Pablo Carayani Camará nasceu em primeiro de março de 1991 no município de San Antonio de Padua de la Concordia, conhecido como Concordia, um local situado na província de Entre Ríos, na Argentina. Caçula de três irmãos, aos cinco anos de idade, guiado por sua curiosidade infantil, começa a descobrir os vestuários e peças da família, um caminho sem volta.
Criança LGBTQIA+, Pablo inevitavelmente conhecera a homofobia desde os primórdios de sua vida, seja pelos olhares de censura da população de sua pequena cidade ou pelo bullying escolar, um pranto se acumulou ao ponto dele cogitar o suicídio. A válvula de escape de sua infância era a arte, concretizada através de aulas de dança em paralelo a educação formal, além da feitura de diversos cursos que vão do teatro ao canto.
Se por um lado a mente de Pablo estava ocupada aprendendo e explorando novos caminhos, por outro ela teria que se mostrar madura antes do tempo para enfrentar o divórcio de seus pais, fator decisivo para um relacionamento que passara a acontecer à distância, mas que não lhe impediu de receber validação e amor, afinal, seu pai e sua mãe nunca o impediram de ser ele mesmo e ambos representam dois dos principais incentivadores de sua carreira artística.
E esta proximidade fora testada ainda durante os primeiros anos de vida de Pablo. Diagnosticado com uma doença cardíaca aos 30 anos, seu pai teve que utilizar uma válvula que antecedeu um transplante de coração. Após a cirurgia, o laudo médico apontou que ele poderia viver mais uma década, entretanto, ela virou duas até, infelizmente, seu falecimento. Mas antes disto Pablo ainda colecionaria outras histórias dignas de novela.
Em 2005, ele finalmente terminou de criar aquela que hoje é sua grande criação: Sofía Camará, a musa por trás do bordão “Sabélo” que trabalha com cinema, teatro, televisão e rádio. Ao concebê-la, imaginou a mistura de três figuras diferentes: uma diva dramática da Hollywood antiga, uma estrela e uma Miss Universo.
O nome Sofía vem da empresa na qual trabalhava e onde era conhecida como “Sofis”, de sofisticada. Cada empregado tinha um epíteto caso o chefe não lembrasse como você se chamava. O sobrenome é de sua mãe e representa um tributo ao feminino. E sua persona drag estava prestes a sair do campo da imaginação.
Formado no ensino médio e munido de diversas formações que lhe seriam úteis, Pablo se radica em Buenos Aires no dia dois de fevereiro de 2007. É nesse instante que, mais do começar a levar a sério drag, ele passa a abraçar todo o universo que tivera que reprimir quando era criança. Já em 2009 crava uma participação no concurso Miss Drag Buenos Aires, um mundo que passaria a ser sua companhia.
Com mais de oito títulos vencidos em competições e mais de meia dúzia de participações em reality shows, Sofía participou da primeira e segunda temporadas de The Switch Drag Race. Moradora do Chile depois que seu pai faleceu, é neste país que Sofía pôde evoluir mais como pessoa e profissional.
Durante a edição inaugural de The Switch, chamada também de El Arte Del Transformismo, Sofía foi além de ganhar quatro vezes. Ela eternizou memes e bordões (tenho o talento de esmagar cada uma de vocês com o meu salto agulha, #sabélo), protagonizou discussões memoráveis com Gia Gunn e, melhor do que isto, entrou nos lares de milhares de chilenos mostrando o que é a arte do drag, ou, vá lá, transformismo.
Uma curiosidade sobre o ano de 2015 para Sofía é que é o mesmo ano onde ela foi rainha gay internacional da escola de samba carioca Império Serrano. Nada de anormal para quem atuou no mesmo posto no carnaval da cidade de Concordia, em 2014, sendo o primeiro ator transformista a ser rainha de escola de samba da Argentina.
Hoje em dia, dividida entre uma agenda padrão e os afazeres de sua própria empresa, a Taco Aguja, especializada em serviço e assessoramento de imagem pessoal, Sofía vive a plenitude de seus 16 anos como rainha, todavia, sempre atenta ao que o público e a imprensa pedem. Sendo assim, você pode ler logo abaixo, na íntegra, nossa entrevista. Confira!
Passaram-se pouco mais de cinco anos desde a primeira temporada de The Switch Drag Race: El Arte Del Transformismo. Quando você se vê lá, o que se passa na sua cabeça? Qual é a diferença entre a Sofía de hoje e a Sofía da época?
Quando me vejo lembro de cada cena e passo na minha cabeça, observo, admiro, critico e evoluo para a minha realidade atual. A diferença entre aquela Sofía e aquela em que me tornei hoje é a aprendizagem, a experiência e o trabalho.
Como você acabou no elenco da segunda temporada de The Switch Drag Race: Desafío Mundial? O que a motivou para voltar à competição?
Terminei excelente porque todos sabiam que eu ia trabalhar, não para fazer amigos, se fosse bem-vinda. Me preparei toda a minha vida para fazer o que faço. Não me motivou nada em particular, eu praticamente não tive opção. Sempre soube que era a referência sul-americana escolhida para representar antes da competição mundial. Nunca fui uma opção, mas sim uma prioridade, portanto, como Argentina fui a única finalista em ambas as temporadas.
Quais são, em ordem de preferência, suas três apresentações favoritas na segunda temporada de The Switch?
Se eles não tivessem me proibido de cantar minha última música seria My Way para minha final, que acabaram dando para Leona. Tirando isso seria minha semifinal com Balada de Trompeta, Como Toda Mujer e Hay que Venir al Sur.
Se você pudesse formar um grupo pop de garotas com mais quatro drag queens, quem você escolheria e por que motivo?
Eu escolheria quatro internacionais como Alyssa Edwards, Violet Chachki, Laganja Estranja e Trinity The Tuck porque as considero técnicas, estéticas e eficazes.
Quais são as principais diferenças nas cenas drag da Argentina e Chile?