Ela é a sua aberração de circo favorita, então, sua entrada na sala de trabalho, durante a primeira temporada de um certo spin-off canadense, continua fazendo todo sentido: “Você não pensou que poderia trazer a corrida para o Canadá sem Scarlett BoBo, não é?”
Engolidora de fogo, contorcionista aérea e festeira itinerante, ela ficou amplamente conhecida ao sair de Canada’s Drag Race como vice-campeã, porém, sabemos que, se tratando de Rugirls, por mais que a maioria ignore, todas elas têm um antes e depois em relação ao programa, e é sobre eles que falaremos nesta Who’s That Queen?
Matthew Cameron veio ao mundo em primeiro de dezembro de 1990, na capital do Canadá, Ottawa, situada na província de Ontário. Filho de uma cantora, foi exposto a arte desde cedo, seja com as músicas que sua mãe cantava para ele ou nos shows infantis que inventava pela casa ou escola.
Anos depois, Matthew formou-se na Humber College, uma instituição fundada em 1967 com foco na instrução politécnica e corpo docente premiado. Interessado no mundo acadêmico, também estudou circo e, entre um afazer e outro, conheceu uma das figuras fundamentais para a biografia que estava sendo construída.
Tina, sua melhor amiga, é a responsável por, popularmente falando, lhe tirar do armário e fazê-lo se assumir como gay. Influência forte em seu período de formação enquanto jovem, ela, junto com a mãe de Matthew e seus melhores amigos, formam o principal núcleo de apoio para a nova profissão que logo, logo surgiria.
Em 2007 Matthew começa a fazer drag, mas se muda para Toronto em 2009, local no qual vive até 2019, quando se radica na cidade portuária de Vancouver. Viagens à parte, a origem de seu nome artístico é uma delas, só que estamos falando de uma viagem no tempo mesmo.
Cerca de 25, 30 anos atrás, a falecida Ginette BoBo iniciou sua própria dinastia. Tenora BoBo faz parte dela e certa vez pegou Matthew no flagra, se montando. Ciente do potencial do que viu a sua frente, ela convenceu Ginette a adotar mais uma neta. Em seguida, juntos no banheiro, pensaram no nome Scarlett pela predileção dele pela cor vermelha e por causa da personagem do longa-metragem E o Vento Levou, Katie Scarlett O’Hara.
Como rainha, Scarlett pôde fazer muito, o que inclui turnê europeia, apresentações internacionais de Amsterdã à Paris, passando por Nova York e suas vitórias em concursos como Miss Crews & Tango e Woody’s. Mais além, lançou, em 15 de junho de 2015, o álbum #BoBoSexuality: The ReRelease, com quatro singles: Still Fucking Going (feat Allysin Chaynes), Toss Shade (com Quanah Style), Break My Heart e Stand Back. A música marcaria presença massiva em sua próxima aventura.
Transmitida de dois de julho à três de setembro de 2020, a edição inaugural de Canada’s Drag Race nos leva até o momento em que Scarlett descobriu que faria parte do elenco. Avisada via Zoom, ela apenas chorou bastante neste dia que considera o melhor de sua vida e o grande recomeço de sua carreira.
Para esta competição, Scarlett recebeu um conselho específico de suas mães drag: “Não volte para casa antes de ganhar e, se não ganhar, não volte para casa de jeito nenhum”. Bom, podemos dizer que este incentivo diferenciado deu certo em partes, não é mesmo?
No episódio três, Not Sorry Aboot It, Scarlett surpreendeu a si mesma ao concluir que era capaz de escrever, gravar, performar uma música e ainda acabar como as três melhores, pela primeira vez, em inacreditáveis 24 horas. Uma experiência difícil que a apresentou ao conceito de resiliência.
Outro momento que a própria Scarlett já destacou para à imprensa é o episódio oito, Welcome to The Family, do indefectível makeover. Após vencer o mini desafio, Everybody Love Puppets, ela precisou montar em drag o ugandense Dennis, devidamente rebatizado como Violet BoBo.
Por fim, esta Rugirl admite que deveria ter investido mais tempo nas roupas do makeover, afinal, quando estava no processo de decidir quais looks seriam utilizados, Scarlett tinha uma jaqueta para combinar com eles que esqueceu completamente de trazer para a competição, então, se viu obrigada a costurar de noite para compensar.
Findada sua participação em Canada’s Drag Race, Scarlett sabe que tudo valeu a pena, principalmente porque se antes era conhecida como um azarão, que viveu um período no qual raramente era contratada para shows, recebia intimidações e bebia a maior parte do dia, agora é diferente, pois tem a seu favor uma plataforma que a permite criar espaços para novos artistas que chegam com sede de reconhecimento, como o Absolut Empires Ball.
Certame direcionado a artistas drag de todos os gêneros e estilos, sua fundação remete a uma característica evidente de Scarlett: a lealdade aos amigos e a vontade de vê-los tendo tanto sucesso como ela gostaria de ter. Quanah Style não me deixa mentir.
Desamparada em um feriado de Natal, ela passou a data, a convite de Scarlett, com a própria e sua família. Outro momento valioso de ambas é quando aconteceu o Orgulho na praça Yonge and Dundas e Scarlett fez um tributo à Madonna, chamando-a ao palco para cantar “Keep people together, keep people together, forever and ever”, a música final da trilha sonora do filme Truth or Dare, da Rainha do Pop, Madonna.
Ao sabermos de tudo isto elencado até aqui, fica mais indigesto ainda ler a notícia que conta sobre a invasão de privacidade vivida por Scarlett quando anônimos tentaram monetizar suas fotos sem roupa. O crime virtual resultou em seu afastamento das redes sociais para, na sequência, virar um ensaio assinado pelo fotógrafo recifense Fernando Cysneiros, da The Drag Series.
Dando continuidade a sua carreira, ela está escrevendo seu primeiro livro, em paralelo aos singles Drop the Money feat Goddexx, Qu’est Ce Que Fuck e C.E.O., lançados cronologicamente, em três de julho, 31 de julho e 23 de outubro deste ano. Eles antecedem um novo álbum, ainda sem data de lançamento definida. Algo normal para quem alega passar por uma mudança significativa ao usar sua peruca de cantora. E o que mais?
Bom, depois de performar, Scarlett costuma seguir religiosamente um ritual específico: ela acende um baseado de tamanho G, fuma, engatinha até a lanchonete mais próxima e, sem ordem de preferência, devora um hambúrguer com batatas fritas, uma pizza, carne de rua ou, vá lá, um pinto. O que vier destes itens é lucro e mais do que isto você descobre logo abaixo, na nossa entrevista exclusiva. Confira!
Levando em conta que seu primeiro videoclipe foi lançado em nove de outubro de 2014, podemos dizer que você faz música há pouco mais de sete anos. Em todo este tempo, quais foram as principais mudanças que aconteceram para quem faz drag music, como você?
Acho que as mudanças foram que é mais possível para fazer sua própria música. Meu primeiro álbum eu fiz no armário dos meus amigos e estávamos apenas descobrindo o que fazer e esperando que soasse bem. Graças a Deus soou bem, haha! É mais fácil agora entrar em um estúdio de gravação e colaborar em faixas ultimamente.
Se você pudesse formar um grupo pop só de garotas com mais quatro drag queens, quem seriam e por que razão?
Oh meu Deus, é tão difícil escolher apenas quatro!!! Acho que teria que escolher: Adore Delano porque ela é tão icônica e eu adoro sua música, seu estilo, vibração e perspectiva sobre a vida. Widow Von’Du porque ela é uma das artistas mais fodonas que eu já conheci e ela é tão icônica. Bimini Bom-Boulash porque. Outra vez. Um ícone. Então droga. Tem estilo e energia incríveis. Por último eu teria que dizer Rhea Litre porque ela é tão sem classe quanto eu sou, haha!
Quanah Style é uma artista muito presente em seu trabalho, seja na composição das músicas ou compartilhando os vocais. O que te faz querer colaborar com ela?
Quanah é minha bicha! Eu a amo tanto. Ela me inspira todos os dias. De sua música ao seu trabalho para suas comunidades. Ela é icônica. Ela trabalha tanto. Ela está sempre se esforçando profissionalmente e criativamente e eu respeito muito isso. Nós realmente nos entendemos como ninguém mais. Quando nos reunimos para trabalhar em um projeto não há nada que possa nos impedir de estourar. Trabalhamos tão bem juntas porque nos damos tão bem. Trabalharei com Quanah para sempre. Estamos apenas começando, Henny! Espere até ouvir o que estamos trabalhando a seguir.
“Qu’est Ce Que Fuck” é a sua música mais baixada no Spotify, com 9.017 downloads. Você esperava isto? Qual é a sua análise desta faixa?
Yasss! Eu amo tanto isso! Honestamente, fico sempre passada quando alguém conhece a minha vida musical. Adoro fazer música e o fato de as pessoas se divertirem com ela me faz tão feliz. Qu’est Ce Que Fuck é algo que eu sempre dizia nos meus shows e então eu disse no Drag Race e ele só ficou preso, então eu queria escrever uma música de bunda bomba para ir com isso, haha.
“C.E.O.” é o seu último single. Como nasceu esta música?
Eu amooooo CEO. É definitivamente uma das minhas músicas favoritas que já escrevi. Veio apenas de querer ser chefa, sentir-se chefa, agir como chefa. Meu melhor amigo Monty (metade do MoJo Toronto) é o maior chefe de todos eles e está sempre me dizendo para agir como uma chefa. CEO sou eu dizendo a cada bicha que somos todas chefas, Henny. Nós corremos essa merda e não vamos a lugar nenhum.
“Drop The Money” é sua melhor música, seu maior momento musical para mim. Como seria o videoclipe perfeito para esta faixa?
Awwww, muito obrigada! Drop The Money é tão foda. Foi definitivamente um som diferente para mim e estou feliz que decidimos correr nessa direção. Estou trabalhando nos videoclipes agora para todas essas faixas e estou tão animada para Drop The Money porque vai ser tão quente, sacana, bagunçado e selvagem!!!!!
De acordo com o Spotify, Toronto é a cidade onde você tem mais ouvintes mensais. Como é fazer música neste lugar?
Passei a maior parte da minha carreira em Toronto, então Toronto sempre ocupa um lugar especial em meu coração. Muitos dos meus “primeiros” foram em Toronto. Minha carreira floresceu em Toronto. É um lugar maravilhoso para ser criativo porque existem tantos tipos diferentes de artistas em cada esquina e estar rodeado por outras pessoas com ideias semelhantes é ótimo para sua alma e sua criatividade.
Quando você se lembra da gravação do videoclipe de “Break My Heart”, quais são seus três momentos favoritos?
Oh meu Deus, só três?!!! Esse vídeo foi muito divertido de fazer! Me lembro de me esfregar nos meus amigos gostosos, juntando todas as minhas garotas burlescas para aquele vídeo. Nos divertimos muito andando por aí nos sentindo o máximo. Todos nós só queríamos nos apoiar e nos divertir. Judy Virago com seus meninos é provavelmente minha favorita, hahaha.
Sobre o episódio dos grupos pop, no terceiro episódio: como foi a gravação da música? Era isto que esperava?
Eu estava muito animada para finalmente conseguir esse desafio porque é o que eu faço de melhor, Henny. Escreva algumas letras fortes e faça pop no palco. Então, quando recebemos esse desafio, eu só queria sair completamente fora. Era praticamente o que eu esperava. Essa maldita coreografia quase me acertou, mas eu empurrei e fiz funcionar e finalmente consegui meu lugar entre as melhores! Essa passarela também foi um dos meus looks favoritos, então estou tão feliz que tudo funcionou tão bem.
No momento em que você se inscreveu para Canada’s Drag Race imagino que você já sabia sobre a possibilidade de participar do Rumix de U Wear it Well, é claro, se você avançasse na competição. O que não foi mostrado neste episódio que você adoraria que o público visse?
Não tínhamos ideia do que o último episódio nos traria. Quando descobrimos sobre estar no remix de U Wear It Well ficamos animadas. Foi a semana mais louca da competição, mas valeu cada minuto. Engraçado nisso é que eu fiz isso com o desafio Not Sorry Aboot It também. Eu tinha escrito e memorizado um verso inteiro, então arranhei completamente e comecei de novo. Meu primeiro verso para U Wear It Well foi muito fofo e divertido, mas eu queria que ele tivesse mais profundidade e fosse mais eu. Eu queria ter uma mensagem no meu verso e estou tão feliz que mudei porque acho que se tornou muito icônico. Foi definitivamente um dos melhores momentos da minha vida.
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