No quarto episódio da décima primeira temporada de RuPaul’s Drag Race, em uma conversa sobre política, a concorrente Nina West se abriu sobre crescer em uma família republicana e também uma experiência traumática na faculdade que a sujeitou a ameaças brutais de morte ao longo de quase dois meses. Em entrevista Nina revelou:
“O mais louco é que eu não tinha realmente contado essa história publicamente. Eu nunca pensei que iria falar sobre isso em Drag Race”.
No programa, West contou um trecho da história e como isso ajudou a transformá-la na ativista vocal que ela é hoje.
“Fui criada para retribuir e fui criada para ser um participante ativo na minha comunidade, e isso é verdade. Mas acho que o maior motivador para qualquer um, e o que faz de qualquer um o maior ativista é ser vítima de alguma coisa. Eu acho isso terrível e horrível, mas isso me mudou e eu não quero que ninguém nunca sinta o que eu senti”.
A OUT entrou em contato com Nina, para que a rainha amplie essa história e, pela primeira vez, conte-a publicamente na íntegra com suas próprias palavras.
Eu cresci em uma família muito conservadora e isso afetou todo o meu processo de revelar minha orientação. Eu nunca disse aos meus pais que eu era gay [quando eu era mais jovem], mas quando fui para a faculdade na Denison University, decidi durante a orientação que eu me assumiria. Eu meio que tive duas vidas diferentes: eu era assumido e gay na escola e depois voltava para casa. Eu acho que meus pais sabiam, mas nunca conversamos sobre isso.
Meu primeiro ano eu entrei em uma organização LGBT no campus chamado Outlook. Certa vez, quando estávamos fazendo algumas marcações para o National Coming Out Day [Dia Nacional da “saída do armário”] eu fui cuspida e chamada de “bicha” por um grupo de rapazes que estava passando. Então esse foi o primeiro incidente de homofobia que aconteceu no campus. Meu segundo incidente, que foi o grande incidente, foi no meu segundo ano.
Eu estava concorrendo para o Vice-Presidente do Corpo Estudantil e conforme as coisas progrediam, havia apenas essa retórica maluca. Eu ganhei, mas pouco depois, eu virei assistente residente em um prédio dormitório voltado completamente para calouros. Meu quarto ficava no primeiro andar, e isso foi tipo em 1998 ou 1999, então era época das secretárias eletrônicas. Eu não tinha celular, então voltava da aula e ouvia minhas mensagens de voz. Lembro-me muito claramente da primeira vez que isso aconteceu. A mensagem dizia: “estamos te observando viado”, e isso foi o suficiente para eu perceber que algo estava acontecendo.
Denison tinha, na época (não sei se ainda está ativo), um grupo no campus chamado Wingless Angels [Anjos Sem Asas]. Eu não conheço toda a história da organização, mas a partir de histórias antigas eles começaram como uma grupo de pegadinhas e colocaram um cavalo na biblioteca. Eram apenas piadas. Então, de alguma forma, nos anos 80 e 90, evoluiu para esse clube infantil privilegiado, que se sentiu muito incomodado com o desejo de Denison de ter um corpo discente diversificado e um corpo docente diversificado. Então isso começou, de verdade, com os estudantes de cor que não eram dos Estados Unidos.
Acelerando na história para quando eu estudei lá, e sendo muito bem assumida e super vocal, e super visível e super gay – e por super gay quero dizer apenas sendo eu mesma. A situação lá simplesmente explodiu.
Eles tinham codificadores de voz como no filme Pânico, então você não podia dizer de quem era a voz do outro lado. Tudo soava igual. Outra coisa que era única sobre essa situação é que Denison tinha uma árvore de telefone, então você só poderia dizer quem estava ligando se eles estivessem ligando do campus. Como as chamadas que eu recebia eram de foram do campus, os investigadores demoraram mais tempo para rastrear.
Enquanto as ameaças avançavam, panfletos eram jogados sob minha porta. Eles tiravam fotos de si mesmos em um milharal segurando um corpo e escreviam algo do tipo “estamos indo atrás de você”. Então, eles pegavam a foto, faziam a fotocópia para que você não tivesse a foto original para ser examinada. Foi realmente o meu pior pesadelo. Matthew Shepard foi assassinado logo antes disso, então foi aterrorizante. Honestamente, em um campus de 2.000 alunos, eu era um dos talvez cinco alunos assumidos que faziam parte da equipe de funcionários.
A situação fiou muito ruim. Eles continuaram a deixar essas mensagens de voz que dissecavam detalhes realmente macabros sobre como eles iam me matar. E então isso progrediu para uma noite, em que eu cheguei em casa e “VIADO” foi esculpido na minha porta e eles estavam ligando para o meu telefone dizendo “estamos aqui, estamos indo para pegar você”. Ao mesmo tempo, um residente entra batendo na minha porta dizendo: “Alguém está tentando invadir o prédio”.