Chegou a hora das rainhas fazerem a coleta seletiva – fazerem uma coleção – para uma desafio de costura em grupo.
Depois de um desafio de costura solo na estréia da temporada, as rainhas são novamente enviadas para suas máquinas de costura e pistolas de cola quente para mais uma rodada de criação de alta costura. Infelizmente para quem prefere trabalhar sozinho – ou para quem gosta de trabalhar com tecidos – esse não é um desafio típico de design.
Essa tarefa reúne dois desafios favoritos do programa Project Runway: o desafio de materiais não convencionais e o desafio em equipe. Trabalhando em grupos de três, as bonecas devem projetar e criar uma coleção coesa de looks feitos de materiais recicláveis: papel para um grupo, plástico para outro e metal para o último. É uma grande desafio e frustra aqueles que mais uma vez estão sendo solicitados a desfilar no palco suas criações, em vez das roupas caras que trouxeram para o jogo. Mas, por mais que esse desafio pareça inspirado no Project Runway (e teve Evan Biddell, vencedor do Project Runway no Canadá como apresentador convidado), esse tipo de tarefa é Drag Race por excelência.
Embora a inspiração mais citada para o RuPaul’s Drag Race seja o America’s Next Top Model, o programa também deve muito ao Project Runway. Desde RuPaul desmontada andando pela sala de trabalhos estilo Tim Gunn até o sistema de crítica que rola apenas para as melhores e piores da semana (muito diferentes do sistema de críticas individuais de Top Model), Drag Race é um híbrido dos dois formatos. De fato, não foi até o terceiro episódio da primeira temporada que as rainhas realmente desfilaram com os looks que trouxeram de casa!
Portanto, embora eu seja solidário com aquelas que querem andar na passarela com os looks cuidadosamente preparados que trouxeram prontos – Ilona Verley e Scarlett Bobo foram as mais vocais, embora as demais rainhas se demonstrem igualmente descontentes – um desafio como esse é muito verdadeiro ao espírito original de Drag Race. É ainda mais impressionante se você consegue criar um visual na werkroom, pois é um sinal de que você pode ter o que é preciso para ser a Canada’s Next Drag Superstar.
Este episódio também permitiu que Stacey McKenzie tivesse sua primeira chance de brilhar como mentora na sala de trabalhos. Stacey até agora tem sido a jurada mais consistente do “trisal”. Ela foi muito divertida no mini-desafio ao conversar com as meninas (mais sobre isso nas conclusões finais). Ela também entra na sala de trabalho com um look de tirar o fôlego (na minha opinião, ela tem sido a peça de moda do painel até agora nesta temporada, embora Brooke Lynn Hytes não fique muito atrás). Mas sua entrega de falas prontas pode parecer forçada, o que pode deixar os fãs hesitantes sobre ela.
Onde Stacey ganha vida é durante sua aula de desfile. Isso faz sentido com sua experiência: ela não é apresentadora, é jurada e treinadora de passarelas. Então, quando ela tem a chance, ela dá ótimas dicas específicas para cada rainha em suas caminhadas e comemora animadamente suas melhorias. As rainhas são só elogios sobre ela em todo o segmento de treinamento (que Drag Race deveria ter em todas as temporadas – faça Raja voltar para fazer isso na versão original!), e é fácil entender o porquê. Quando ela diz “Porra, eu sou boa!” no final, não é exagero. Ela vê o quanto as meninas melhoraram e está emocionada por poder ajudar.
Também queria uma aulinha de desfile com a @StaceyMcKenzie1 #CanadasDragRace
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Algo que eu gostei no julgamento desta semana: embora a maior parte das críticas sejam sobre a aparência, os jurados também fazem muitos comentários sobre como as rainhas venderam as roupas. Isso não é usado como desculpa para a construção de má qualidade do jeito que aconteceu com BOA no primeiro episódio, mas para verificar como as rainhas mantiveram o que aprenderam no dia anterior. Lemon, por exemplo, é criticada por uma apresentação fraca de um look deslumbrante, criticada especialmente pelo desfile. Por outro lado, Priyanka é celebrada por uma caminhada deslumbrante, deixando os jurados apaixonados por suas roupas mais do que eu.
Mas, embora Stacey traga o America’s Next Top Model ao palco principal, este ainda é um desafio de design. Lemon, Priyanka e BOA formam a Time Metal, também conhecida como House of Rust [casa da ferrugem]. Os looks de BOA e Priyanka conversam entre si, servindo pura prata, mas o visual ouro rosa de Lemon (feito de esponjas de aço desenroladas) parece pertencer a uma coleção diferente. Jeffrey Bowyer-Chapman, em sua melhor crítica ao episódio (potencialmente a sua melhor da temporada até agora?), observa que se a equipe tivesse introduzido um elemento de ouro rosa nos looks de BOA e Priyanka, e um toque prateado no de Lemon, elas teriam parecido como uma verdadeira coleção. Elas são criticados, mas no final todas acabam salvas.
Coesão é o que ganha o dia para La Maison Boraga, a equipe nomeada de Scarlett Bobo, Kiara e Rita Baga, que arrasam em alta costura de plástico. (Esse nome me dá vibrações de Rolaskatox, mas o trabalho deles é bom o suficiente para terem passe livre.) Rita vence o dia e é a decisão certa – o visual dela é notavelmente impressionante, com um xale de rede laranja em volta de sua maquiagem de Club Kid. Mas o que mais impressiona é o trabalho em equipe: os três looks trabalham juntos para criar um impacto poderoso. Por um segundo, eu me perguntei se elas poderiam vencer como uma equipe, à la Frock Destroyers de Drag Race UK. O visual de Scarlett é mais simples, mas impressionante o suficiente para merecer a disputa pela vitória. E embora Kiara não seja a minha favorita, a silhueta é talvez a mais interessante na passarela. Mas Rita é a nossa única vencedora, conquistando sua segunda vitória da temporada.
Imagino que haverá alguma consternação em torno dessa escolha, por duas razões. Em primeiro lugar, Rita venceu duvidosamente o primeiro desafio de costura da temporada em vez de Jimbo, ao usar por debaixo de seu lindo casaco um vestido de aparência barata. Sua escolha de revelar o vestido intrigou muitos fãs na época. Segundo, Jimbo, mais uma vez, fez um look incrível nesta semana, mas perdeu porque sua equipe estava no bottom. Ela escolheu um visual floral de rainha, completo com um cinto espetado e maquiagem no estilo Maria Antoineta.
Embora eu ache que a primeira vitória de Rita foi questionável, essa é merecida. Eu gostaria que Jimbo tivesse vencido a primeira para reduzir possíveis controvérsias sobre essa decisão. Mas, embora a peça de Jimbo seja a peça mais tecnicamente relevante da semana, esse desafio é explicitamente sobre trabalhar em equipe. E seria injusto dar a vitória a um membro de outra equipe, quando uma equipe claramente faz o melhor trabalho coletivo nesta semana.
O que é irritante, no entanto, é que, em vez de dar a Jimbo uma crítica brilhante com uma ressalva (“Você fez muito bem, mas sua equipe não se saiu tão bem coletivamente”), os jurados se concentram nos cabelos e na maquiagem da drag como um problema potencial de toda montação. Enquanto Evan Biddell observa que seus cabelos e lentes de contatos brancas não combinam com sua make branca, Jeffrey critica Jimbo por não combinar o tom de pele do braço e da mão com o branco do rosto e do peito. Embora eu quase entenda a crítica (foi impressionante, mas descuidado), a resposta de Jeffrey a Jimbo citando restrições de tempo é: “Todo mundo tem a mesma quantidade de tempo. Use melhor, talvez”.
"Eu te ouvi, garota. Mas todos recebem o mesmo tanto de tempo. Use o melhor da próxima vez, talvez". Adoro o Jeffrey, mas essa crítica pra Jimbo foi tão babaca, ela fez um dos melhores looks da noite, forçaram muito nessas críticas #CanadasDragRacepic.twitter.com/pcj8OtHFHd
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Existem inúmeros exemplos de rainhas de Drag Race que receberam críticas positivas sem estarem em um time vencedor. Não há problemas em elogiá-las! Nem tudo precisa ser transformado em uma chance de repreensão severa.
Jimbo então foi finalmente declarada salva, mas suas colegas da Maison Papier, Ilona e Tynomi Banks, não têm tanta sorte. Enquanto eles optam por looks de cavaleiro para complementar a rainha de Jimbo, isso apenas lhes rende ira de Brooke Lynn. A jurada diz para as queens pararem de ser tão “canadenses” e lutarem para parecerem melhores, não deixar seus concorrentes as ofuscarem. Ilona se desespera com suas críticas negativas no Mini-Untucked, e se vira para Jimbo por reclamar sobre o frio na sala de trabalho. (O que houve com o controle de temperatura esta semana? Jimbo e BOA tremem como loucas na pista enquanto aguardam as decisões dos jurados.) Sua fúria vem de ser potencialmente eliminada em um vestido que ela fez com lixo, enquanto ela ainda tem muito para mostrar. Ilona pode ser desagradável e egocêntrica, mas admito que ela é icônica, ao dizer chorando:
“Eu queria vir aqui e representar a minha cultura. Eu queria vir aqui e representar as pessoas trans e não binárias. E tudo o que estou representando no momento é essa merda de catadores de lixo”.
Essa última parte tira uma grande risada de Tynomi, que infelizmente acaba no bottom 2 pela terceira vez consecutiva. Fiquei feliz por ela rir, porque, de outra forma, estava derrotada durante o Mini-Untucked. Eu sinto por Tynomi, que parece estar sendo julgada por seu trabalho de pré-temporada mais do que pelo que ela tem mostrado no programa. Não há argumento de que ela tenha desapontado, mas suas críticas são sobre não estar à altura da lenda de Tynomi. O visual dela não é desastroso – eu provavelmente colocaria a BOA entre as piores ao lado de Ilona -, mas seu desempenho na competição até agora fica abaixo das expectativas, a ponto de ser sua hora de partir.