Depois de Andréia de Maio, Cris Negão assumiu o movimento do centrão. Violenta e beberrona, botava medo e foi a última cafetina travesti da região da Amaral Gurgel.
QUEM FOI CRIS NEGÃO?
“Um moleque de um metro e meio, de bermuda e chinelo, chegou, deu três tiros na cara da Cris Negão e saiu andando. Sei lá se foi encomendado, se foi acerto de contas, problema com ex-marido…”
Contou a drag e amiga Kaká di Poli. Acabava aí a conturbada vida de Cristiane Jordan, como preferia ser chamada a travesti que sucedeu Andréia de Maio no comando do movimento em torno da prostituição de travestis do centro de São Paulo. Cris foi baleada na noite de 6 de setembro de 2007, em frente ao bar Elenice, na rua Rego Freitas.
Na foto abaixo (uma das raras imagens de Cris), dá pra ver algumas das marcas de facadas e tiros que ela tinha pelo corpo todo, marcas das diversas tentativas de assassinato que sofreu.
O pesquisador de imagens Aldrin Ferraz, que mora na região há quase duas décadas relembra:
“Diziam que ela tinha o corpo fechado do pescoço pra baixo, e, por isso, não morria. Falavam que só iria embora se fosse atingida no rosto, o que aconteceu. Nessa noite, eu estava em casa com uns amigos e ouvimos uns fogos. Pensamos que era jogo de futebol, mas estavam comemorando o assassinato dela. Ela era muito violenta, o povo tinha medo. Cris tinha muitas inimizades na rua”.
Para quase todos que conheceram as duas chefonas, a poderosa Andréia de Maio, respeitada e temida em todo canto no centro, parecia um doce de coco se comparada a Cris Negão. Ambas cafetinavam travestis e conseguiam, cada uma a seu modo, manter certa ordem naquele submundo de transexuais, michês, clientes, policiais, traficantes e trombadinhas que compunham a região da rua Amaral Gurgel. Marcelo Ferrari, que dá vida à drag Marcelona, relembra:
“A Andréia ainda tinha essa história de ser uma personagem, aquela coisa romântica. Mas da Cris as pessoas não gostavam mesmo, tinham medo”.
Já a atriz transexual Claudia Wonder relativiza:
“E a Cris não era nada disso que a Andréia era, não tinha essa coisa assim de ser considerada uma personagem. Era apenas mais uma…”.