grandes amigos lá. Um dos cabeleireiros do programa, que também é drag, é ótimo por sinal, virou um grande amigo meu.
Qual o nome dela?
Sofia Es Fluor. Você vai ficar chocado com a beleza e o talento. Amor puro por ele/ela.
The Switch Drag Race infelizmente não terá uma terceira temporada. Por qual motivo ela tem obrigação de existir, Diva?