Depois de ser contatada pela revista Philadelphia como parte de uma investigação sobre alegações de dois concorrentes de Drag Wars que ele havia assediado sexualmente online, o produtor Braden Chapman da Filadélfia – mais conhecido como a drag Mimi Imfurst – admitiu na sexta-feira estar envolvida em comportamento sexual não consensual, com os dois homens. Chapman, que ganhou fama internacional através de suas aparições na TV em RuPaul’s Drag Race, diz que “lamenta profundamente” suas “conversas sexuais contínuas de madrugada que envolviam uma interpretação cibernética profunda e muitas vezes exagerada que, embora fosse bem recebida por alguns, fez outros se sentirem desconfortáveis e usados”.
Alegações sobre Chapman começaram a surgir depois que uma postagem privada no Facebook, feita em outubro de 2017, pelo performer burlesco Eric Groff, da Filadélfia, conhecido como Turnpyke, citou o produtor de cinema Harvey Weinstein como parte de um apelo para os membros da comunidade LGBT denunciassem os assédios sexuais já sofridos:
“Quem é o Harvey Weinstein na sua cidade ou bairro? Hey gayborhood (vizinhança gay, ou seja, área com grande concentração de LGBTs) alguém já te mandou mensagem a todas as horas da noite te fazendo mil perguntas estranhas? Repetidamente tocar em você de forma inadequada, mesmo depois de dizer-lhes para parar? Predadores conhecidos trabalhando na vida gay sobre a qual sussurramos. Eu sei que conversei com muitas pessoas no meio gay com histórias semelhantes. Quem é seu HW? Vamos educar esses filhos da puta”.
Agora, dois dos artistas que responderam ao post de Groff, Kyle Ayotte e Ethan Hunter Raysor, deram informações, exclusivamente, à revista Philadelphia, na qual detalham os avanços sexuais indesejados e repetidos de Chapman em relação a mensagens virtuais.
Ambos, Ayotte e Raysor, dizem que estão se apresentando, porque conhecem outras pessoas que enfrentaram experiências semelhantes e não falam abertamente sobre o assunto por medo de serem “incluídas na lista negra da comunidade”. Eles também querem “dissipar estereótipos de assédio sexual na comunidade LGBTQ”.
“As pessoas geralmente presumem que, como somos atraídos pelo mesmo sexo, não podemos ser vítimas do mesmo nível de assédio sexual indesejado de pessoas heterossexuais”, diz Ayotte. “Isso não é absolutamente verdade. O assédio sexual não discrimina – pode acontecer com qualquer pessoa”.
“Acredito que a comunidade LGBTQ precisa ter mais conversas sobre assédio sexual no meio drag e nos ambientes de convívio sociais em geral”, acrescenta Raysor. “Nós não estamos isentos da dor que esses incidentes causam e do estigma que vem de chamar as pessoas poderosas responsáveis por isso. O que eu experimentei foi um abuso de poder através da manipulação. Gay ou hetero, ninguém deveria ter que passar por isso”.
Depois de ser questionado sobre a natureza de suas conversas com Ayotte e Raysor, Chapman forneceu à revista Philadelphia a seguinte declaração:
Chegou ao meu conhecimento que minhas conversas sexuais via mensagens on-line eram desconfortáveis para várias pessoas com quem eu estive envolvido. [Com duas dessas pessoas, tive conversas sexuais contínuas de madrugada que envolviam uma interpretação cibernética profunda e muitas vezes exagerada que, embora fosse bem recebida por alguns, deixava outras pessoas desconfortáveis e se sentindo usadas. Por isso eu estou incrivelmente triste. Eu achava que nossa conversa, que incluía discussões sexuais e não-sexuais, era consensual. Percebo agora que minha intenção de me envolver em uma conversa lúdica e bem-vinda que iniciei não teve o impacto sobre eles que achei que aconteceria.
Lamento profundamente que, devido à minha natureza de pessoa pública, eles se sentissem pressionados ou obrigados a participar dessas conversas, uma das quais durou mais de dois anos. Eu gostaria de ter sabido mais claramente que eles não queriam participar dessas conversas. Se eu soubesse disso, eu teria parado. Eu respeito muito Kyle e Ethan e nunca quis fazê-los se sentirem violados. Eu pedi desculpas a Ethan em outubro, quando isso chegou a minha atenção, e agora estendo minhas desculpas aos outros que também machuquei. Eu não sou perfeito. Cometi grandes erros dos quais realmente me arrependo e me sinto humilhado.
Estou muito triste por isso e só posso trabalhar para ser uma pessoa melhor e líder na Filadélfia. Se alguém tiver problemas, espero que eles falem comigo em particular para que eu possa me desculpar diretamente com eles.
Chapman é um dos poucos artistas drag da Filadélfia a garantir o estrelato nacional nos últimos anos. Sua persona drag, Mimi Imfurst, é conhecida por seu comportamento fisicamente agressivo e hipersexual, e é talvez mais conhecida por ter sido desqualificada da terceira temporada de Drag Race depois de levantar a drag queen India Ferrah sem permissão enquanto dublavam por suas vidas.
A influência de Chapman na cena drag da Filadélfia vem da produção de Drag Wars, um programa de competição semelhante ao Drag Race, mas com artistas gays da região se apresentando semanalmente nas boates e clubes da Filadélfia, fundado por ele em 2012. Como criador, produtor e juiz principal de Drag Wars, Chapman supervisiona todos os aspectos da competição, incluindo audições e treinamento de talentos. O sucesso de Chapman permitiu que ele criasse e produzisse outros eventos populares de drag na cidade, como o Philly Drag Awards e o Drag Diva Brunch, além de encabeçar regularmente eventos em toda vizinhança gay e além.
“As implicações de uma vitória em Drag Wars são tão significativas que podem alavancar a carreira de uma drag amadora”, disse um produtor local de show e performer drag à revista Philadelphia. “Alguns vencedores conseguiram garantir carreiras em tempo integral como artistas drag e arranjaram shows nacionais e na Filadélfia que aumentaram sua visibilidade. Artistas que conseguem trabalhar com alguém tão famoso quanto Mimi conquistam um nível reconhecimento e respeito na cena”.
KYLE AYOTTE, 25 anos, disse que começou a experimentar encontros desconfortáveis com Chapman no momento em que começou a explorar seriamente as oportunidades de performances drag. “No começo, parecia que ele estava apenas flertando comigo, inofensivamente“, diz Ayotte, “e então ele insinuou ter segredos que as pessoas iriam julgá-lo”.
Conhecido pelo nome drag Lorna Doom, Ayotte diz que Chapman lhe enviou pela primeira vez mensagens no Facebook em setembro de 2015 sobre querer que ele “explore algumas coisas, mas veados fofocam” depois de vê-lo em um evento na Gayborhood. Ayotte diz que seu fascínio inicial pela famosa drag queen “se transformou em pena que eventualmente o levou a cortar laços” com Chapman.
A revista Philadelphia analisou todo histórico do Facebook Messenger entre Ayotte e Chapman, que data de 18 de setembro de 2015 a 15 de outubro de 2017. Com base nos intervalos de tempo das mensagens, Chapman iniciou várias conversas sexuais com Ayotte, mencionando que ele tem “algum fetiche estranho que gostaria de explorar, com certeza, mas é difícil quando você tem que ser discreto”, e rotineiramente observando sua angústia sexual e desejos específicos.
“Eu meio que gostei dele no começo, porque fiquei surpreso com o quão aberto Braden era comigo”, diz Ayotte da primeira vez que eles se envolveram no chat, o que levou a uma troca sexualmente explícita na manhã de 19 de setembro de 2015. “Eu Fiquei tão chocado que ele se abriu para mim tão rapidamente, e eu não conseguia entender o que estava acontecendo ou como lidar com isso. A mais famosa drag queen da cidade estava interessada em mim e eu me sentia obrigada a seguir o fluxo”.
Durante esses meses, seus bate-papos variaram de conversas sobre Chapman trabalhando em seu álbum de estúdio The Fire, ele tendo um “período de seca” em sua vida amorosa. Após sua primeira sessão de bate-papo sexual, Ayotte frequentemente expressou desinteresse em continuar, dizendo a Chapman: “Eu não me sinto confortável em fazê-lo”. Chapman insistiu, dizendo a Ayotte que “nada disso é realista” e “é simplesmente gostoso, vamos fingir“ e lembrando-o de que ele era “o único com quem falo sobre essas coisas”.
“Foi manipulação através de um sentimento de culpa”, diz Ayotte sobre essas experiências agora. “Braden estava se aproveitando da minha inexperiência na cena drag para satisfazer seu fetiche sexual a ponto de eu me sentir pessoalmente obrigado a continuar com isso, porque eu sonhava em me tornar uma drag queen profissional. Eu só fiz isso porque ele me fez sentir pena de sua solidão e me fez pensar que eu era o único em quem ele podia confiar. Isso foi tudo mentira”.
Alguns meses depois, Ayotte participou do ciclo 7 de Drag Wars, que começou em 19 de maio de 2016, e ele diz que Chapman não fez propostas sexuais a ele durante a competição.
No entanto, em 8 de novembro de 2016, alguns meses depois de sua eliminação da competição em junho de 2016, Ayotte diz que Chapman fez novas propostas sexuais. Ayotte concordou com o pedido de Chapman, dizendo agora que ele achava que Chapman estender a mão novamente “foi um breve momento de desespero”.
Ayotte diz que Chapman o propôs mais uma vez no início de 2017 enquanto se preparava para a audição para o ciclo 8 de Drag Wars. Desta vez, Ayotte sentiu que Chapman estava “balançando seu poder na comunidade drag como uma maneira de continuar trocando mensagens [com ele]”. Em 7 de fevereiro de 2017, antes das audições Drag Wars em abril, Chapman enviou mensagens a Ayotte perguntando “o que você pensaria em Drag Wars mudando para as sextas-feiras?” e “você ainda poderia fazer se fosse numa sexta-feira”. Ayotte achava que, como Chapman sabia de seus interesses por drag, era “quase impossível não desistir”.
“Quando Braden se tornou muito direto sobre o meu envolvimento em Drag Wars para o ciclo 8, eu sabia que estava basicamente em uma armadilha”, diz Ayotte. “Começou a parecer uma situação de derrota dupla. Eu iria ganhar mais visibilidade na cena drag devido ao meu envolvimento na competição, às custas de manter esse segredo único que Chapman afirma que só eu conhecia, ou perder tudo se eu contasse a outras pessoas sobre isso e parasse de mandar mensagens para ele”.
O SEGUNDO HOMEM, ETHAN HUNTER RAYSOR, um dançarino de balé de 24 anos que se transformou na drag queen conhecida como Lilith Del Ray, conta sobre encontros similares com Chapman a partir de fevereiro de 2017, quando ele era relativamente novo na cena drag. Raysor, que mora em Wilmington, diz que ele estava “em uma situação vulnerável na época” depois de lidar com uma separação conjugal que fazia com que performar na Filadélfia “parecesse uma fuga”.
“Como eu estava lidando com o meu divórcio, eu me arrisquei para entender melhor e lidar com todo o drama pessoal”, diz Raysor. “Olhando para nossas conversas iniciais, eu sinto como se Braden se aproveitasse da minha vulnerabilidade”. Segundo Raysor, uma conversa amigável entre Chapman deu uma rápida virada no momento em que ele revelou que ele tinha um fetiche por ciber-chat sexual.
A revista Philadelphia revisou todo o histórico do Facebook Messenger entre Raysor e Chapman, que data de 20 de fevereiro de 2017 a 31 de janeiro de 2018. Baseado nos registros de data e hora, Chapman contatou Raysor várias vezes antes e depois de sua participação em Drag Wars, com conversas variando dos interesses pela arte drag de Raysor a mensagens sexuais que incluíam o desejo de que Raysor se envolvesse em conversas sexuais de “interesses estranhos”. Chapman também pediu que Raysor o conectasse com alguém que tivesse “uma imaginação ativa” que ele “os compensaria”. A imagem do avatar (foto de perfil) no Facebook Messenger de Raysor corresponde às capturas de tela de Ayotte.
Em sua primeira conversa via Facebook no dia 20 de fevereiro, Chapman procurou Raysor sobre testes para Drag Wars, e os dois rapidamente se familiarizaram. “Eu me abri para Braden, porque fiquei chocado que ele estava pessoalmente interessado na minha participação em sua grande competição”, diz Raysor sobre sua conversa inicial. “Eu confessei meu interesse em drag, meus problemas de relacionamento e tudo mais. Braden parecia uma pessoa decente e eu só queria causar uma boa impressão antes da competição”.