Dos assuntos mais comentados no Twitter até incontáveis memes na internet, ela colocou a primeira temporada de Canada’s Drag Race na lista dos assuntos que obrigatoriamente devem ser comentados, seja entre amigos ou ilustres desconhecidos nas redes sociais.
Prova viva de que “losing is the new winning”, Jimbo fez muito mais do que angariar o quarto lugar nesta franquia canadense, exibida de dois de julho à três de setembro de 2020, pelo canal Crave em parceria com a World of Wonder.
Através dos dez episódios desta temporada, dos quais participou de nove, Jimbo foi construindo uma marca que se solidificou por meio da adesão popular, afinal, o que seria do artista sem o aplauso do público? Se a coroa e o cheque não lhe pertencem, ganhe as pessoas. Sobre isto, nossa drag palhaça não pode ser acusada de não tentar.
Logo na estreia da competição, em “Eh-Leganza Eh-xtravaganza”, Jimbo entrega o inesperado com sua reação inicial ao ver a sala de trabalho pela primeira vez: “Oh, wow! Oh my… God! Ok”. Como esquecer? Mais do que isto, ela monopoliza o mini-desafio com sua subida épica pela montanha. Os gritos eu não preciso comentar aqui porque tenho certeza que você está rindo deles neste exato momento.
Brincadeiras à parte, mais a frente, Jimbo continua mostrando serviço ao ficar entre as três melhores depois de criar um visual de alta costura como parte do desafio principal. Para fazê-lo, ela usou materiais de uma caixa com o tema “Rainblow It Up”.
“Feito com centenas de zíperes e miçangas de Mardi Gras. Essa saia era tão pesada que eu mal conseguia andar e tentar achar meu bolso com meu gloss foi um pesadelo! Por favor, desculpe minhas botas. Eu deveria ter coberto elas ou ter andado de joelhos”, diz.
No episódio dois, as 11 drags restantes são divididas em dois grupos para um desafio de atuação. Jimbo novamente garante seu lugar entre as melhores e, ao lado disto, apresenta um visual que você não deveria precisar do Google para lembrar dele: sua passarela com o tema “Não é a minha primeira vez”, na qual a tarefa era recriar a sua primeira montação.
Em seguida, no terceiro episódio, “Not Sorry Aboot It”, Jimbo garantiu um safe com sua performance feita para o grupo pop feminino criado para esta ocasião. Desfilando, ela se deu melhor na categoria “Québec-ky With The Good Hair”.
“Ela é peluda em todos os lugares certos! Eu me diverti muito saltando, balançando e tecendo o palco principal do Canada’s Drag Race. O desafio do cabelo era um desafio dos sonhos para mim por colaborar com meu parceiro Brady Taylor. Eu desenhei e fiz o bodysuit e os arreios e o Brady trançou 14 perucas para fazer esse look! Agora estou agendando passeios de pônei”, afirma no Instagram.
Na sequência, no quarto episódio, em mais um desafio de costura, as rainhas restantes foram divididas em três grupos. O de Jimbo, chamado “Maison Papier”, formado por ela, Tynomi Banks e Ilona Verley, fora incumbido de criar um look com um material específico:
“Este look é feito de flores de papel, serpentinas, canudos de papel, copos de cone e papel decorativo! Adorei nossa apresentação e me diverti muito trabalhando com Ilona e Tynomi! Uma batalha épica de lip sync”, conta.
De fato, de seu grupo, somente ela se salvou do bottom. Livre para arrasar outro dia, garante sua primeira e única vitória no episódio cinco, do temido Snatch Game. A performance como Joan Rivers, feita pela segunda vez em sua vida (a outra foi em sua fita de audição para o programa), se mostrou um acerto.
No episódio seis, mais importante do que também ter uma performance elogiada e classificada como acima da média devido ao seu comercial criado para o desafio principal, Jimbo torna célebre seu look de jeans, desenhado por ela mesma, inclusive o facekini.
Infelizmente, daqui para frente, o seu histórico competitivo passa a ser irregular, com o ápice sendo seu Sashay Away, no episódio nove, semifinal, após dublar “Closer”, de Tegan and Sara, contra Rita Baga. Os três looks feitos por Jimbo para o baile da neve tiveram seu peso para que isto acontecesse, claro.
“Meu terceiro e último look para o baile. Eu padronizei, cortei, costurei, adaptei, forrei e embelezei este vestido para o nosso desafio de design! Construí minha coroa com arame, cola quente, brilhos, enfeites de natal e folhagem falsa! Tenho orgulho de dizer que projetei e fiz todos os elementos de todos os meus três looks servidos no baile! Michelle Visage ficou maravilhada com o que eu havia conquistado e foi tão fofa em apontar todo o trabalho que foi feito em meus looks! Disseram que faltava polimento a todos eles, mas estou tão orgulhosa que os desenhei e fiz para representar minha arte, meu ofício, meu senso de humor e meu amor por drag em um palco tão incrível!”, pontua nas redes sociais.
Daqui deste ponto em diante, presumo que você, assim como eu, ficou pessoalmente marcado pela saída de cena épica de Jimbo do programa. Insira aqui a palavra why e berre com todas as forças dos seus pulmões, certo?
Finalizando o capítulo Canada’s Drag Race, a mensagem de despedida no espelho fazia um bom lembrete: a verdadeira competição drag é a vida real, sendo assim, como ela começou para Jimbo? É o que você descobre agora nesta edição da Who’s That Queen?
James Insell nasceu no dia dez de novembro de 1983, em Londres, Ontário, no Canadá. A partir da infância, na companhia de seu irmão Jeff, começa a explorar o mundo da criatividade, no qual limites de gênero não existem. Para menino ou menina? Quem se importa?
Em paralelo as novas descobertas, James mantinha um interesse particular por acessórios brilhantes, tidos como do mundo feminino. Aos cinco anos, para ver seu filho feliz e se divertindo, a mãe de James o maquiava e, sem perceber, alimentava algo que, no futuro, passaria de brincadeira para profissão.
Se por um lado existia apoio materno incondicional, por outro, o paterno não facilitava. Como as idas de James ao guarda-roupa da mãe e da avó passaram a acontecer mais vezes e seus interesses ficavam mais explícitos, seu pai não reagiu bem. Para ele, tudo isto era motivo de vergonha. Lembre-se que estamos falando de uma criança LGBTQIA+ com seis anos de idade em 1989.
Ao lado do processo de descoberta da própria sexualidade, James e seu irmão também cresceram em um lar de alcoólatras, o que naturalmente aumentava suas inseguranças e medos. O pai também ordenou que ele fizesse faculdade para ter uma carreira formal no futuro, sendo assim, James cursou Biologia na University of Western Ontário.
Contrariando os desejos do pai, após a formatura James se mudou para o oeste, se radicando em Victoria, British Columbia, local onde vive até hoje, com seu marido Brady e dois filhos dele de outro casamento, os quais são criados por ambos. Lá, em vez de trabalhar como biólogo, virou figurinista e design de produção. É aqui que um novo nome começa a se oficializar: o parceiro de James passou a chamá-lo de Jimbo, como seu pai fazia na infância, ao cantar uma pequena música sobre uma pessoa chamada Jimbalina. O boca a boca foi feito e no final do dia mais uma rainha ganhava um batismo.
Agora como drag queen, Jimbo poderia expressar sua sexualidade e sacanagem na cena drag de Victoria, uma cidade na qual os performers tem bastante vontade de mostrar o que sabem fazer, correto? Em partes.
Durante muitos anos, pelos quais se perfeiçoou como drag palhaça, Jimbo não foi aceita pela comunidade drag local, inclusive sem nunca receber, durante dez anos, um único convite para fazer show da principal drag da cidade.
Na falta de apoio, criou a House of Jimbo, que funciona na sua própria casa como local para apresentações e shows. Através deste projeto autoral ela consegue fazer stand-up, um dos pilares de sua drag, e não o lip sync. Ao lado disto, Jimbo se empenha para fazer a audiência questionar o que é sexy, bonito, feio e sacana, algo comum para um jovem tímido da década de oitenta que passou bastante tempo condenando a si mesmo por testar as normais sociais.
Neste embalo, Jimbo estrelou, em quatro de julho de 2019, o videoclipe de “Open Heart”, de Adrian Chalifour, o primeiro de sua carreira. Os figurinos que usa neste trabalho foram feitos por ela mesma.
Música é algo importante para Jimbo, uma pessoa que vive rodeada de instrumentistas, ama cantar ao vivo e pretende lançar um álbum em breve. Enquanto isto não acontece, ela já disponibilizou, no último dia 31 de dezembro de 2020, seu primeiro single, “Tits in a Box”, composto pela própria em parceria com Andrew Feels. Infelizmente, não está disponível no Spotify.
Fora do mundo musical, Jimbo é uma palhaça treinada com diploma universitário que preza pelo que podemos chamar de surpresa compartilhada. Segundo ela conta, quando artista e público se surpreendem juntos e riem em parceria, a mágica acontece.
Por fim, com Jimbo, você e eu aprendemos que não devemos ter medo de palhaços, principalmente quando eles têm peitos grandes. A mãe dela a aprova e se vê nesta artista que, atualmente aos 37 anos de idade, tem muito a dizer, como pode-se comprovar na entrevista abaixo, disponibilizada na íntegra. Confira!
Já se passaram sete meses desde que o último episódio de Canada’s Drag Race foi exibido. Depois deste tempo todo, qual análise você faz da sua participação no programa? Como drag queen, o que esta experiência lhe acrescentou?
Eu me diverti muito e foi um sonho que se tornou realidade! Fiz o meu melhor e estou muito orgulhosa do que mostrei. Acho que foi um ótimo instantâneo de quem eu era como drag performer naquela época e o culminar de muitos anos de trabalho. Desde então, continuei a melhorar minha drag e minha arte e sou muito grata por ter essa plataforma para compartilhar minha arte com tantos.
Até hoje eu morro de rir com os seus versos “You make messy TV, back rolls, now in HD”, para o desafio do terceiro episódio, “Not Sorry Aboot It”, o primeiro com temática musical da temporada. Quando você se lembra da gravação desta música feita para o programa, qual a primeira coisa que vem a sua cabeça?
Me lembro de escrever no meu quarto, eu tinha escrito muitos versos e versões diferentes. Eu sempre amei escrever e cantar e me diverti muito encontrando maneiras engraçadas de ler as outras rainhas!
Se você pudesse formar um grupo pop de garotas com mais quatro drag queens, quem você escolheria e por qual motivo?
Eu escolheria a Sra. Vanjie, Brook Lynn Hytes, Shea Couleé e Trixie Mattel! Eu seleciono Vanjie pela sua dança, Brooke pela beleza dela, Shea pela atitude fodona e Trixie por seu senso de humor.
O que você conhece ou sabe sobre a cena drag aqui do Brasil?
Conheço algumas artistas drags brasileiras. Acho que o drag brasileiro é sensual, emocional, lindo e elevado!
Adorei saber disso e aproveitando a ocasião: qual a sua opinião sobre esta performance da Klox, drag queen brasileira?
Vídeo legal! Adoro o conceito e aquele acessório de cabeça!
Como surgiu o convite para você participar do videoclipe de “Open Heart”, de Adrian Chalifour? Alguma lembrança engraçada do dia da gravação?
Temos um amigo em comum, o diretor Shiraz Higgins. Adrian pediu para trabalhar com um artista que dá tudo de si em sua arte e que faz isso porque é isso que eles fazem. Shiraz sugeriu que eu fosse a estrela e o resto é história. Filmamos em um armazém frio até tarde da noite. Foi a primeira vez que fiz algo assim e foi muito divertido, emocionante e também muito difícil!
Você é uma figurinista. Para quem está começando a trabalhar nesta área, que conselho você dá?
Meu principal conselho é seguir em frente e tentar surpreender a si mesmo. Minha drag favorita é sempre minha drag mais recente. É importante aprender e evoluir. A arte é fluida e você deve sempre ultrapassar seus limites e testá-los. Consiga também um bom ferro, uma tesoura afiada e muitos alfinetes! Não tenha pressa e coloque amor e intenção em tudo o que fizer.
Se você pudesse sugerir nomes para a segunda temporada de Canada’s Drag Race, quem com certeza faria parte do elenco?
Gia Metric, Vivianne Vanderpuss e Eddi Licious.
Como você apresentaria a cena drag canadense para uma pessoa que ainda não a conhece? Quais são os pontos que a destacam?
Drag canadense é sobre comédia, personagem e interação. Não há uma grande cena de concurso aqui no Canadá, então, drag é menos focado no polimento e mais focado na experiência do público do artista.
Neste momento o Brasil é governado por um presidente fascista chamado Jair Bolsonaro, que odeia a diversidade. Qual mensagem você gostaria de enviar para a comunidade LGBTQIA + brasileira?
O amor prevalece e o tempo cura tudo. O mundo está mudando todos os dias e há menos espaço para a intolerância do que nunca. Fique forte, seja visível, espalhe amor e tenha fé que um dia seremos todos aceitos por sermos quem somos onde estamos.
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