Se você pensou que Canada’s Drag Race era muito focado na passarela, mana, tenho uma outra série para lhe mostrar. Drag Race Holland, a última edição internacional da franquia Drag Race em rápida expansão, agora transmitida pelo WOW Presents Plus, tem sido uma montanha russa de emoções até agora. O drama – incluindo uma briga explosiva entre a rainha brasileira e holandesa Miss Abby OMG e a veterana rainha belga Sederginne no episódio 4 – foi insana. As competidoras foram engraçadas, assertivas e enérgicas, um elenco tão bom quanto você encontrará em qualquer programa de Drag Race. O apresentador, Fred van Leer, foi espetacular – rápido com uma piada e ousado em suas críticas. E as passarelas têm sido incríveis, servindo alguns dos melhores looks que já vimos na franquia.
Contudo, os desafios principais, foram pensados tardiamente, na melhor das hipóteses.
Na estreia da série, não havia nem um desafio pirncipal, apenas o típico minidesafio de ensaio fotográfico, além de uma passarela com roupas trazidas de casa. O desafio principal do segundo episódio, uma tarefa de vídeo de exercício físico, mal foi mencionado nas críticas desse episódio. O desafio de atuação no episódio 3 recebeu um pouco mais de menção, e o top 3 pareciam ser as de melhor desempenho nessa tarefa. Mas então o Episódio 4 voltou a ignorar o desafio principal (um desafio de dança que todos aparentemente fracassaram), e apenas se concentrou nas críticas das passarelas.
Você pensaria que isso me irritaria, considerando que o foco da pista de Canada’s Drag Race geralmente produzia resultados instáveis. E, claro, houve algumas decisões questionáveis: foi estranho Sederginne não ter vencido, apesar de consistentemente impressionante em ambos, desafios e passarela. Mas o show é tão bom que o foco da passarela não é um problema. No mínimo, a qualidade dos looks torna ainda melhor que o programa está interessado apenas na moda – está se voltando para o que funciona na série.
À medida que a Drag Race se expande como uma marca global, faz sentido que suas diferentes versões valorizem diferentes aspectos do drag. Já vimos um pouco disso: o programa original exige excelência em todas as áreas, enquanto All Stars é focado na performance e o Reino Unido é ainda mais especificamente focado na comédia. Canada’s Drag Race viu as partes mais extravagantes do Drag sendo recompensadas, com a rainha de Montreal, Rita Baga, sendo a maior beneficiada, enquanto Jimbo foi amplamente punido por fazer o Drag Race estranho e muito conceitual que costuma se dar bem na versão americana do show.
Mas esse tipo de foco diferente, na verdade, se originou com Drag Race Thailand, que produziu e exibiu duas temporadas em 2018 e 2019. Esse show teve um foco adicional na passarela, dividindo as vitórias de cada episódio em uma vitória para o desafio principal e uma vitória para o look. Isso resultou em alguns momentos de julgamento embaraçosos, como quando a eventual vencedora da 1ª temporada, Natalia Pliacam, teve que fazer uma dublagem para salvar sua vida em um episódio, apesar de vencer o desafio principal. Essa série manteve as rainhas em um padrão muito alto, e também gostava de dublagens para punir o grupo quando esses padrões não eram atendidos. (Ao longo de duas temporadas, eles tiveram três dublagens triplas – nenhuma das quais foi numa grande final como na versão dos EUA)
Holland teve sua primeira dublagem de trio no Episódio 4, o que sugere que ela continuará a ser ambiciosa e flexível quando se trata do que exige de suas rainhas. Em momentos como esses, programas como Holland e Tailândia refletem a cultura drag em que se inserem. Eles não precisam imitar exatamente o formato americano – isso seria uma reprodução, não uma adaptação verdadeira. Para que as temporadas locais de Drag Race sejam únicas, eles devem abraçar o que os torna diferentes.