Igor William de Santana, de 29 anos, foi expulso de casa por ser gay quando tinha 19. A mãe do jovem não aceitava a orientação sexual dele. Da decepção com a progenitora, ele fez a promessa de que construiria seu próprio lar e começou a estudar teatro. Da dedicação, surgiu o interesse por personagens femininos. Igor explica:
“Para o ator, não há masculino ou feminino e sim os personagens. Eu usei o recurso do transformismo inspirado nas vilãs de novela”.
Após estrelar inúmeros papéis em teatros pelo Rio e se apresentar como drag em uma casa noturna na Central do Brasil, Igor se consolidou como Safira O’Hara. A personagem de sucesso na noite carioca, entretanto, trouxe a preocupação com a homofobia ainda mais presente para sua vida. A drag que também trabalha como sushiman em um restaurante japonês relata:
“Show de drags geralmente são à noite e temos que ser muito mais espertas. Eu não levo maquiagem na rua porque corro risco de ser roubada. Me maquio em casa, boto um boné e visto camisa de escola de samba. Quem me vê montada na rua vai achar que trabalho com carnaval e não fará nada. Eu moro em uma comunidade e volto de madrugada, nunca sofri agressão física, mas sempre ouço piadas. Como Safira, eu tenho que andar mais rápido como forma de me proteger”.
VIDA DE PEDREIRO
Safira O’hara ficou famosa nas redes sociais ao mostrar outra habilidade: pedreira. Com o dinheiro das apresentações e outros trabalhos, Igor comprou um terreno na Pavuna, na Zona Norte do Rio, e está construindo sua própria cosa com o auxílio do amigo Severino, de 56 anos. A rainha conta emocionada:
“De manhã sou pedreiro, à noite drag queen. Atualmente tenho uma relação saudável com minha mãe, mas precisava dar esse tapa na cara do passado e construir minha própria casa. Além disso, tenho um tio homofóbico que é pedreiro. Essa é uma forma de mostrar que posso ser o que eu quiser”.
A relação ruim com a mãe ficou no passado e Safira é elogiada pela matriarca. Porém, ela nunca viu nenhuma apresentação do filho.
“Ela vê fotos e elogia bastante. Mas nunca teve a oportunidade de me assistir no palco. Do passado, ficou uma lição para mim. Muitos LGBTIs são expulsos de casa pelas pessoas que mais amam e eles podem sim dar a volta por cima. Ao invés de voltar para casa porque não construir a sua? Vamos atrás dos nossos sonhos e conquistamos o mundo com nossas mãos”.
A rainha contou enquanto explica que não tem preferência de ser chamada de Igor ou Safira.