Após o estrondoso sucesso da primeira temporada, a Netflix não quis nos deixar esperando por muito tempo, tivemos um especial de natal e seis meses após a primeira temporada o mundo presencia a segunda volta de Sabrina para nossas telas.
A primeira temporada, de cara, já nos mostrou o tom blasfemo e ao mesmo tempo teen da série, para a segunda temporada percebemos uma leve correção, dando mais espaço para assuntos sentimentais e seus desdobramentos, isso acontece pois conseguiram medir a audiência da primeira temporada e saber sobre o que o público quer assistir. Mas não se engane, a série continua pesada e cheia e profanação.
Um dos principais pontos fortes que a série carrega é conseguir falar sobre feminismo de uma forma natural, isso continua, mas agora muito mais atrelada as convicções e motivações que as personagens carregam. Dessa vez vemos Sabrina lidando com questões como a libido e o empoderamento em volta de seu corpo, mas tudo no mesmo tom nada panfletativo que já conhecemos. Outras questões sociais são abordadas dentro da série e reflete muito bem as reações do mundo real, um grande acerto que demonstra o conhecimento do nicho jovem que assiste a série.
A grande jogada nessa temporada foi dividir a série em duas partes, os quatro primeiros episódios são prelúdios que ambientam na realidade onde o especial de natal nos deixou, neles testemunhamos as evoluções dos personagens, a questão do relacionamento entre Sabrina e Harvey e a chegada de Nick na vida da jovem bruxa, o distanciamento do mundo mortal e as atrocidades feitas pelo Padre Blackwood. Esses episódios foram essenciais para recriar a conexão com os personagens e lembrarmos o motivo de amarmos ou odiarmos eles.
Já na segunda parte, que começa no episódio de número cinco, temos o início de um grande arco, que nos presenteia com reviravoltas narrativas significantes e o rumo da história muda a todo momento. Com episódios chegando a quase uma hora de duração, alguns apresentam barrigas, cenas sem muita ação que servem só para preencher, porém elas são muito bem aproveitadas para dar explicações ou lidar com questões pessoais de cada personagem.
A série bebe muito da fonte simbólica das representações católicas e de significação dos seres, a própria Sabrina, por exemplo, é um ser híbrido, que em uma narrativa, por pertencer a dois mundos, representa a contestação de uma espécie e cultura. Já vimos isso diversas vezes, personagens recentes como Aquaman e Capitã Marvel, que assim como Sabrina saíram do universo dos quadrinhos, também desempenham esse papel. A protagonista questiona a Igreja das Sombras em sua misoginia e regras duras e nos questiona, em nossas casas, por ser uma protagonista feminina, decidida, petulante e bem resolvida e acima de tudo: que também pratica algumas maldades.
Nas questões técnicas temos conceitos repetidos da primeira temporada, como o embaçado em volta da tela para tornar os efeitos especiais práticos mais acreditáveis e também delimitar as cenas mágicas. Em alguns momentos a série aposta em um filtro esverdeado para as sombras e em uma cena especifica ele é muito mal usado, mas passa despercebido. A montagem da série em si é excepcional e a trilha sonora em alguns momentos parece não casar com a proposta que conhecemos, com uma pegada mais teen. E é impossível deixar de falar da base alaranjada que estão passando nos atores, notavelmente péssimo.