Mais do que qualquer outra coisa, RuPaul’s Drag Race All Stars 6 foi a temporada da redenção (ou Rudemption). Seja Jan finalmente vencendo o Rusical, Laganja Estranja retornando para vencer, absolutamente, uma Lip Sync Assassin ou Silky Nutmeg Ganache voltando de uma partida antecipada para ganhar seis dublagens consecutivas no “jogo dentro do jogo”, as rainhas mudando suas narrativas e saindo por cima tem sido o foco todas as semanas nesta temporada.
Indo para a final, temos dois tipos muito diferentes de rendenções na mesa: Eureka! e Ginger Minj, que chegaram à final em suas temporadas originais, têm a chance de garantir a coroa que lhes escapou por pouco; Kylie Sonique Love e Ra’Jah O’Hara, por outro lado, têm sua primeira chance de vitória depois de ambos ficarem em nono em suas temporadas originais. Elas são as rainhas com menor colocação a chegarem à final em um All Stars, batendo Monique Heart (que ficou em oitavo na temporada 10 e retornou para All Stars 4) por essa distinção. E enquanto eu respeito muito Eureka! e Ginger como concorrentes e rainhas, não posso deixar de me sentir atraído pela longa escalada de Kylie e Ra’Jah até o topo.
Ra’Jah saiu da 11ª temporada com pouco apoio dos fãs após uma edição que rotineiramente enfatizava seu ponto de vista negativo. É verdade que os editores trabalham com o que recebem, e a própria Ra’Jah admitiu que sua cabeça não estava num bom lugar em sua temporada original. Mas o que ela conquistou no All Stars 6, com uma atitude otimista nos confessionários e fogo na competição, foi estelar.
Kylie voltou depois de mais de uma década para competir mais uma vez – desta vez como uma mulher abertamente transgênero. Ela ainda seguiu o jogo com uma meta a ser atingida depois de ser cobrada por Michelle Visage no episódio 3 para se abrir como artista. E ela se abriu, se destacando em desafios como atuação, Snatch Game e uma performance de monólogo. A não ser que essa dupla fracasse no obstáculo final, parece correto que uma de nossas ex-top 9 seja aquelas a levarem para casa o título.
E um leva: “Estou esperando por este momento há 11 anos, porra”, diz nossa nova vencedora em um de seus primeiros confessionários após a coroação. Sim, muito depois da 2ª temporada, Kylie venceu RuPaul’s Drag Race All Stars 6. Ela é a primeira vencedora da época que o show passava na Logo desde que Trixie Mattel venceu em 2017, a primeira mulher trans a vencer RuPaul’s Drag Race e a segunda mulher trans a ganhar na maior franquia de Drag Race depois de Angele Anang, a vencedora de Drag Race Thailand Season 2. É uma vitória absolutamente impressionante para Kylie, mas como ela provou várias vezes nesta temporada, ela tem estado mais do que à altura da tarefa de garantir esta coroa.
Ela prova isso mais uma vez neste final, em que RuPaul e a atriz convidada Tanya Tucker encarregam os finalistas de escrever versos curtos para sua nova música, “This Is Our Country”. Elas também devem, como é de costume em um final de All Stars, dançar em uma apresentação coreografada da música, sentar-se com Ru e Michelle para uma entrevista final e fazer um discurso explicando por que elas deveriam ganhar uma vaga no Drag Race Hall of Fame.
Este final é único, já que todas as finalistas restantes são do sul dos Estados Unidos: Eureka! é do Tennessee, Ginger da Flórida, Kylie da Geórgia e Ra’Jah do Texas. O show não perde a oportunidade de nos presentear com um Rumix do sul dos EUA. Sempre fico um pouco desconfortável quando o programa abraça o patriotismo tão abertamente; embora o orgulho de onde você é pode ser poderoso, os Estados Unidos também é um país de tremendas contradições. Assistir a um programa de e sobre LGBTQIA+ celebrando os EUA em um ano que viu uma quantidade recorde de leis anti-LGBTQIA+ – em particular, anti-trans – promulgadas em todo o país parece discordante.
Mas as rainhas sobrevivem, com efeitos variados. Ra’Jah muito inteligente encontra uma maneira de criticar os EUA em seu verso, resumindo o medo que os pretos estadunidenses têm da polícia no país. (O fato de esta temporada ter sido filmada em algum momento do ano passado, na esteira das ondas massivas de protestos em apoio ao Black Lives Matter e contra a brutalidade policial, torna o verso de Ra’Jah ainda mais ressonante.) Ginger fica um pouco mais animada, mas ainda é significativa, enquanto o verso de Kylie tenta o melhor que pode apenas inclinar-se para uma vibração de música country. Eureka!, por outro lado, faz um verso sobre rainhas históricas que parece completamente desconectado da música.
O produto final de “This Is Our Country” não pode deixar de parecer desconexo, devido à forma drasticamente diferente de cada rainha. Não ajuda que pareça mais do que um pouco … inspirado, digamos, por “Old Town Road” de Lil Nas X. Mais de um artista pode adicionar influência do hip-hop à música country, é claro. Mas os paralelos parecem muito evidentes.
Em seus confessionários e discursos, você pode sentir cada uma das queens traçando seu caminho final para a vitória. Eureka! mais uma vez se destaca: a princípio um tanto negativamente em sua entrevista, como você pode sentir seu treinamento de imprensa da HBO entrar em ação (se atém aos seus pontos, soa um pouco travado), mas extremamente positivo em seu discurso. Ela oferece uma reflexão sobre não se encaixar como uma pessoa de tamanho grande, mas como encontrar seu próprio “ajuste personalizado” como uma drag queen. É uma coisa poderosa. Por outro lado, enquanto o discurso de Ginger parece muito ensaiado, ela tem um momento encantador e improvisado com RuPaul em sua entrevista, lembrando um momento em que Ru reivindicou Ginger como sua filha no set de “AJ and the Queen”.
Kylie e Ra’Jah, por outro lado, se dão bem em ambos. A entrevista de Kylie é generosa com Ru, mas o apresentar dá o crédito a ela por compartilhar sua história. Ela se aprofunda de uma forma que eu realmente aprecio e resume bem sua jornada em seu discurso. Ra’Jah faz um discurso lindo com uma metáfora sobre uma pedra bruta dando lugar à joia no centro dela e, em sua entrevista, Ru a elogia por conhecer sua marca e servir no palco principal. (Ele a chama de “uma maravilha na passarela”, e palavras mais verdadeiras talvez nunca tenham sido ditas em uma dessas entrevistas.)
Falando na passarela: todas as rainhas ficam bem em suas roupas finais, mas eu estaria mentindo se dissesse que alguém serve seu melhor looks esta semana. Ra’Jah nos dá um vestido roxo final com as pernas de fora que lembra o da semana anterior. Kylie vai com um vestido de bandeira americana que é mais interessante na explicação do que na execução, enquanto o visual final pesado de Ginger é bem desenhado, embora seja um ajuste estranho para ela. Não acredito muito quando ela diz que o visual é “quem Ginger Minj foi, quem Ginger Minj é e quem Ginger Minj vai ser“.
Eureka! é na verdade a vencedora suprema na passarela, saindo com um lindo design no estilo Bob Mackie. Ela realmente nos leva de volta às suas raízes de showgirl de uma forma incrível e mostra como seu senso de moda evoluiu ao longo das temporadas. Combinado com seu forte discurso final, a apresentação do palco principal de Eureka! percorre um longo caminho para ofuscar sua performance confusa no Rumix.
Mas com a dublagem final, para “Stupid Love” de Lady Gaga, há uma vencedora clara. Em um momento dinâmico e surpreendente, Kylie tropeça em seu casaco durante a performance – mas depois consegue dar uma cambalhota. Em um vestido! É um raciocínio tão rápido que, junto com seu forte trabalho durante toda a temporada e a resposta superior de votos dos fãs, torna ela a campeã óbvia do All Stars 6.
Em virtude desta temporada estar tão emparelhada, sem dúvida haverá aqueles que ficarão decepcionados porque sua favorita não ganhou. Faz parte da experiência da Drag Race ver sua escolha pessoal falhar: Eu assisti em primeira mão como minhas favoritas Asia O’Hara e A’keria C. Davenport perderam na primeira rodada de seus respectivos Lip Sync for the Crown, e vi a jornada quase perfeita de Monique Heart no All Stars 4 ser interrompida antes mesmo que ela pudesse dublar por seu lugar na Galeria da Fama de Drag Raceo Drag. Os fãs de Eureka!, Ginger e Ra’Jah têm muito que celebrar, no entanto: esta temporada foi verdadeiramente uma em que todos saíram como vencedoras. Um elenco de rainhas que atraiu ceticismo quando anunciado pela primeira vez acabou sendo uma das melhores temporadas que já vimos em anos. Eles são todas campeãs.
Ainda assim, eu sei que haverá apenas uma vencedor listada para esta temporada e um novo rosto no Hall of Fame. Kylie é uma campeã sem contestação: ela é uma vencedora histórica e uma vitoriosa merecedora. Sua coroação culmina o que tem sido um passeio delicioso e provavelmente será a última parte do Drag Race dos EUA que veremos este ano.
Isso é apenas Drag Race estadunidense, no entanto. Se há uma coisa que este ano está nos ensinando, é que nunca ficaremos sem mais. Com a segunda temporada da Drag Race Holland em andamento e a terceira edição da Drag Race UK se aproximando, não temos falta de nada para assistir. Mas agora, neste momento, vamos dar uma pausa, refletir sobre uma grande temporada e comemorar nossa mais nova campeã. Todos saúdam Kylie Sonique Love – ela tem grana, querida.
DESAQUENDANDO AS CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ok, a redução dos versos de All Stars Rumixes ficou absurda. Cada uma dessas rainhas tem quatro versos para enfiar tudo? Todo o crédito do mundo a Ra’Jah por fazer funcionar e ainda dizer algo significativo. As bonecas realmente merecem mais tempo e espaço para se expressarem.