Em 20 de junho rolou uma reunião via plataforma Twitch, que é para transmissões vídeo, chamada Chicago Black Drag Council. Na conferência as rainhas pretas de Chicago falaram da dificuldade que é para uma drag queen racializada e trans trabalhar na cidade.
Shea Coulee era uma das pessoas presentes na videoconferência e aproveitou para apontar o comportamento racista e problemático de Trannika Rex (TRex) contra ela e suas filhas drags. TRex é uma importante drag queen branca da cena de Chicago, sendo responsável por vários shows e eventos drags da cidade. Neste encontro virtual as rainhas fizeram várias demandas para Trannika Rex, que caso não cumprisse, não voltariam a trabalhar com ela. Dentre os pedidos elas exigiam ser tratadas com respeito, fazerem parte das decisões do show, assim como receber cachês justos igual aos das drags brancas, dentre outros pedidos.
O racismo de TREX contra SHEA COULEE
Shea comentou que certa vez durante a celebração do Mês do Orgulho Negro nos EUA, que ocorre em fevereiro, TRex fez uma péssima piada sobre Coulee fazer uma performance caracterizada como escrava para a música “Slave 4 U” [escravizada por você] da Britney Spears. Shea afirmou que isso a marcou por muito tempo e a deixou decepcionada com Trannika. Pois até então a considerava uma amiga, mas após tal episódio em que praticamente teve que implorar pelas desculpas de sua “patroa”, Coulee percebeu a forma racista como ela tratava pessoas pretas.
Durante os shows em que Shea se apresentava regularmente, ela tinha que fazer até três apresentações por noite, enquanto as demais rainhas apenas dois, e no fim todas recebiam o mesmo cachê. Em certa ocasião durante uma rápida troca de figurino Shea precisava de apenas 30 segundos para terminar de se aprontar para outra performance e Trannika não se importou e anunciou a rainha mesmo assim, deixando Shea abalada. Após tal sabotagem a RuGirl ainda teve que ouvir a péssima piada “Você tem apenas um trabalho” que seria se apresentar. Rex continuou dizendo “vamos conversar em meu escritório, pois eu sou a única pessoa aqui que segura o microfone”.
Após este fato, as duas foram conversar e Shea disse que não aguentava mais ser maltratada e receber tratamento diferenciado das demais drags. Consequentemente, TRex colocou Shea numa “lista negra”, impedindo-a de trabalhar na cena drag de Chicago. Tudo mudou após Couleé entrar em RuPaul’s Drag Race, mas aí o alvo de Trannika passou a ser as filhas drags de Shea, que passaram a ser atacadas e tinham seu trabalho dificultado pela racista, o que atingia diretamente Couleé. O relato da rainha pode ser visto a seguir.
Continuando Shea diz que ela achou que as coisas mudariam após ela participar de #DragRace, mas aí TRex passou a perseguir suas filhas drag, e isso foi uma forma de continuar atacando-a. Shea concluiu dizendo que espera que TRex reconheça o erro e melhorepic.twitter.com/dgGS881nbp
— Draglicious | draglicious.com.br #dragrace (@dragliciouz) June 23, 2020
Shea Coulee não foi a única a expor a o racismo e perseguição de TRex. Outras drags acusaram-na de dar espaço e oportunidade apenas a rainhas brancas, exceto RuGirls. As poucas negras, asiáticas ou latinas que se apresentavam nos shows de Trannika recebiam muito menos que as drags brancas. Além disso elas sofriam microagressões, exposições e humilhações públicas.
Após tamanha exposição, TRex postou um longo texto em seu Instagram se comprometendo em mudar a forma que realiza seus shows, cedendo espaço a artistas negros e não sendo a mais a única a tomar as decisões em seus eventos, além de rever todo seu comportamento problemático.