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Canada's Drag Race

Who’s That Queen? Océane Aqua-Black

“Acredito que minha passarela de circo poderia ter me salvado do bottom, mas fatos são fatos”, afirma Océane Aqua-Black, da 2° temporada de Canada’s Drag Race nesta entrevista exclusiva.

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🕓 10 min de leitura

O oceano está subindo e ela é assim, salgada, daquelas que falam o que precisa ser falado, quando quer, e não se desculpa por isso, afinal, é uma rainha que coloca mais trabalho em sua persona justamente para não ser redutiva, estilo: “Ha, ha, ha, eu sou bonita”. Océane Aqua-Black vai te encharcar nesta edição da Who’s That Queen?

Eu sou uma espécie de arma secreta da cidade de Quebec. Eu faço drag há 18 anos, então, é um bom tempo, mas eu amo o que estou fazendo e não vou parar. Sempre começo meus shows dizendo: ‘Salute, bande de laids’, que quer dizer: “Oi, grupo de feias”. Estou toda hora rindo, é algo sobre mim”, afirma, no Meet the Queens, e prossegue:

Quando eu estava na escola sempre recebia detenção porque ria muito alto. Penso em algo completamente louco na minha cabeça, não sei, uma cabra que tropeçou em um pedaço de madeira, e começo a rir”, conclui.

Sim, Océane tinha como um de seus objetivos se divertir na segunda temporada de Canada’s Drag Race, porém, apesar da curta passagem pela competição, foi além e mostrou que é uma força a ser reconhecida, afinal, quando você vive o momento da sua vida, o foco é nele e nada mais.

Neste contexto, Océane começa sua aventura no programa no dia 14 de outubro deste ano, na estreia da edição, Lost and Fierce. Nona concorrente a entrar na sala de trabalho, surge pela primeira vez em grande estilo, usando uma roupa rosa e fazendo um Ruveal. Em seguida, não vence o mini desafio, uma sessão de fotos na qual você tinha que pular em direção a uma bola e cair num tanque, entretanto, a imagem de seu salto virou meme e isto não deixa de ser uma vitória, não é mesmo?

Divagações à parte, a tarefa rendeu, como o receio desta Rugirl já adiantava: “Océane não quer pular nesse oceano”. O medo é completamente justificável: “Eu pulei nesse antro de espuma e eu ouvi esse rachado e, garota, estrondo, é o meu joelho”.

Ciente do machucado e de suas possíveis consequências, ela fez questão de deixar claro que apesar de tudo, estava ali para vencer e seus joelhos não a fariam protagonizar outro momento Eureka O’Hara.

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Em situações emergenciais, o melhor a se fazer é recorrer a comédia e tentar extrair dela a salvação, como aconteceu no desafio principal, de costura, com materiais não convencionais, cujo objetivo era a criação de uma roupa que gritasse festa de estreia eleganza.

Estou andando pela passarela com meu joelho quebrado. Eu quero mostrar aos jurados que mesmo se a vida me der limões, eu ainda posso fazer uma limonada. Olhe para esse look! Ela está segurando o sapato dela, ela tem batom por todo o rosto porque ela beijou todos os caras na boate. Ela é apenas uma bagunça”, conta na primeira passarela.

A tentativa mostrou-se eficaz, com um resultado não esperado por Océane, uma drag que não faz suas roupas, mas que desenha tudo o que veste: “Oh, meu Deus! Oh, tão aliviante. Eu estou salva, ha, ha, no desafio de design”. E ela nem teve tempo suficiente para comemorar, pois a segunda semana estava chegando, trazendo consigo Under the Big Top, o Rusical do próximo episódio, transmitido em 21 de outubro.

Histórico, este desafio já chegou se impondo por ser a primeira vez que aparece nesta franquia. Dito isto, Océane ficou apavorada com a tarefa. Embora tenha participado de muitos musicais no passado, como a remontagem de O Rei Leão, feita antes de Canada’s Drag Race, onde interpretou Pumba, não se considera uma cantora e faz tal afirmação com orgulho.

Desta forma ela encarou a verdadeira missão de cantar ao vivo no papel de um palhaço chamado Bong, que fala francês e narrou sobre sua criação em Quebec. Consciente de que poderia ter sido mais estratégica ao escolher um personagem diferente, como a Revealiana de Eve 6000, por ter experiência com reveals, Océane não sabia que o seu papel teria tantos adereços, coreografia e sintonia com o restante do elenco. Sobre este assunto, ela acha que o programa dá personagens propositalmente para as rainhas visto que a maioria não alcançará à linha de chegada. Océane também pensa que a pior parte de tudo isto é justamente escolher quem interpretar porque após este instante, ninguém tem como saber ou prever o que acontecerá com estes personagens. Mas, e o lado bom, aconteceu?

Sim, esta rainha se divertiu muito tentando aprender a coreografia do desafio, assim como adorou trabalhar com os profissionais envolvidos, tanto na área da música quanto na dança. Apesar destes aspectos positivos, ela declarou à imprensa que, sendo uma drag grande, não conseguia respirar em um determinado ponto devido ao número de movimentos e coisas acontecendo no palco, o que a impediu de cantar e dançar ao mesmo tempo.

Findado o Rusical, Océane é mandada para o bottom 2 ao lado de uma amiga antiga, com a qual mantém uma amizade sólida e nem imaginava que seria sua rival em um lip sync pela vida por não saber que ela também estava no programa: Icesis Couture. Juntas, dublaram Stupid Shit, uma música de 2008 do grupo de garotas Girlicious.

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Derrotada por Icesis, Océane acaba sendo a segunda eliminada e antes de ir para casa comer alguns cheeseburguers, deixou uma mensagem de despedida particular no espelho: “Obrigada por este tempo incrível com vocês, garotas. Te amo, Icesis. Pegue essa coroa, espero que todas vocês tenham sucesso. Eve, você é sexy, me dê seu número. Stephanie, tenha cuidado como você chega quando fala com as pessoas. Te amo, embora x Gia, Oh, meu Deus, aquela protuberância!!!

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Mesmo que o bom humor dê o tom da passagem de Océane por Canada’s Drag Race, ela admite que ficou nervosa ao assistir sua eliminação por saber o que estava por vir e, apesar de obviamente querer permanecer no reality show, não alimenta raiva ou mágoa com seu Sashay Away, pelo contrário: sabe que, mesmo se o Rusical acontecesse em outras semanas, o resultado teria sido provavelmente o mesmo, entretanto, isto não elimina o raciocínio de que, quem sabe com outro personagem, o desfecho poderia ser diferente?

Ainda no campo das indagações, quem Océane faria no Snatch Game? Spoiler: Cardi B ou Norman Freeman, um YouTuber famoso com um personagem que considera maluco, exatamente como ela, uma grande personalidade com um coração idem, visto a irmandade que ganhou e sua proximidade com Beth, Stephanie Prince e Suki Doll, por exemplo.

Com suas irmãs Océane ensina e aprende técnicas e truques novos, ao lado das impressões dadas pelos jurados, ou seja, um processo completo de crescimento que a surpreende. Um efeito semelhante ao que foi dado por seu joelho depois de duas à três semanas para que se recuperasse totalmente após seu período no programa.

O curioso é que Océane não esperava entrar na segunda temporada de Canada’s Drag Race. Com o excesso de inscrições, ela ficou receosa de tentar, além do mais, por não ser originária de grandes cidades como Vancouver ou Toronto, e atuar apenas localmente em Quebec, basicamente, arriscou.

O palpite deu certo, a ligação final da produção confirmou seu nome no elenco e enfim Océane, no meio da emoção, percebeu o óbvio: existia potencial nela para participar não somente do programa, mas também desta Who’s That Queen?

Thierry Simard nasceu no dia quatro de agosto de 1985, no Haiti. Criado em Charlevoix, no Quebec, Canadá, ainda bebê fora abandonado no meio da floresta para ficar aos cuidados da própria sorte. Adotado em seus primeiros dias de vida por pais que, a priori, queriam uma menina, encontrou neles a base e apoio para uma vida toda, como a própria narrou no programa.

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Quando a agência de adoção propôs Thierry, seus pais não se impuseram pelo simples desejo de apenas querer fazer outra pessoa feliz, então, o gênero passa a não mais ser um critério de seleção. Para Thierry, esta é a atitude que demonstra que eles estavam prontos para abraçá-lo. Sua família ainda inclui a avó Licorice e, claro, a nova mãe, LaGladu.

Com incentivo da nova família, Thierry estudou teatro, experiência que o colocou nos palcos e o fez acostumar-se com apresentações. À vontade em cena, deixava a plateia no mesmo humor, o que pode ser considerado uma prévia do que viria pela frente, uma nova jornada para quem trabalhou no sistema social uma boa parte da vida.

Em 2003, aos 23 anos de idade, na companhia de alguns amigos em um bar local, Thierry estava dançando e chamou a atenção das pessoas e do gerente do estabelecimento, que lhe disse: “Você dança bem, você deveria tentar fazer alguns shows de drag, experimentar”. Ele deu uma resposta incisiva e simpática: “Eu não quero me vestir como uma mulher”.

Não convencido, o gerente continuou a tentar persuadi-lo, até Thierry aceitar e começar sua carreira de drag queen exatamente em quatro de agosto. A plateia reagiu bem, a aceitação virou um convite para retornar por duas semanas seguidas, ele gostou do que experimentou e percebeu que faria drag para as pessoas se divertirem, e não para ser a rainha mais bonita e polida de todas.

Fiel a si mesma, esta Rugirl escolheu seu nome devido a um bar que frequentava em La Malbaie, no Quebec. A água é seu elemento predileto e se refere ao seu sobrenome real. Black é uma alusão a cor da sua pele.

Participante da House of Schatzi e Haus of Baga, foi eleita a melhor lip syncer do ano na cidade de Quebec, um título natural para quem preza por focar no lado emotivo do público em detrimento de dips, saltos e espacates. Para Océane, a essência está na dublagem bem feita, onde você sabe as palavras da música, seja ela em inglês, francês, espanhol, alemão ou coreano, as línguas em que faz lip sync.

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Entusiasta da criatividade e originalidade do K-pop e fascinada por línguas estrangeiras, Océane acharia ótimo ver as participantes de Canada’s Drag Race dublando músicas asiáticas ou sucessos do pop francês, como o repertório da cantora Marie-Mai, famosa em Quebec, com muitas faixas enérgicas para os lip syncs pela vida.

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Para Océane, o francês colocaria dificuldades naturais para suas irmãs, assim como acontece consigo mesma, visto que o inglês não é sua primeira língua e, por isto, se vê obrigada a trabalhar mais que o normal para poder executar seus números. E em quase duas décadas de trabalho muito aconteceu.

Vencedora do Miss Cocktail em 2014, também foi finalista no MX Pride Canada/Montreal, em 2017 e 2018, competindo com 120 concorrentes no primeiro certame. Posteriormente, teve shows esgotados, performou com Shangela, ganhou troféus e encabeçou diversos projetos diferentes, como no Orgulho Gay.

Irmã drag de Stivy Schatzi Paris, Océane, a rainha com muita bunda e atrevimento, indica o nome dela para a terceira temporada de Canada’s Drag Race devido ao fato de acreditar genuinamente no seu desempenho. Saindo do campo familiar para o pessoal e profissional, namora desde 15 de março de 2012 com Guillaume Calypso Berger, também drag queen.

Mesmo com tudo isto, nada muda o compromisso de Océane de não se levar tão à sério, afinal, você lembra do bordão dela, com o qual começa todos os seus shows? Salut, gang de laids, ou, como eu gosto de dizer: “Bonjour, Horrorosas”. E é com esta expressão que ela relaxa a audiência que eu me despeço para lhe deixar na companhia dela, a nossa entrevista, na íntegra. Confira!

Se drag é uma fuga da realidade, quando você está em drag você está querendo evitar o quê?

Eu quero evitar o fato de que às vezes me sinto invisível e às vezes sinto que temos que cumprir os padrões de outras pessoas para nos ajustarmos e sermos aceitos. Também quero evitar a rotina diária que é tão entediante para mim.

Qual é a função social das drag queens?

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Acho que antes de mais nada, as drag queens estão aqui para entreter e trazer alegria ao mundo. Também sinto que damos voz e coragem às pessoas que dela podem precisar. Estamos aqui para representar a forma de arte da nossa cultura gay.

Apesar de morar no Canadá, você nasceu no Haiti. Você já parou para pensar no que teria acontecido se você tivesse ficado no Haiti?

Tendo sido adotado aos 11 meses, nunca me senti realmente parte do Haiti. Tudo que conheço é Canadá e Quebec. Eu sei que tenho muita sorte de estar aqui. Eu nunca morei no Haiti e não me lembro de nada, então, não me sinto conectada a isso.

A arte drag chegou ao mainstream, mas ainda é uma profissão incompreendida. Você se sente underground?

Acho que ainda existem certos estigmas ligados à profissão de drag. Eu realmente não me sinto underground por causa de tudo o que a franquia RuPaul’s Drag Race fez por nós, mas é claro que há um longo caminho a percorrer para receber os verdadeiros frutos do nosso trabalho em bares ou outros locais.

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Canada’s Drag Race é uma boa representação desta forma de arte?

Drag Race para mim é um programa competitivo que nos coloca em uma plataforma maior para nos tornarmos conhecidas pelo mundo. Claro que é uma competição, então há altos e baixos, mas o universo drag é tão vasto que mesmo um programa de competição não pode cobrir todas as possibilidades que o drag pode oferecer ao mundo.

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Alguma crítica que você recebeu dos jurados durante o segundo episódio estava certa?

Sim, acho que eles estavam certos quanto à minha atuação no musical. Eu concordo que fui terrível. Eu gostaria que meu joelho quebrado fosse levado em consideração quanto à minha habilidade de dança e eu acredito que minha passarela de circo poderia ter me salvado do bottom, mas fatos são fatos e o que eu fiz não foi bom em comparação com algumas de minhas companheiras rainhas.

Muitas pessoas discutem sobre crianças que querem fazer drag. Isto é bom ou ruim?

Eu encorajo profundamente a desenvolver a habilidade artística muito jovem. Eu realmente não entendo por que as pessoas discutem sobre isso em primeiro lugar. Por que tentar silenciar uma mente criativa? Isso é estranho para mim.

Para mim também e chegou a hora de dizer adeus, então, última pergunta: a drag entra em Canada’s Drag Race com alguns bons anos de carreira e tem que provar que ela é uma boa rainha. Não é chato? Sentiu esta pressão?

Não, não acho que seja chato porque drag está em constante evolução e você pode aprender tanto com as velhas rainhas quanto com as jovens e novas técnicas. Não acho que o número de anos realmente importe no drag. O que importa é o talento, singularidade, coragem e carisma. O resto é apenas um número. E para começar vamos apenas declarar o óbvio: se ela está lá é porque ela é uma grande rainha, então, ela não tem mais nada a provar. Você pode ser um péssimo designer e um ótimo ator ou hipnotizador. Isso não significa que você é melhor do que outra pessoa, apenas que você tem pontos fortes e fracos.

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Para ler outras entrevistas exclusivas da Who’s That Queen clique aqui.

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