O ilustrador e desenhista Wil Vasque, de 46 anos, acusa a Netflix de plagiar um projeto seu para a criação da série Super Drags, que estreou na plataforma no último dia 9 de novembro. Segundo Vasque, a produção copia a história de Drag Dragons, animação criada por ele em 2010. Neste sábado, 22, a Netflix confirmou, por meio de nota, que Super Drags “não será renovada para uma segunda temporada”.
Dias após o lançamento da série na Netflix, Vasque, representado pelo advogado Thiago Bueno, entrou com um processo contra a empresa de streaming e pediu indenização. Em entrevista ao portal E+, do jornal O Estado de S. Paulo, o ilustrador disse que a plataforma, a princípio, contestou a acusação sem ler seu conteúdo e o chamou de “lunático”. Ele afirma que a juíza do caso pediu para que se juntassem provas visuais e aguarda uma audiência sobre a acusação.
“Eu estou me sentindo já vitorioso de certa forma, porque o fato de tirar (não ter continuidade da série) já é uma presunção de culpa”, disse Vasque. O ilustrador acredita que o cancelamento, apesar da manifestação de grupos que pediam a suspensão da série é motivado pelo processo. Sem confirmação oficial, especulava-se que Super Drags teria mais duas temporadas.
O E entrou em contato com a Netflix e pediu um posicionamento sobre o caso. A reportagem também questionou o motivo do cancelamento de Super Drags e se a descontinuidade teria relação com o processo movido por Vasque. Em nota, a empresa respondeu o seguinte:
Super Drags não será renovada para uma segunda temporada na Netflix. A série não teve uma audiência tão grande quanto esperávamos. Temos muito orgulho da produção e somos muito gratos aos nossos parceiros da Combo Estúdio, aos talentos e aos fãs que apoiaram a série. Super Drags ficará no nosso serviço pelos próximos anos, espalhando o seu highlight e a sua mensagem de amizade e tolerância.
A reportagem também entrou em contato por telefone com a Combo Estúdio, produtora da série, mas não obteve resposta nem encontrou um endereço eletrônico para solicitar um posicionamento. O espaço está aberto caso a empresa queira de pronunciar.
Super Drags e Drag Dragons
Wil Vasque, que trabalhou por cinco anos como diretor de animação do site humorístico brasileiro Humortadela, conta que criou as personagens de Drag Dragons em 2010. O material foi apresentado no mesmo ano na Blue Space, casa noturna famosa pelas performances e shows de drag queens.
Na ocasião, o projeto contava, segundo ele, com personagens originais até que “o dono da boate comprou a ideia e quis pegar a Silvetty Montilla para fazer uma das vozes” da animação. Silvetty Montilla também está em Super Drags dublando a personagem Vedete Champagne, o que, para Vasque, foi uma surpresa, segundo ele relatou em uma publicação no Facebook.
“A ideia era inédita e divertida, não existia drags em cartoons, nem mesmo no universo RuPaul, e levou anos de estudo de roteiro, voz, incluindo meu primo e uma turma boa de teatro”, escreveu Vasque na rede social em 3 de novembro, dias após uma festa de lançamento de Super Drags.
A história criada por ele é composta por quatro personagens (Super Drags tem três) que levam uma vida normal e, à noite, se transformam em super drag queens heroínas. A premissa é a mesma da série da Netflix.
No final de outubro, a empresa de streaming lançou a animação na casa noturna The Week. O ilustrador conta que o dono da Blue Space soube da festa e, tanto ele quanto as pessoas que conheciam Drag Dragons, pensaram que Vasque fazia parte da produção.
Após oito anos da criação de Drag Dragons, o ilustrador não registrou as personagens como sendo de sua autoria, mas já fez uma ata notarial sobre os fatos e apresentou os vídeos de Drag Dragons que estão publicados em seu canal no YouTube, datados de 2010.
Polêmica
Apesar de a plataforma de streaming indicar de maneira clara que a animação é destinada para adultos (como Rick and Morty, BoJack Horseman e Big Mouth), isso não impediu que grupos criassem notícias falsas afirmando que a série pretende “incentivar a homossexualidade em crianças”.
A repercussão da fake news foi tanta que a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) chegou a divulgar uma nota pedindo o cancelamento da animação sob a falsa premissa de que ela estaria disponível para crianças.