Se em termos de reality show o plot twist é a alma do negócio, então é justo afirmar que Drag Race Thailand deve muito à Kana Warrior, finalista deste programa e agora a convidada especial desta edição da Who’s That Queen?
Participante da segunda temporada desta versão tailandesa da competição criada por RuPaul, Kana inicia sua jornada exatamente no dia 11 de janeiro de 2019, com a exibição de Re-Born This Way, primeiro episódio, no qual é a décima quarta e última rainha a entrar na sala de trabalho. Dizem que os últimos serão os primeiros, não é?
De qualquer forma, logo de cara é possível perceber porque esta drag chama-se assim: Kana vem de seu nome de batismo, Khanasak, e seu sobrenome, Nakrob, quer dizer guerreiro. Com sua roupa de entrada é possível captar a mensagem, entretanto, conceitos à parte, na sequência ela acaba apenas salva, o que se repete no episódio dois, Under The Rainbow.
E é a partir de agora que Kana exercita, biblicamente falando, sua capacidade de lutar, afinal, não são nem um, nem dois lip syncs, mas três dublagens consecutivas.
Na primeira delas a vítima foi Katy Killer; na segunda, o trio Kandy Zyanide, Srimala e Kana protagonizou também a segunda dublagem tripla da história de Drag Race Thailand, com a eliminação de Kandy, porém, na terceira batalha, esta guerreira, na companhia de Maya B’Haro, recebeu o primeiro duplo Sashay do programa. Seria o fim ou ela ainda continuaria enchendo o palco principal de sangue?
“O que aconteceu no passado… Foi uma boa experiência. Eu sou a pessoa que não acredita tanto em rezar, mas eu acredito em ações. Não acredito no passado, mas vou mantê-lo como minha nova lição. De qualquer forma, o que vocês viram foi apenas o passado. Não me arrependo disso porque estou pensando em mostrar meu bom presente ao mundo. Você não precisa me amar só pelo que você viu no programa. Mas por favor, ame minha arte que eu te mostrei. Pode ser que se você me conhecer mais, ou outros lados de mim, de repente você vai me odiar ou me amar mais do que os outros. Lembre-se do meu nome de artista: Kana Warrior. E sorria”, disse no Instagram em oito de fevereiro de 2019.
Corta para quase um mês depois, primeiro de março, episódio oito, Heavenly Snatch, o fatídico Snatch Game. Kana retorna à competição, ao lado da já citada Kandy. Mais a frente, no episódio nove, seguindo o estilo comeback ao pé da letra, ela também volta a ficar entre as duas piores, desta vez ao lado de Angele Anang, porém, a performance, praticamente feita em dupla, garante a ambas o primeiro Shantay em dupla da temporada, e o segundo da história do programa, depois de Amadiva e Natalia Pliacam na temporada inaugural.
Deste ponto em diante, a arena de batalha de Kana começa a ficar mais tranquila. Sua vitória no desafio principal, no episódio dez, e no desafio de passarela, no episódio 11, lhe garantiram a passagem para o ponto de chegada: a grande final.
Exibido em cinco de abril de 2019, o décimo terceiro episódio da segunda temporada de Drag Race Thailand fora encabeçado por Angele Anang, Kana Warrior e Kandy Zyanide, com Angele sagrando-se vencedora. Em relação a suas competidoras, Kana possuía o pior histórico, com quatro dublagens e duas vitórias, entretanto, isto não diz tudo sobre ela. Sabemos que rainhas nascem rainhas, certo?
Khanasak nasceu no dia 17 de março de 1989, em Nakhon Sawan, uma cidade tailandesa. Atualmente radicado em Bancoque, fez o ensino médio na Satri Nakhonsawan School. Anos depois, estudou performing arts na Bangkok University.
O aprendizado lhe ajudou a trabalhar não apenas como autônomo, mas também na função de ator e diretor na faculdade comunitária BU Theatre Company, assim como na Dreambox Theatre Bkk, uma companhia de teatro e artes performáticas.
Por fim, ainda fora do mundo drag, Khanasak também atuou como palestrante especial para a Bangkok University e é contratado, desde o dia primeiro de janeiro deste ano, da Kantana Group, uma produtora que começou no mercado na década de 50.
Dito tudo isto, mais de dois anos depois do fim de sua temporada, o que Kana tem a dizer e, melhor do que isto, o que ela tem feito após a exposição mundial adquirida em Drag Race Thailand? É o que você descobre logo abaixo, na íntegra, com a entrevista que fizemos. Confira!
Passaram-se pouco mais de dois anos desde o fim da segunda temporada de Drag Race Thailand. Como você se relaciona com esta experiência hoje?
Estou impressionada e muito orgulhosa de me unir à família Drag Race. Fiz tantas amizades e também conexões com as concorrentes, mas infelizmente isso na Tailândia, drag queen, não é tão popular e não é muito aceito. É difícil para a rainha que não tem talentos variados ter a chance de fazer um trabalho variado.
Durante sua temporada você infelizmente esteve no bottom dois quatro vezes, nos episódios 3, 4, 5 e 9. Se você pudesse voltar no tempo para refazer um dos desafios principais desses episódios, qual seria? O que você faria de diferente hoje?
Claro. Se eu pudesse consertar isso, acho que serei mais inteligente. Saberei como jogar, talvez use uma boa estratégia e alguns vestidos legais que eu nunca usei no programa.
Como foi a gravação do seu lip sync com Angele Anang no episódio nove? Eu a entrevistei e agora quero saber o seu lado da história. Você gravou mais de uma vez? Muitas coisas ficaram fora do ar?
Naquela época eu não desisti nem senti nenhuma perda. Eu apenas sinto como disse no programa. Achei que se cometesse muitos erros, não deveriam me dar uma chance, porque eu acho que não é justo se alguém que acabou de perder apenas perca a chance para mim, que sempre errou. E quando estávamos filmando não tem nada mais do que foi ao ar, mas quase todo mundo no estúdio estava chorando tanto, incluindo os juízes e a equipe.
Me lembro perfeitamente do Rumix do top five, onde você fez uma versão de “I Will Survive”, e me lembro ainda melhor da cantora que ajudou as drags para o desafio. Ela olhou para você e sentiu que você sabia fazer música e que poderia fazer uma carreira a partir disto. Kana, você já considerou lançar sua própria música, um single, EP ou videoclipe?
Na verdade, eu tinha uma música com videoclipe e programa online antes de entrar na competição. Você pode conferir, é “Dragxercise”, na minha página. Não é um grande projeto e nem famoso, mas isso fez com que as pessoas da comunidade drag começassem a me conhecer. E depois de terminar o Drag Race Thailand eu não continuei a fazer música ou o programa porque gastei muito dinheiro com a competição. Como eu disse, as rainhas tailandesas não têm muito apoio para o trabalho.
Se você pudesse formar um grupo pop de garotas com mais quatro drag queens, quem você escolheria e por que motivo? Qual seria o nome do primeiro single e do grupo?
Os membros do grupo serão eu, Srimala, Maya, Miss Gimhuay e Tormai porque ficamos tão próximas no episódio cinco, do desafio de atuação. E nomearei o grupo como “Baan Mae Tormai” (House of Tormai), que é o nome do nosso grupo desde o programa. O primeiro single pode ser “Loser Roller Coaster”.
Infelizmente, Drag Race Thailand foi cancelado e não teremos uma terceira temporada. O que você acha disto? Se você pudesse nomear drags para a próxima temporada, quem seriam elas?
Ainda espero que tenha a terceira temporada. Acredito que se um dia na Tailândia nossa cultura drag crescer, será aceita e ficará mais compreensível. Teremos mais apoio, mais oportunidades e poderemos fazer isso como uma carreira principal e não precisaremos nos preocupar com nada. Se eu pudesse nomear as rainhas para a próxima temporada… Eu não sei ainda, mas me deixe nomear o Hypesompobbk.
Se compararmos os números das redes sociais das Rugirls americanas com as asiáticas, as drags asiáticas estão sempre em desvantagem. O que causa isto, Kana?
Talvez seja por ser conhecido e aceito. Na Tailândia, as pessoas não nos entendem muito bem e nossa história ainda não pode entrar em suas cabeças. Hoje em dia, o famoso LGBTQIA + na Tailândia veio principalmente de ser ídolo da internet ou youtuber, mais do que de reality show ou drag queen. Acho que talvez meu seguidor nas redes sociais seja mais estrangeiro do que tailandês.
Eu gostaria que você nos contasse sobre sua vida fora do mundo do drag, especificamente seu trabalho como instrutor de ioga e treinador de atuação. Como você começou a trabalhar nestas áreas?
Depois de me formar no bacharelado tive a chance de trabalhar como treinador de atuação na universidade em que me formei. Estudei artes cênicas e tive muitas oportunidades de desempenhar um bom papel no teatro, como Dr. Frank no show Rocky Horror Picture, Emcee no Cabaret e o jogador principal em Pippin. De trabalhar duro na universidade e chances de melhorar minhas habilidades. Isso me faz poder realizar muitas coisas hoje em dia. Sou coreógrafo de musicais, drama e eventos. Eu sou um treinador de atuação em alguns lugares e espero ser um produtor em algum projeto no futuro que pareça divertido e desafiador porque eu não estou fazendo drag como uma carreira principal. Mas eu amo todas essas coisas que eu disse a você.
Você nasceu em Nakhon Sawan, Tailândia. Como crescer nesta cidade influenciou a artista que você é hoje? Quando você pensa sobre sua cidade natal, qual é a memória mais antiga que você tem?
Crescer fora da cidade não me afetou muito. Estou sempre em busca de uma chance de fazer coisas na cidade grande. Não deixei que a distância e o limite me impedissem de ter uma chance. Fiz muitas atividades na escola e sempre fui uma líder. Isso me deu certeza sobre meu próprio caminho. Mas uma coisa que me deixou desconfortável naquela época foi que a minha família não queria que eu fosse gay, então tentei ser um menino e encobri isso por um longo tempo.
Infelizmente esta é uma realidade comum aqui no Brasil também…
Até chegar à universidade, posso fazer mais sobre o que quero. No momento, ainda me lembro de onde vim. Mas a memória não é clara, algo como eu cresci e também como se fosse o fim de alguma coisa. Quando estou quase terminando a competição, minha mãe detectou que ela tem um câncer e é um câncer em estágio final.
Nem consigo imaginar o estado da sua cabeça neste momento.
Depois de terminar o programa não demorou muito. Decidi voltar para minha cidade natal e cuidar dela antes que ela se fosse. Na Tailândia, geralmente cuidamos de nossos pais quando eles envelhecem ou ficam doentes. Eu fiz isso fazendo o que amo também.
Vamos imaginar que você possa “trocar de corpo” com uma drag queen por um dia, seja ela uma rainha atual ou uma que já faleceu. Você pode viver como ela por 24 horas. Qual é a sua escolhida? Qual é a primeira coisa que você fará como esta drag?
Trocaria de corpo com a Bandit de Drag Race Thailand temporada dois. A primeira coisa que farei é uma festa onde serão convidados todos os caras gostosos da coleção dela, rs!
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