Apesar de ter motivos justos para preocupação, as pessoas queer no Brasil estão se levantando para lutar contra a intolerância e a violência que enfrentam. “Somos resistentes, somos ferozes, somos fortes e lutamos juntos por nossos direitos”, diz Pabllo quando perguntamos como é a comunidade LGBTQ no Brasil neste momento. Mais importante, ela acredita que as coisas vão melhorar.
“Estamos criando consciência sobre isso, então acho que estamos avançando nesse assunto. É um caminho longo, mas se todos fizermos a nossa parte como indivíduos, seremos capazes de realizar algo maior no final”.
Assim como momentos históricos de igualdade como A Revolta de Stonewall e a luta pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo exigiam que membros da comunidade LGBTQ deixassem de lado suas diferenças para se unirem como uma só força, Pabllo percebeu que seus irmãos e irmãs queer se unem contra o reinado de Bolsonaro.
“Estamos fazendo isso juntos, o que é o mais importante. Nós temos que ficar juntos e lutar juntos, assim somos mais fortes. Um amigo meu uma vez me disse: ‘Temos que lutar juntos com um sorriso no rosto e alegria em nossos corações’. Vivemos sob o preconceito toda a nossa vida, e não vamos fazer nada diferente dessa vez. Acho que precisamos lutar, mas educar as pessoas ao mesmo tempo, mostrando que somos apenas pessoas comuns tentando ganhar a vida e ser felizes, o mesmo que todos os outros”.
Com 24 anos de idade, com uma série de hits de sucessos amados e apresentações internacionais em seu currículo, Pabllo está no topo do mundo. Mas seu começo foi humilde. Nascido Phabullo da Silva em São Luís e criada por sua mãe – que apóia plenamente sua escolha de carreira – Pabllo descobriu um amor por cantar quando estava na adolescência, onde ela cantava suas canções favoritas para a família e amigos, uma paixão que mais tarde começou a filmar para compartilhar online. Ela começou a maquiar o rosto aos 16 anos, e encontrou a coragem de sair em drag para seu aniversário de 18 anos usando o pseudônimo de Pabllo Knowles, uma homenagem a – sim, você adivinhou – a incomparável Queen Bey.
“Minha maior inspiração é Beyonce, ela é perfeita. Eu vi seu último show com Jay-Z e eu estava engasgando. Eu segui toda a sua carreira. Ela é a maior e mais incrível diva da nossa geração”.
As primeiras grandes atenções voltadas para Vittar aconteceram quando ela fez um cover na TV de I Have Nothing de Whitney Houston, naquela altura tendo adotado o nome Pabllo Vittar, posteriormente lançou um EP com músicas originais. O single principal, Open Bar, recebeu mais de um milhão de visualizações em menos de um mês e atraiu a atenção da indústria musical. Pouco mais de um ano depois, Pabllo chegou com força total com o lançamento de seu álbum de estúdio de estreia, Vai Passar Mal, conseguindo preencher a lacuna entre o drag, que tem sido historicamente uma arte marginalizada e música popular.
“Às vezes sinto que são a mesma coisa. Drag me deixa confiante, a música me fortalece e, juntas, elas fazem eu me sentir invencível”.
Ser drag queen certamente ajudou a diferenciá-la da multidão e abriu importantes conversas sobre gênero e identidade no processo, mas nem sempre foi uma vantagem para Pabllo. Sobre sua jornada para o sucesso na indústria da música ele revelou:
“Eu não sei quantas vezes a resposta foi ‘não’, podíamos ver a discriminação nos olhos deles. No Brasil, a arte drag sempre foi algo para ser mantido nas sombras de pequenas boates e não na grande mídia, então todo ‘sim’ que recebemos foi uma vitória. E não sou só eu, havia muitos artistas LGBTQ que romperam essa barreira e agora estamos em todos os lugares”.
Ela está certa; apesar da ameaça de discriminação, a cena musical queer do Brasil está prosperando. Há Rico Dalasam, um rapper negro gay que trabalhou com Pabllo no single Toda Dia; Gloria Groove, uma colega drag que canta como uma mulher e faz rap como um homem, abrangendo gêneros de R&B e soul até mesmo o funk brasileiro com facilidade; e Quebrada Queer, o primeiro grupo de rap abertamente LGBTQ da América Latina, todos os quais receberam milhões de visualizações no YouTube. Com isso Vittar afirmou:
“Não vamos mais nos esconder nas sombras”
Juntamente com um EP e dois álbuns de estúdio muito amados, Pabllo comprovou seu potencial para parceria ao colaborar com alguns dos nomes mais populares da música. Ela conseguiu uma aparição ao lado da devassa filósofa da Internet CupcakKe e da rapper Brooke Candy na faixa I Got It, de Charli XCX, e se apresentou com a ex-vocalista do Black Eyed Peas, Fergie, no Rock in Rio 2017. Este último lhe rendeu elogios do ator brasileiro Fabio Assunção, que escreveu em um post no Facebook: “Você representa a possibilidade da verdade em um mar de hipocrisia. Sua figura pública é a voz de muitas pessoas sufocadas”.
A maior colaboração de Pabllo veio com o sucesso de verão Sua Cara, uma parceria com a célebre diva pop Anitta para o EP Know No Better de Major Lazer, o videoclipe está a caminho de alcançar meio bilhão de visualizações no YouTube. Aqui, Pabllo não é uma drag queen tentando se encaixar, ela é uma artista de pleno direito que consegue se manter a altura do melhor do Brasil, e é tão desejável para o olhar masculino quanto as dançarinas que a cercam. “Ele é lindo e um verdadeiro príncipe”, diz ela sobre o hitmaker Diplo, que é responsável por um terço da equipe de produção Major Lazer. Os dois, uma drag queen gay e um hétero, tornaram-se amigos improváveis depois que Pabllo fez um cover da faixa do trio, Lean On, e continuaram a trabalhar juntos regularmente. Eles compartilharam um beijo no vídeo da música Então Vai, que Pabllo diz que era “como comer Jambo”, e recentemente se apresentou no Coachella.
“Foi super divertido e maravilhoso trabalhar com ele. Ele tem sido super solidário desde o início da minha carreira”.