Drag queens estão mudando o mundo e meninas adolescentes não conseguem parar de assistir RuPaul’s Drag Race.
Lilly Henley, 16 anos, e sua irmã Evelyn, 14, assistiram a RuPaul’s Drag Race junto com seus pais nos últimos três anos. A cada semana, eles se reúnem em torno de sua televisão em Michigan, mandando mensagens de texto para quem não consegue, para ver como uma RuPaul ruiva percorre a passarela ao ritmo de seu próprio hit Cover Girl.
“É um ritual familiar”, disse Lilly ao HuffPost (original aqui).
Quando eles não estão assistindo ao show, estão imitando seus momentos mais emblemáticos – fazendo maquiagem, organizando sessões de fotos improvisadas e se exibindo pela casa com suas próprias personalidades performáticas. Evelyn disse:
“Eu tenho esse alter ego quando penso que sou tudo isso e um saco de batatas fritas. Tipo, eu acho que sou Beyoncé. Eu vou apenas andar pela casa e ficar tipo okurrr!”.
“Meninas adolescentes têm a capacidade de amar as coisas muito muito intensamente”, disse Jinkx Monsoon ao HuffPost em março. Como vencedora da quinta temporada de RuPaul’s Drag Race, Monsoon saberia. Desde sua estreia em fevereiro de 2009, o reality show inovador – no qual drag queens competem em desafios variados e criativos para o título de America’s Next Drag Superstar – seguiu os passos de sensações culturais como The Beatles e The OC em reunir uma fã base de adolescentes.
Talvez seja óbvio por que hordas de jovens mulheres se reuniriam em volta de jovens galãs púbicos com caras de bebê de boy bands e da TV. O fato de adolescentes adorarem e se identificarem com pessoas gays e de corpo masculino personificando figuras femininas pode ser um pouco mais inesperado.
“É muito interessante para mim que grande parte da minha base de fãs não seja somente meninas adolescentes, mas meninas adolescentes heterossexuais”, disse Monsoon, comparando as jovens que adoram drag queens às garotas heterossexuais obcecadas pelo falecido David Bowie.
“Elas estão descobrindo a própria sexualidade e há algo não ameaçador em uma pessoa de corpo masculino que brinca com sua feminilidade. Isso os faz parecer um pouco mais acessíveis e um pouco menos ameaçadores do que os caras estereotipados podem ser. Recebo muitos comentários dizendo: ‘Eu tenho tanta paixão por você, mas sei que você é um cara gay, então isso nunca acontecerá’!”.
Paixonites de lado, Drag Race, rotineiramente, lida com questões centrais para a existência adolescentes das meninas: chegar a um acordo com a maleabilidade da identidade, lutando contra a pressão para se encaixar e, mais importante, descobrindo a importância do auto-amor. Como RuPaul diz: “Se você não se ama, como diabos você vai amar alguém?”.
E também: a maquiagem. As drags competidoras estão encarregadas de formular e executar uma visão completa da cabeça aos pés para cada desafio. Para Lilly, observar as transformações serviu como uma introdução hipnótica ao mundo dos cosméticos. “Mas eu sei que é para mim, não para mais ninguém”, disse ela.
Essa é a magia que RuPaul continua a servir semana após semana, a perfeita dose de Reality de TV com drama mesquinho e emoção crua, brigas exageradas e irmandade de boa-fé, desafios bizarros e o objectivo primordial de amar a si mesmo.
O show “me ensinou que outras pessoas vão julgá-lo”, disse Lilly.
“E você vai se julgar mais duro do que qualquer outra pessoa. Mas você precisa olhar para além disso, porque você é quem você é e precisa deixar as pessoas a conhecerem”.
É claro que nem todos os super fãs de Drag Race do subconjunto feminino, adolescente, se identificam como heterossexuais. Rosemarie Allicock, agora uma estudante queer de 21 anos na Delaware Valley University, assiste obsessivamente a RuPaul desde os 12 anos e em uma “fase emo”.
“Eu fui insegura insegura por toda a minha vida. Eu sempre fui a criança gorda. Todos sempre achavam que minha irmã que era bonita e, conforme eu crescia, as únicas pessoas que me disseram que eu era bonita eram minha família. Assistindo esses caras se vestirem como mulheres, eu pensei: ‘Eu também posso fazer isso’”.
Em particular, Allicock se identificou com Aja, uma rainha latino-americana nascida no Brooklyn que competiu na 9ª temporada. “Ela é uma rainha alta e morena que gosta de coisas obscuras”, explicou Allicock.
“Eu também gostava de coisas sombrias quando estava assistindo. Eu morava em um dos bairros mais pobres da Filadélfia, onde, como um garoto negro, você deve agir de uma certa maneira. Mas não é assim que eu fui. Então, isso foi algo que eu poderia me conectar”.
Allicock também se conectou com a maneira como Drag Race pintou o gênero como um espectro amplo, em contraste com as definições de gênero de sua “casa realmente tradicional”. Ela disse:
“A ideia de que os homens podem ser suaves e as mulheres podem gostar de praticar esportes, essas são ideias que eu não via muito. As mulheres fizeram isso; caras fizeram isso. Nós fomos muito à igreja, e sempre me disseram que ser homossexual é errado. Levei muito tempo para me sentir confortável comigo mesmo. O show me ajudou a entender que masculinidade e feminilidade são apenas uma mentalidade”.
Hoje, Allicock é a presidente do clube feminista de sua universidade, participa do GLOW – uma liga de luta livre de mulheres – e assiste a protestos políticos com seu irmão. Ela duvida que seria uma pessoa tão aberta sem a influência de Drag Race.
“Drag Race definitivamente me moldou na pessoa que eu sou”, concluiu Allicock.
Alguns super fãs adolescentes de drag queen seguem os passos de seus ídolos na tela, tornando-se versados na arte de fazer drag. Pegue Sophie Orenstein, de 16 anos, também conhecida como Katastrophe Jest, uma drag queen genderqueer que usa os pronomes them/they (em português seria o equivalente aos pronomes eles/elas, no caso gênero neutro, que não temos oficialmente, mas usamos no formato elx). Orenstein recebeu um curso intensivo de identidade de gênero de sua rainha favorita, Monsoon, ela declarou:
“Toda a minha vida nunca me senti como uma menina ou um menino. Então comecei a assistir Drag Race e vi Jinkx [Monsoon], que é genderqueer. Eu não tinha ouvido falar desse termo antes e é isso que eu sou. Encontrar pelo menos uma pessoa com quem você pode se identificar é tão importante e Jinkx foi para mim”.
Orenstein vive com um distúrbio de ansiedade chamado tricotilomania que a compele a arrancar os cabelos e as sobrancelhas quando está estressada. Por causa da condição, ver drag queens, que muitas vezes usam perucas e não têm as sobrancelhas, ostentando suas belezas foi especialmente empoderado para a jovem.
Agora Orenstein faz drag sob o nome de Katastrophe, “porque eu sou um desastre, e Jest por causa da minha mãe drag Shirley U Jest”. Ela se identifica orgulhosamente como uma drag queen “genderqueer, bissexual e judia” e sente que finalmente encontrou seu nicho. Orenstein continuou:
“O show mudou minha vida porque agora não tenho medo de ser quem eu sou. Drag Race me ensinou a não me importar, e eu posso ser fabulosx, não importa o que aconteça… Você nunca saberia que eu sou a mesmo criação confuso com o próprio gênero que estava sentadx na sala perguntando se as pessoas achavam que eu parecia esquisitx.