O palco principal da RuPaul’s Drag Race tem sido um espaço para declarações de moda, mas Symone – uma das principais candidatas ao título da 13ª temporada – levou essa noção para o próximo nível durante o nono episódio com uma criação de passarela que pediu ao público para enfrentar uma dura realidade através de um look de cair o queixo, da qual era impossível desviar o olhar.
Depois que as rainhas foram incumbidas de se passar por celebridades para o Snatch Game (Symone deu vida a uma interpretação genial de Harriet Tubman) e criar looks destacando acessórios para a cabeça na passarela da semana “Fascinating Fascinator”, Symone desfilou em direção aos jurados com um lírio na cabeça e um vestido branco justo abraçando sua forma. No final do palco, Symone se virou para revelar buracos de bala cravejados de cristais vermelhos em suas costas e as palavras “DIGA SEUS NOMES“ estampadas em seu capacete enquanto ela falava os nomes de pessoas pretas dos Estados Unidos mortos pela brutalidade policial como: Breonna Taylor, George Floyd, Brayla Stone, Trayvon Martin, Tony McDade, Nina Pop e Monika Diamond.
Symone então contou à EW sobre a concepção e criação do look de parar o show, que lembrou a família Drag Race que, como ela diz, Black Lives Matter [Vidas Pretas Importam] é um movimento – não um momento – que não podemos esquecer.
A concepção de um design para “dizer os seus nomes”
Filmar a 13ª temporada de RuPaul’s Drag Race em meados de 2020 levantou muitas questões: Como as rainhas permaneceriam seguras no set em meio a uma pandemia? Haveria um grupo de rainhas para escolher enquanto a vida noturna sofria na esteira do coronavírus? Como o elenco abordaria as questões contínuas de brutalidade policial em meio ao ressurgimento do movimento Black Lives Matter? Symone ponderou sobre tudo isso enquanto preparava sua coleção de looks para os desfiles semanais, mas foi a roupa do nono episódio que, ela diz, veio a ela de forma mais vívida.
“Eu pensei que, especialmente com os tempos em que estávamos, sempre que isso fosse ao ar, eu não quero que as pessoas esqueçam e quero fazer uma declaração”, ela revelou sobre o pensamento por trás do vestido, que levou duas semanas para ser criado com o designer Marko Monroe. “Eu queria fazer isso de uma forma que ainda estivesse na sua cara, mas artisticamente”.
Isso resultou em trabalhar com couro sintético branco em uma peça justa que abraçou seu corpo, constringindo-o de uma forma “que representa o que às vezes pode ser a sensação de ser preto em nosso país e no mundo”. Os quadris – bordas pontiagudas saindo de seus lados – foram adicionados para uma silhueta que despojou a sexualidade do visual, para não desviar a atenção da mensagem central. De frente, ela queria que as coisas parecessem simples, com o material branco em cascata (abaixo do lírio branco, uma flor funerária tradicional) comunicando “pureza” e qualidades “angelicais”, contrastadas pelos cristais Swarovski vermelhos (simbolizando feridas) no verso.
“Não importa o quão linda ou bonita ou não ameaçadora eu – e os negros – pareçamos, ainda somos vistos como uma ameaça. No colégio, as pessoas diziam: ‘Você não é como o resto deles.’ Nenhuma dessas coisas importa aos olhos de algumas pessoas. Ainda sou preto. É uma realidade que vivo neste país e neste mundo, e algumas pessoas me consideram uma ameaça”.
A conversa necessária
Apesar da gravidade do significado do vestido, Symone não queria deixar a roupa viver como uma arte estática e usável, então ela também construiu um conceito de movimento em torno do vestido. Então, ela incorporou uma pose de “mãos ao alto, não atire” em seu andar glacial.
“Você não sabia o que ia acontecer na frente, que é o que eu queria, e queria me virar e fazer a declaração com minhas mãos porque isso fazia parte da história. Nós vimos os vídeos, até quando fazemos exatamente o que devemos fazer, as pessoas acabam morrendo de qualquer forma”, lembra ela, acrescentando que sentiu uma mistura de emoções sombrias, excitação, medo e ansiedade (além do peso de carregar uma tocha sobre seus ombros) enquanto esperava seu próprio desfile nos bastidores. “As pessoas deveriam saber o que está acontecendo e deveriam ficar desconfortáveis, especialmente se for algo errado no mundo… Eu não ia deixar de fazer as pessoas se sentirem desconfortáveis ao não fazer o que eu queria fazer”.
O preto é lindo, neste momento e além dele
Momentos depois de o episódio ir ao ar, as mídias sociais explodiram em elogios ao ativismo representado na moda de Symone – apreciação e amor, ela diz que foi o que a sustentou durante todo o fim de semana, e comunicou a ela de forma eficaz que as pessoas estão recebendo a mensagem que ela tentou costurar em todo o pacote que tem sido mostrado em RPDR, até este ponto, uma celebração semanal da excelência negra.