O trem do céu ainda está funcionando? A pergunta é mais do que válida porque ele precisa transportar a rainha que você deve procurar quando bater aquela vontade de rir, chorar ou celebrar à noite. Sempre pronta para se apresentar, ela pode ser definida com uma frase: “Eu só estou tentando viver minha vida de Beth, ok?”
É com esta filosofia que Rolland Bissonette, a pessoa por trás da drag, vem conduzindo sua jornada, principalmente depois da exposição mundial dada por sua participação na segunda temporada de Canada’s Drag Race, exibida de 14 de outubro à 16 de dezembro deste ano. Mas sua história começa muito antes, veja só.
Rolland nasceu no dia 14 de janeiro de 1997, na cidade de Nelson, uma província da Colúmbia Britânica, no Canadá. Enquanto crescia, sua educação e a de seus três irmãos ficou a cargo apenas de sua mãe. Sem uma referência LGBTQIA+ durante a infância e adolescência, seu mundo começou a ganhar novas cores com duas descobertas importantes.
Durante o ensino médio, Rolland começou a fazer teatro, o que, por tabela, lhe levou a conhecer a arte drag. Convocado para interpretar a mãe de Hamlet, a personagem Gertrude, no monólogo Gertrude Talks Back, ele impressionou sua professora que, encantada pelo que vira em cena, passou a escalá-lo com frequência para papeis femininos.
Em paralelo ao lado ator, Rolland também se assumiu como um homem gay e teve conhecimento sobre sua porção indígena, visto que se reconhece como uma pessoa cujo gênero é chamado de dois espíritos.
Esta fase é marcada por muito aprendizado interno, um incentivo e tanto para quem se orgulha de não dizer não para as coisas e, levado pela animação e curiosidade, vai experimentando pelo caminho o que lhe convém. Assim foi em seu próximo grande passo.
Motivado a cair nas graças de um público maior, Rolland sai de Nelson e se radica em Vancouver. Pronto para dominar a nova morada, teve um choque de realidade ao chegar nela e perceber a diversidade da cena drag local, assim como as inúmeras possibilidades profissionais oferecidas e a oportunidade perfeita para elevar aquela que é sua armadura e nasceu inspirada pelas grandes mulheres que o rodeiam, especialmente sua mãe. Estou falando de Beth.
Neste período a vivência em Vancouver permitiu à Beth acumular experiência para um desafio importante no futuro, então, sua primeira performance como drag queen, como Jr. Mint, ao lado de sua chegada na semifinal dos concursos Next Drag Superstar e Mr/Miss Cobalt de Vancouver, em 2017, serviram para que esta filha drag de Eva Scarlett adquirisse mais maturidade para um certo programa chamado Canada’s Drag Race.
Ao chegar na competição, uma das primeiras frases de Beth já é digna de nota: “Eu ouço essa voz, e eu sei exatamente quem está à minha esquerda… Gia Metric está aqui”. A observação é melhor entendida com a história que agora eu vou contar, escute.
Beth, assim como diversas pessoas que participaram ou tentaram participar de Canada’s Drag Race, ouviu boatos sobre possíveis rainhas que poderiam aparecer na segunda temporada. Gia entre elas. Duas semanas antes de viajar para gravar o reality show, Beth, fora do drag, estava trabalhando durante o horário comercial num salão quando Maneater, de Nelly Furtado, toca no rádio. Ela vira para seu colega de trabalho e fala: “Me veja tendo que fazer lip sync com essa [faixa] contra a Gia”.
Bom, a profecia se cumpriu, mas não antes sem ser antecedida por muito drama, momentos preocupantes, tensão, Déjà Ru e diversos sentimentos que são totalmente possíveis de surgirem quando a fama mundial chega a você através de Lost and Fierce, a estreia da segunda temporada de Canada’s Drag Race.
Beth começou sua corrida com familiaridade, afinal, com exceção dela, mais três concorrentes são egressas de Vancouver: a já citada Gia Metric, Kendall Gender e Synthia Kiss. Sendo assim, na sequência temos o mini desafio, para o qual esta Rugirl teve dificuldades impostas por seu vestuário.
Usando uma placa peitoral que pesa mais de três quilos e sendo uma rainha grande, Beth teve atritos para sair da piscina de espuma que as rainhas tiveram que pular para fazer um ensaio fotográfico. Apesar disto, adorou trabalhar com Caitlin Cronenberg, a fotógrafa responsável pela sessão.
Passada a euforia inicial, spoiler nenhum precisa nos avisar do desafio principal: de costura, com materiais não convencionais e o objetivo de criar uma roupa que arranque suspiros numa festa de estreia eleganza extravaganza.
Pressionada pelo jogo, Beth passa a ficar em dúvida, demora a escolher seus itens e, apesar de saber costurar, além do fato de ter ajudado na feitura de suas roupas para o programa, é consciente que precisa de tempo para trabalhar, apreciar o processo e celebrar o resultado final, justamente o que a competição não lhe permitiu.
No palco principal, a parte superior do seu vestido, feita no turno da manhã com algumas peças pintadas com spray de Solo Cups, até foi bem recebida pelos jurados, entretanto, o restante não jogava a seu favor. O curioso é o seguinte: até a noite anterior, Beth não tinha noção de qual rumo tomar com sua roupa; no dia seguinte, quando cria a melhor parte dela, quase a joga fora e só não o fez porque a produção a persuadiu a não fazê-lo.
No final das contas, Beth, que não estava se sentindo confiante, ficou menos ainda quando recebeu suas críticas, que a atingiram em cheio e olha que ela, ao concluir que o primeiro desafio seria de costura, pensou que não seria eliminada, mas, caso acontecesse, tentaria ficar tranquila para absorver o melhor desta situação. Não foi assim e o processo de ficar bem com tudo isto levou algum tempo, porém, no momento, as coisas estão devidamente superadas.
Por fim, Canada’s Drag Race ainda contribuiu de outras formas para Beth, que aprendeu a se vender mais e melhor, a não duvidar de si mesma, e ainda ampliou o alcance de sua plataforma levando representatividade indígena e, não suficiente, ganhou amigos para a vida toda, seja o elenco ou a produção da competição.
Marcada por corpo, comédia e entretenimento puro, Beth não conseguiu fazer o Snatch Game, todavia, se pudesse, teria personificado Carole Baskin, ativista americana dos direitos dos animais e empresária.
Atualmente radicada em Vancouver, Beth ama as diversas formas de drag, principalmente suas versões mais exageradas, como Victoria Scone, da terceira temporada de RuPaul’s Drag Race UK. No campo musical, sua faixa preferida para dublagem é a faixa Show me Love, da cantora e compositora sueca Robyn.
E o que mais pensa a segunda Porkchop das franquias do Ruverso? Caro leitor, descubra isto logo abaixo, na entrevista exclusiva que fiz com Beth e disponibilizo para você agora, na íntegra. Confira!
A pessoa que participa de Canada’s Drag Race tem dois destinos: ser eliminada ou vencer. Levar Sashay Away tem seu lado positivo?
Definitivamente! Ser eliminada especialmente cedo realmente faz as pessoas quererem ver mais de você e te seguir para ver o que você ia trazer! Além disso, prefiro que as pessoas fiquem chateadas por eu ter saído mais cedo do que irritadas por eu ficar por muito tempo.
Uma das fraquezas de um reality show pode ser a qualidade do seu elenco, então, quais são os pontos fortes do casting da segunda temporada de Canada’s Drag Race?
A 1ª temporada foi tão especial e nunca poderíamos recriar a magia disso, mas acho que todas nós tínhamos a mentalidade de querer elevar o que vimos na 1ª temporada. Nós não medimos esforço algum quando o assunto eram looks nessa temporada, com certeza.
Infelizmente você não participou do segundo episódio, o do Rusical ao vivo Under The Big Top. Como você acha que teria se saído nele?
Eu honestamente acredito que Deus me salvou de ter que fazer o Rusical! Eu definitivamente não sou uma cantora do ao vivo, mas teria tentado o meu melhor para arrasar!