O primeiro episódio de Rupaul’s Drag Race foi ao ar em 02 de fevereiro de 2009. Com a proposta de tornar o underground mainstream/popular, o show se consagrou ao longo dos últimos dez anos como uma das maiores marcas no entretenimento estadunidense. Temporadas derivadas como All Stars, Drag U e Celeb Drag Race; edições internacionais (Tailândia, Reino Unido e agora Canadá); convenções megalomaníacas ao redor dos EUA; cds, livros, barra de chocolate, linha de roupas, turnês globais e uma residência em Las Vegas: não há precedentes de popularidade ao redor de um símbolo queer.
Goste ou não, Drag Race modelou uma geração, levando para os holofotes queens cientes que o valor da narrativa e da construção da marca são tão importantes quanto o look ou a qualidade da maquiagem.
O TOP 3 dessa décima segunda temporada é um retrato desse cenário.
Losing is the new wining
Narrativas sobre perdedores geram identificação. Na história de Drag Race, algumas foram as participantes que incorporaram o azarão, correndo por fora e chegando até a final a despeito das expectativas iniciais. Adore Delano, Jinkx Monsoon, Trixie Mattel em seu All Stars e agora Crystal Methid.
Contrariado o tom higienizado e formuláico (roteirizado) que permeia a produção e o comportamento de algumas queens desde a sexta temporada, Crystal brilhou a partir do momento que se apropriou do seu maior diferencial: ser uma perdedora. Como pontuado por Michelle Visage, ela foi capaz de adequar a criatividade e o absurdo intrínseco em sua expressão ao nível de ridículo que os desafios demandavam semana após semana.
Crystal não só se encaixou ao formato de Drag Race como garantiu o choque – cada vez mais raro – nas passarelas, portando visuais que poderiam ter lugar em um episódio de Drágula.
Entre as três finalistas, Crystal foi a única que serviu uma história redonda, quase uma jornada do herói versão Drag Race, indo da queen fora da caixinha em busca da sua identidade para uma personagem confiante, capaz não só de assumir suas falhas como de instrumentalizá-las para alcançar o sucesso.
Look over there!
Diferente de Crystal, Jaida Essence Hall não apresentou uma jornada de transformação. Isso porque ela não precisa de uma jornada de transformação. A segurança, maturidade e entendimento de sua identidade drag sempre deixou claro que ela sabia o que estava fazendo. Dos seus acertos (LOOK OVER THERE!) até os momentos no bottom, a auto-intitulada pageant queen é a única do trio de finalistas que desde o primeiro episódio tinha a presença garantida no TOP3.
Mas nem por isso sua presença tornou-se menos importante para edição. Assim como Akeria C.Davenport e Trinity The Tuck, Jaida entreteu ao unir dois elementos aparentemente conflitantes: a realeza e polidez do seu drag old school com a estapafúrdia de Drag Race. Jaida une o melhor dos dois mundos e por isso é a minha aposta para a coroa.
F*ck you, bitch!
Na primeira metade de Drag Race muita gente já tinha colocado a coroa na cabeça de Gigi Good. Afinal, a queen entregava looks com detalhes obsessivamente pensados, todos contando uma história, todos conversando com a marca de Gigi; uma espécie de camp polido conceitual, como se Aquaria tivesse um filho com a Bianca Del Rio. O ápice de Goode chegou com sua entrega no Snatch Game como Maria The Robot, o laço final no pacote completo.
Então tudo deu errado.
Ao ser jogada em situações que demandavam improviso e adaptabilidade, sem a possibilidade de uma preparação prévia, Gigi mostrou não ser tão versátil quanto aparentava. Constantemente salva, a queen ganhou a infame alcunha de arrastada e protegida, sendo poupada enquanto participantes como Widow Von’Du e Rock M Sakura eram impiedosamente descartadas.