Parafraseando o Parabéns da Xuxa: “Hoje vai ter uma drag, peruca e montação, muito close pra você, é o seu aniversário, vamos festejar e as Dragliciosas receber”, afinal, há exatos seis anos, no dia oito de outubro de 2015, estreava a primeira edição de The Switch Drag Race – El Arte Del Transformismo.
E para celebrar a primeira – das atuais sete franquias internacionais – de RuPaul’s Drag Race, achei justo convocar Francisca Thompson, drag queen originária de Rancagua, no Chile, e integrante do elenco desta temporada inaugural, na qual competiu, na época, com 21 anos, sendo a rainha mais jovem dela.
Francisca entrou na competição no episódio nove, Reloaded, exibido originalmente em 12 de novembro. Nele ela fez uma entrada digna de plot twist, afinal, junto a mais duas competidoras, as três novas drags foram reveladas para o restante do elenco em meio a um número de mágica.
Salva após um baile estilo Thriller, Francisca chega ao episódio seguinte, o de número dez, Drama Queen (15 de novembro), no entanto, falha no desafio principal, de atuação, e vai parar no duelo de eliminação com Jessica Jess Parker, que a corta do programa.
Ao final do dia, Francisca saiu do jogo como a terceira eliminada, na décima quinta posição, a primeira a conseguir tal feito, seguida apenas pela justamente cancelada Soju, da décima primeira temporada de RuPaul’s Drag Race, mas este é outro tópico e não nos convém agora, não é mesmo? Voltemos ao que interessa de verdade.
Na época que aconteceu tudo que você está lendo aqui, Francisca vivia com o nome social de Camilo Aballay, no entanto, com a maturidade e autoconhecimento concedidos pelo tempo, descobriu-se Francisca Ballay, a mulher trans que dá vida a sua drag e que me concedeu uma entrevista que você lê agora mesmo, na íntegra. Confira!
Francisca: a primeira temporada de The Switch Drag Race – El Arte Del Transformismo, foi ao ar em 2015. Depois de seis anos, qual a importância deste programa na sua carreira?
Sou muito grata pela convocação para o programa, onde sem dúvida alguma foram chamadas as drags mais influentes do país. Embora minha participação tenha sido de alguns dias, coisas que já estavam programadas, fiquei com um amplo conhecimento onde isso me ajudou a me conhecer, aprender, a enfrentar críticas.
Qual foi o desafio mais custoso no programa para você?
O desafio mais complicado foi claramente o de cantar, aquele que levou a minha eliminação do programa, claramente porque nunca na minha vida artística eu tive aulas de canto. É um desafio que eu aceitei e aprendi muito.
Quando um reality show é transmitido, ajuda muito que o público “compre” a história do participante. O que você acha que fez as pessoas gostarem de você no programa?
Eu sinto que muitas pessoas gostaram de mim porque eu realmente me mostrei como eu sou, sem fingir um personagem na hora de entrar no programa. Eu era real e assim me expondo ao que as pessoas poderiam me amar ou poderiam odiar.
Em que ano você começou a fazer drag?
Minha carreira artística como drag queen começou em 2013 na cidade de Valparaíso, Chile, sendo parte do elenco estável da boate Pagano Industry. Nesses anos realizei meus shows em várias partes do país, sendo reconhecida nacionalmente. Eu também fiz parte do elenco dos Anos dourados da tia Carlina com o comediante chileno Ernesto Belloni. Próximos anos, participando de eventos de maquiagem, moda e festivais populares no Chile. Na minha vida artística nunca passou pela minha cabeça ser cantora, não me sinto confortável fazendo isso. Nunca tive aulas de canto, nem no programa me deram aulas, nem me aproximo da possibilidade de poder lançar meu primeiro single que tenho certeza que seria um sucesso.
Infelizmente, você foi a terceira eliminada. Olhando para trás, o que você acha que ficou no seu caminho e o que você faria diferente hoje?
Eu fui de fato a terceira eliminada do programa, embora eu seja muito grata, devemos lembrar que tudo isso foi criado, minha eliminação foi planejada, o que você faria diferente? Talvez eu não aceitasse um contrato onde eu estava exposta a cantar sendo que não é meu forte, é algo que eu não faço no meu dia a dia. Acho que enfrentaria críticas do júri diferente, naquela época talvez eles me incomodassem muito, sem entender que era um jogo. Isso é o que eu faria diferente e eu leria meu contrato muito bem, já que eu não estaria patente a uma situação como cantar, mas ainda foi maravilhoso.
Finalmente: em um mundo cheio de obstáculos, como se manter relevante?
É um mundo cheio de obstáculos e complicações, mas onde há oportunidades que devem ser aproveitadas na hora e no lugar exatos. O mais importante é ser constante, se reinventar na mesma arte e como pessoa através do trabalho e esforço, aprendizado e ensino.
Hoje você se identifica como uma mulher trans. Como foi sua jornada até se descobrir como tal?
Quando eu era pequena eu não conhecia o termo transgênero, eu sempre senti que algo em mim não estava certo, algo era diferente. Quando eu tomo a decisão de fazer um show de drag queen. Ser capaz de me caracterizar como uma mulher me ajudou a perceber o que eu realmente queria. Isso no início me custou, tive que aprender a entender o que estava acontecendo, estudar o que era, realmente saber quem eu sou e começar o processo de autoconhecimento. Foi uma mudança realmente maravilhosa, mas ao mesmo tempo sacrificada, mas o que Francisca Thompson me ajudou foi a me mostrar ao mundo e adquirir coragem para dizer quem eu sou. No início, o fato de ser Thompson me fez feliz, mas então, quando eu saía dos meus saltos, minha personalidade mudava retumbantemente. Eu não entendia, logo percebi que eu simplesmente não queria deixar de ser Francisca. Hoje estou trabalhando em novos projetos, em breve para lançar minha linha de roupas.
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