Observação número um: Brian Garcia não se considera uma drag queen ou um drag king. No limiar de tudo, identifica-se como artista drag. Observação número dois: seus pronomes pessoais são o ele/dele. “Eu brinco com todos os gêneros, não com um gênero específico, então vamos parar de debater o que eu sou. É irritante”, afirma nas redes sociais.
Dito isto, agora podemos incluir neste artigo o seu pior pesadelo, Formelda Hyde, concorrente da quarta e mais recente temporada do programa The Boulet Brother’s Dragula, exibida desde o último dia 19 de outubro deste ano.
“Sou de Phoenix, Arizona, e sou sua enfermeira favorita da dark web. Eu sou uma pessoa muito borbulhante. Adoro me divertir, mas também adoro assustar as pessoas. Sou apenas uma pessoa muito excêntrica, eu só gosto de ser muito amigável. Formelda Hyde é meu pesadelo literal personificado, é tudo o que eu tenho medo neste mundo colocado em um”, diz no Meet Our Monsters.
Ainda no que é seu primeiro contato com o grande público, Formelda explica que tem medo de agulhas, médicos, enfermeiros e hospitais no geral. Segundo conta, sua maneira de lidar com seu medo estava se tornando um medo em si.
“Eu sou um monstro drag, eu sou imundo, eu sou a glória, eu sou assustador em tudo que um monstro drag é. Drag pode ser uma expressão de gênero, pode ser expressão de emoção, pode ser qualquer coisa que você quiser que seja. O que me atrai a essa estética sombria é o quanto de uma pessoa amigável eu sou. Eu adoro a atitude muito convidativa que eu tenho, mas então tem a aparência muito escura e assustadora que eu dou”, pondera.
Sendo assim, é de se imaginar como Formelda reagiria aos desafios exóticos de Dragula e a dinâmica particular deste reality show: “Só não quero comer nada nojento. Estou disposto a fazer qualquer coisa que for preciso se isso significa empurrar alguém para fora do palco. Eu poderia jogar sujo se eu precisar, mas eu escolho focar em mim mesmo neste tipo de situação”, conclui no Meet Our Monsters.
E é exatamente neste vídeo que Formelda usa uma roupa que homenageia um de seus longas-metragens favoritos, American Mary, película de terror lançada em 2012 e dirigida por Jen e Sylvia Soska, conhecidas como The Soska Sisters. Elas não somente viram o tributo, como gostaram e publicaram no Twitter.
Amante da sétima arte, o cinema, Formelda também projetou outras referências de filmes em seu look de entrada, como Hellraiser, um dos que mais gosta, junto a sua continuação. Dead Silence, de 2007, é dos que prefere assistir em encontros amorosos. Losing Isaiah, produção do ano de 1995, com Jessica Lange vivendo o papel de Margaret Lewin, em que perde um bebê, lhe arranca lágrimas. Exatamente o mesmo acontece com sua atuação em American Horror Story Freakshow. Para Formelda, ‘ela é realmente uma atriz excepcional’.
Saindo do mundo cinematográfico e retornando a roupa de estreia de Formelda, ela também referencia a franquia de jogo eletrônico Silent Hill, centrada em sobrevivência e horror. Apesar de todos estes elementos, o conceito original do look era outro, com uma máscara sem os palitos como dentes, botas diferenciadas e nada de agulhas nos dedos. Estética à parte, a competição se aproximava e é sobre este tópico que falaremos agora.
Na sequência, é chegada a hora de Horror Icons Reimagined, a estreia da quarta temporada de Dragula, que começa no melhor estilo The Boulet Brothers com um labirinto do terror dentro de uma casa mal-assombrada. Os monstros do elenco devem atravessá-lo como primeiro desafio do Fright Feat. Quem falhar é exterminado de cara; quem conseguir superá-lo leva para casa um kit de maquiagem de efeitos especiais da PPI e Skin Illustrator.
Em seguida, o floor show exige que você recrie um ícone do terror, atualizando-o com atenção para a maquiagem. Formelda escolhe o Boneco Billy, famoso pela franquia Saw e, curiosamente, sua função é explicar as armadilhas para os participantes, porém, ele não fez isso com Formelda, que teve um destino pior do que Jogos Mortais: o desafio de extermínio, com La Zavaleta, onde foram enterrados vivos enquanto insetos, diversos tipos de sujeiras e água são jogados em você.
O curioso aqui é que Formelda, antes de Dragula, já havia confeccionado uma moldura de caixão feita totalmente de papelão e tecido de veludo. O trabalho tomou três horas de seu tempo para ser concluído e, infelizmente, esta experiência prévia não ajudou no reality show. De qualquer forma, o jogo continua, não é mesmo?
Primeira pessoa exterminada, Formelda sai de cena em grande estilo, recebendo facadas até a morte ao som de Time to Die, o primeiro single das The Boulet Brothers. Na internet, sua eliminação gerou controvérsia, com pessoas alegando ser uma decisão injusta.
Para Formelda, isto não procede e o que vale é o lado positivo da experiência, a saber: trabalhar com profissionais inspiradores, conhecer artistas talentosos que passaram a ser sua família, mostrar sua arte em uma grande plataforma estabelecida e, de quebra, se apresentar para dois dos seus maiores ídolos, as mães do terror, as Boulet Brothers.
No final do dia isto o torna um vencedor que preserva o sentimento de gratidão, afinal, apesar da pouca idade, sua história está sendo feita e ela não começou ontem, e sim em 12 de janeiro de 2000, com o nascimento de Brian Garcia, o homem por trás da máscara, melhor dizendo, de Formelda Hyde.
Dono de um ótimo relacionamento com sua mãe, Brian recebe dela, desde sempre, o incentivo para prosseguir e viver seus sonhos, sejam eles quais forem. Ele é do tipo que não usa seu talento para alcançar a fama, e sim para deixá-la orgulhosa, pois é ela quem divulga seu trabalho, seja no supermercado local em Phoenix, cidade na qual vive até hoje, ou entre funcionários das lojas locais. A torcida é tamanha que ela mesma se montou e virou a Mama Formelda no Halloween deste ano.
Neste contexto, Brian passou a trabalhar, em 2014, aos 14 anos, como maquiador, entretanto, jamais se considerou um maquiador artístico. Apesar de ser autodidata e de ter maquiado outras pessoas, seu foco principal sempre fora ser artista visual. Ele não faz transformações de maquiagem em terceiros e opta por usar seu corpo e rosto para criar arte.
Assim, produz artisticamente no campo digital, onde adora analisar a possibilidade enorme de coisas que, atualmente, você pode fazer online com auxílio da tecnologia e do photoshop, por exemplo. É aqui que nasce Formelda Hyde.
Estamos em 16 de fevereiro de 2020 quando Formelda vem ao mundo oficialmente. Seu nome faz um trocadilho com o composto orgânico formaldehyde. Em menos de um mês, em quatro de março, a World of Wonder publica uma matéria sobre sua drag que, após um hiato inicial, retorna as atividades profissionais em seis de setembro do mesmo ano, com atuação na internet.
Na pele de Formelda, Brian objetiva expressar os elementos mais sombrios do horror em nosso mundo, utilizando para isto materiais não convencionais como suas máscaras feitas à mão que, ao serem vistas pelo público, indicam uma nova forma de olhar o jeito que drag, enquanto arte, é vista. Sua visão única fez Meatball, da primeira temporada de Dragula, revelar que Formelda é seu concorrente preferido de Dragula.
Em paralelo, este monstro é apaixonado por música e se sente inspirado por nomes como Lady Gaga, Pabllo Vittar e Amanda Lepore. Não sendo música natalina não vê problema em escutar. A estranheza que alimenta por este tipo de som é semelhante a reação das pessoas quando elas descobrem que Formelda não usa drogas ou toma bebidas alcoólicas com frequência. “Por que é tão louco que a merda que eu crio vem direto da minha cabeça sem drogas?”, indaga no Twitter.
Sustos à parte, o estilo de Formelda, hoje, evoluiu para uma mistura de arte punk com macabro, um caminho natural para quem tem, como monstro universal do coração, a noiva de Frankenstein. E o que mais este demônio da paralisa do sono tem a nos dizer? Logo abaixo, na nossa entrevista disponibilizada na íntegra, você descobre. Confira!
Olá, Feiosa! Boa tarde. Como você se sente hoje?
Olá! Estou bem, muito bem!
Aqui no Brasil faz um lindo dia ensolarado. Como está sendo o seu domingo?
Domingo é o meu dia para relaxar, então eu diria que está indo muito bem!
Apenas dois monstros mascarados participaram de The Boulet Brothers’ Dragula: Monikkie Shame, da segunda temporada, que durou apenas dois episódios, e Yovska, da terceira edição, eliminada em terceiro lugar. Estas experiências curtas lhe assustaram ou fizeram ter medo de participar da competição?
Com medo? Não. Claro que não. Isso me deixou ainda mais animado que eu fui capaz de trazer esse estilo de drag de volta para a tela grande! Meu estilo é tão diferente comparado com Yovska e Monikkie. Eu estava tão animado para mostrar a todos os looks que eu tinha guardado para a competição!
Algumas monstras te criticaram no primeiro episódio da quarta temporada de Dragula, alegando que você não tinha experiência de palco, por exemplo. Suas concorrentes estavam certas ou não?
Eu concordaria! Na época das filmagens eu não tinha nenhuma experiência de palco. Eu tinha acabado de fazer 21 anos antes de filmar, o que aqui nos EUA é muito difícil trabalhar em clubes se você tiver menos de 21 anos. Tive alguma experiência, mas não muita.
O bom de você ser exterminado por primeiro é que todos assistem a estreia da temporada, então, algo da sua participação ficou de fora da edição final?
Fiquei muito feliz com a edição e meu tempo que foi mostrado durante todo o episódio.
Quando lhe perguntaram se você mudaria alguma coisa no seu visual do primeiro episódio, você disse que poderia adicionar mais injeções. As The Boulet Brothers também criticaram seus sapatos. Você mudou de ideia atualmente?
No momento em que me perguntaram o que eu mudaria em minha roupa eu não estava com a mente definida para realmente escolher o que eu mudaria.