Olá, família tradicional brasileira! O TNT retorna para seu oitavo e penúltimo episódio, sim, já estamos na reta final. No oitavo episódio fomos surpreendidos com o Sofá da Perua, o programa de entrevista onde as participantes tiveram de mostrar todo seu talento de imitador para incorporar um famoso e responder as questões de DesiReé Beck. Não satisfeitos em inovar com uma prova de imitação, nesta semana temos um Ball, sim, as queens terão de apresentar não três, mas quatro looks de sua coleção inspirada na família tradicional brasileira.
E o que seria de um baile sem sua apresentadora? DesiReé essa semana trouxe uma silhueta um pouco diferente, com o cabelo garantindo o volume na parte de cima, o colo a mostra e um lindo vestido de lantejoulas laranjas. TOOT!
Sabemos que em um Ball tem vantagem as competidoras que sabem costurar. Esse é um dos assuntos principais do confessionário, as queens falam sobre o que sabem de confecção e como acham que se saíram na prova. Além da alegria por estar na semifinal, Lilith Prexeva e Organzza compartilhavam do dom da costura, Lilith conta que sua mãe drag Maldita Hammer lhe ensinou tudo o que sabe sobre costura e Organzza, por sua vez, preza por reservar sua confiança mesmo sendo reconhecida como a fashionista da temporada. Por outro lado Katrina Addams e Ginger Moon não são costureiras, Katrina costuma comprar looks prontos e Ginger conta com a ajuda de sua família drag para compor suas montações.
A edição permitiu uma comparação interessante sobre como as competidoras lidam com a quarentena e seus trabalhos, enquanto Ginger não teve tempo para aprender a costurar, Lilith usou o isolamento para aprimorar sua técnica. Ambas contaram como recebem ajuda de sua família drag, o que abriu portas para a discussão de como as participantes lidavam com seus pais de verdade. É com bastante tristeza que observamos que muitos desses artistas que amamos ainda são afastados de suas famílias, por serem LGBTs, escolherem o mundo drag e decidirem seguir seu próprio caminho.
Partindo para o desafio, o Ball do TNT consiste em quatro looks, três deles inspirados na folclórica família tradicional brasileira. O primeiro é o Karen Cidadã de bem realness – uma crítica à mulher conservadora. O segundo é o Tiozão da Arminha Drag King – uma crítica ao coroa direitista do zap. O terceiro look à ser produzido é o Princesinha Fascista Realness – uma crítica à filha patricinha minion. Ainda temos o quarto look, um respiro para que as participantes pudessem ousar, o conceito é Ovelha Drag da Família Eleganza Extravaganza – uma celebração ao colorido drag revolucionando a família brasileira.
Sendo bem sincero, acredito que esse ball é o desafio mais dificil de toda temporada. Primeiramente pela quantidade de looks necessários, produzir quatro figurinos distintos com conceitos bem definidos e que ainda conversassem entre sí é muito além da marca de qualquer outra coisa pedida durante toda a temporada. Outra coisa é a constante de críticas sociais que está presente em quase todos os episódios do show. Isso não é necessariamente um ponto negativo, mas uma janela delimitada para o que permitem os artistas se expressarem. Veja bem, a coisa menos atrativa e criativa que se possa imaginar é ter de fazer um visual inspirado no tio que manda fakenews, certo? – Não exatamente. Isso só tornou a prova mais desafiadora, o que provocou um distanciamento claro entre as habilidades das concorrentes.
Partindo para o desafio, começamos por Alexia Tarantino, a queen trouxe de volta o seu personagem ‘Robson’, que é quem apresenta o conceito de seus looks e transforma o desafio em parte atuação. No geral, os looks são bonitos, Alexia fez seu trabalho clássico na questão estética, bem vestida e com a maquiagem no ponto. O destaque, como esperado, foi seu visual de Ovelha Drag da família, que da categoria foi um dos melhores do episódio. A torre de cabelo é o elemento mais memorável de sua apresentação, que apesar de serem 4 looks bons, não entram dentro do conceito. Poderíamos ver Alexia em qualquer um deles em qualquer boate. A estratégia de usar as cores da bandeira é notável, mas faltou referências mais claras para passar uma mensagem de quem vestia esses visuais.
Looks da Alexia Tarantino para o Ball da Família tradicional do #TNTDrag pic.twitter.com/VacLEiqi7Z
— draglicious.com.br (@dragliciouz) April 8, 2021
A próxima da fila é Ginger Moon, que teve a situação oposta da Alexia. Ginger não sabe costurar, então usou sua criatividade e apresentou visuais em 2D pintadas à mão. Isso abre uma questão interessante – esses looks funcionariam em uma runway? E outra coisa – Isso deveria ser levado em consideração? Se já estamos dentro desse formato midiático não deveria ser aproveitado e explorado outras formas de se apresentar em um Ball? No geral, a queen conseguiu passar muitas mensagens, de forma bem editada. Como as orelhas de Mickey, fazendo referência à adoração direitista aos Estados Unidos, o Palhaço no look do tio e a estampa militar rosa no da patricinha. No geral foram ótimas referências e maquiagens realmente memoráveis que foram apresentadas.
Acredito que o que faltou nesses três looks foi uma complexidade maior em sua execução, como por exemplo: o que aconteceria se Ginger virasse de costas. Ou se houvessem outras peças no lugar de apenas uma grande e estática? E se o conceito da pintura permanecesse em um tecido que pudesse ser colado com cola quente e mantivesse a silhueta, como por exemplo neoprene? é difícil julgar as escolhas que foram tomadas aqui, pois se difere bastante das outras, acredito que leva pontos por criatividade, mas não houve costura nem, nos três primeiros, um look que funcionasse fora do formato do TNT. Seu ultimo visual apresentado, o da ovelha drag, não conclui os outros três apresentados, é uma execução totalmente diferente e com elementos que não funcionaram – Uma pintura corporal que não se fixou, elementos de burlesque que já vimos anteriormente, prótese e peruca que também não foram bem executadas.
Looks da Ginger Moon para o Ball da Família tradicional do #TNTDrag pic.twitter.com/JOlM51Pbn0
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Katrina Addams é a próxima a se apresentar, aqui tivemos uma série de coisas acontecendo. Primeiramente, sobre os looks, só foram apresentados três, provavelmente algum erro da edição. O primeiro deles, o da Karen cidadã de bem, não passava de uma roupa de brechó com bijuterias, porém a histórica maquiagem de borboleta nacionalista trouxe o contexto necessário para enxergamos a história que estava sendo contada, o que no final fez sentido. Já na categoria de ‘tiozão do zap’ a queen surpreendeu com uma roupa típica, o que deixou para a sua narração e interpretação a adaptação do look dentro do conceito proposto. O que, mesmo não sendo um crime, tira o propósito de deixar o visual falar por si. Mesmo podendo ser interpretado dentro do tema como um apego à costumes antigos – posso estar me deixando levar demais nessa interpretação. As coisas ficam mais claras na terceira categoria, onde Katrina usa o mesmo figurino de sua performance mais famosa, onde ela interpreta a Barbie fascista (assista aqui). Esse foi talvez o seu melhor look da noite e ainda conseguiu referenciar um acontecimento memorável de sua carreira.
Looks da Katrina Addams para o Ball da Família tradicional do #TNTDrag pic.twitter.com/QOO4mUxCze
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Mais tarde, em seu twitter, a queen se justificou e comentou sobre o que aconteceu durante a gravação. Resumindo, Katrina estava em uma semana conturbada, e tinha poucos dias para confeccionar os looks – mesmo não sabendo costurar. Logo, a participante se virou com o que deu e resolveu focar na descrição que foi pedida, já que durante toda a temporada os desafios envolviam atuação, a queen acreditou que neste não seria diferente e que poderia se salvar usando se talento. Como um de seus looks e parte das descrições que ela fala sobre ele foi cortado da edição, a impressão que deu foi que ela se saiu muito pior do que a realidade. Você pode ler suas postagens sobre o assunto no carrossel abaixo.
Movendo para a próxima candidata, temos Lilith Prexeva. A queen apresenta os looks com um de seus personagens com essa personalidade clássica. Sobre os looks tivemos pela primeira vez um respiro no episódio. Vemos costura de verdade e uma visão clara da visão de Lilith. Pessoalmente eu acredito que Prexeva é a que melhor imprime sua drag em seus trabalhos. Ela é brega, exagerada, vulgar e muito engraçada e tudo isso nós conseguimos enxergar em todos os visuais que ela serve no episódio.
Começando por esse tecido de bandeiras do Brasil, um verdadeiro achado e uma interpretação incrível de uma madame nacionalista que se misturava com estampas de oncinha. Já seu segundo visual, Lilith foi menos escrachada e nos surpreendeu com um playboy sexy e metido, com cores totalmente diferentes das que foram utilizadas anteriormente ganhando pontos por criatividade e performance. Essas qualidades se mantêm no terceiro visual, a patricinha que tem medo do perigo vermelho, vive de luto mas não deixa de se vestir bem, que ganha em execução com uma silhueta diferente e um conceito mais profundo. Para fechar, a ovelha drag de Lilith é um dos melhores looks da noite, concretizado por várias escolhas duvidosas mas que juntas têm a assinatura da rainha e trazem o conceito de ressignificar elementos provindos do lado fascista da família.
Looks da Lilith Prexeva para o Ball da Família tradicional do #TNTDrag pic.twitter.com/2ISlWMuQr5
— draglicious.com.br (@dragliciouz) April 8, 2021