Seja bem-vindo a bordo do voo B-O-A. Lembramos que o serviço não para até a terra boa. No caso de um pouso inesperado causado por turbulências, vá até a porta de emergência para um sashay away feroz e seguro! A capitã de hoje? Ela é uma vadia na chegada.
BOA é, em suas próprias palavras, ‘caótica, pateta e criativa’, logo, penso que se trata da primeira convidada canadense mais do que apropriada para esta edição da Who’s That Queen?
Conhecida em escala mundial com a exibição da primeira temporada de Canada’s Drag Race, transmitida de dois de julho a três de setembro de 2020, BOA tem apenas 25 anos e muito para contar. Vamos conhecê-la.
Ryan Boa nasceu no dia nove de maio de 1995, em Windsor, Ontário. Durante sua adolescência, em 2009, ele assistiu a primeira temporada de um programa que talvez você conheça, apresentado por uma drag queen que se declara como a super modelo do mundo:
“Me lembro de ter 14 anos e assistir RuPaul’s Drag Race como se fosse ontem. Ver pessoas assumidamente queers foi um trampolim e eu sou tão grato por ter crescido em uma época que tinha esse tipo de programa”, disse, no Twitter.
Este contato inicial com o mundo drag se tornaria mais próximo tempos depois, quando Ryan trabalhou, por volta dos 18 anos, em um local que odiava. Nesta fase difícil, a admiração por drag queens permanecia e aumentava: como tinha uma vida noturna agitada, costumava vê-las performando, sonhando em fazer o mesmo.
Aliado ao desejo de fazer drag, Ryan começou a “brincar” com maquiagem ao mesmo tempo em que assistia vídeos com esta temática. Em paralelo, os primeiros shows foram aparecendo, delineando o caminho a seguir.
Aos 19 anos, em 2014, Ryan vive dois acontecimentos importantes: no dia quatro de junho ele se muda para Toronto, segundo ele, para mergulhar de cabeça na igreja, na comunidade Wellesley e, claro, na arte drag. É neste ponto que, oficialmente, começa sua carreira como drag queen.
A escolha do nome foi difícil, mesmo com amigos o chamando de Boa desde sempre. Uma namorada lhe explicou o significado do acrônimo BOA: bitch on arrival, ou, em bom português, vadia na chegada, um epíteto interessante para quem estava começando a fazer drag.
Se por um lado a vida profissional se solidificava aos poucos, por outro, no campo pessoal, Ryan viveria um episódio triste, infelizmente bem conhecido por homens gays: em maio de 2015, ele convidou um rapaz para beber em sua casa. Descrito como extrovertido, carismático e doce, esta pessoa insistiu para que eles tivessem relações sexuais. Sem o consentimento de Ryan, ele o espancou e roubou seu celular, carteira, laptop e dinheiro. “Quando você conhece alguém e pensa que quer trazê-lo para casa, pense duas vezes”, reflete, no Facebook.
Aliado aos danos físicos, materiais e o abuso psicológico, este episódio lamentável impressiona ainda mais quando sabemos que Toronto é conhecida, entre outros, por sua segurança. Foi nesta cidade que uma campanha online surgiu para amparar Ryan nas despesas médicas e dos itens roubados. Uma foto do agressor também circulou na internet.
Mas, avançando no tempo, logo, logo as coisas melhorariam para Ryan. Em 22 de junho de 2015, ele começa a namorar com Connor McCalden, um parceiro em todos os sentidos da palavra, que lhe dá o apoio necessário e suporte para o dia a dia, e ainda o ajuda com a sua drag, criando adereços, penteando perucas e costurando roupas.
E o suporte do atual marido de Ryan não se restringe apenas ao trabalho: em maio de 2019, após seu aniversário, decide parar de beber e usar drogas, atitudes que ele tem consciência que o prejudicaram em Toronto (também tem TDAH, conhecido como Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Detectado o problema, Connor, sóbrio desde março, ouviu de Ryan um pedido de ajuda, prontamente atendido: ambos foram ao Alcoólicos Anônimos (AA), local no qual se encontrou com um conselheiro.
“Vinte e um meses sóbrio. Eu não tenho uma sinopse ou qualquer coisa inspiradora este mês, mas eu vou dizer isso… A melhor parte de escolher mudar minha vida e ficar sóbrio foi não ter que acordar de ressaca todos os dias! Em vez disso, acordo, abro as cortinas e me masturbo violentamente para todos os meus vizinhos verem”, afirma no Instagram, onde publica posts mensais sobre sua sobriedade.
A determinação fora recompensada: por volta de três meses depois que começou a cuidar da dependência química, são anunciadas as audições para o elenco de Canada’s Drag Race, um momento propício para Boa, que estava focada em melhorar sua drag no período de tratamento.
Quando soube que faria parte do programa, a primeira coisa que fez foi chorar. Em seguida, almoçou com seu parceiro para comemorar, mas a “festa” acaba por aí: ciente de que estava diante de uma grande oportunidade, ela revirou seu apartamento costurando roupas, além de começar a fazer aulas de dança com uma amiga íntima, professora de dança. Ah, Boa também fez muitas compras.
Em Canada’s Drag Race, ela achou que tudo foi muito mais difícil do que ela imaginava, além do fator estresse, causado, por exemplo, pelas restrições de tempo para que as drags fiquem prontas para os desafios e passarelas.
Eliminada no episódio seis, após dublar contra Ilona Verley “Scars To Your Beautiful”, de Alessia Cara, Boa não guarda boas memórias deste dia: ela odeia esta música e só sentia dor durante o lip sync: seja pelo peso das asas que carregava devido a passarela com o tema jeans, que machucaram seu braço; ou por estar de salto o tempo todo. Independente do desfecho, o garoto gay e afeminado, que assistira RuPaul’s Drag Race na adolescência, havia virado uma Rugirl. Um caminho sem volta.
Como efeito natural da fama gerada pela maior plataforma drag da atualidade, Boa já coleciona momentos típicos de estrelas pop. Duvida? Seja levando seu lixo para fora de casa ou na academia, ela é constantemente reconhecida, inclusive fora do drag, o que gera pedidos de selfies várias vezes ao dia.
Certa vez, quando Ryan estava na sala de espera do aeroporto, de repente ele é convidado para se dirigir a uma mesa. Nela, uma funcionária o reconhece e diz que é muita fã de sua drag. Como forma de carinho, ela mudou a cadeira de Ryan no avião para que ele tivesse uma fileira inteira para chamar de sua.
Estas são algumas das histórias e fatos que ajudaram a Boa a ser quem é hoje. Boa! Brincadeira. Agora eu te convido para ler, na íntegra, minha entrevista com a estrela canadense de reality televisivo. Confira!
Você teve sua primeira experiência de canto no episódio Not Sorry Aboot It. Quando você se lembra da gravação dos seus versos, qual é a primeira lembrança que vem na sua mente?
Quando gravei pela primeira vez para “Not Sorry Aboot It” me lembro de estar tão animada porque eu sabia que meu verso era fogo absoluto! Definitivamente canalizei minha Nicki Minaj interior com “Eggplant friday”!
Se você pudesse formar um grupo pop de garotas com mais quatro drag queens, quem você escolheria e por qual razão?
Meu Deus, há um milhão que eu poderia escolher! Não vou citar os nomes exatos, mas vou te dizer que escolheria aquelas que são todas multifacetadas e não tão lindas como eu, então me destaco no grupo.
Gettin’ In Done, seu primeiro single, foi lançado em 25 de dezembro de 2020. Como foi o processo de criação?
Este foi um projeto tão emocionante! Basicamente, dois compositores/produtores e eu. Dei a eles uma sensação de que tipo de música queria fazer, eles escreveram e fiz as mudanças que eu queria. Em seguida fomos para o estúdio gravar e foi aí que a magia realmente aconteceu.
*Nota do repórter: os compositores são Kevin Howley, Leah Allyce Canali e Stacey Kay. Kevin também produziu esta faixa.
Priyanka, Rita Baga, Scarlett BoBo e Jimbo também lançaram seus singles. Você acompanhou estes lançamentos? O Canadá é uma potência a ser considerada sobre música de drag?
A verdadeira corrida começa após o Drag Race, então, eu afivelei e liguei meu motor! Assim que saí do programa sabia que eu queria escrever uma faixa de vadia com grito de torcida que ficasse presa na cabeça das pessoas.
Quando você pensa sobre sua participação em Canada’s Drag Race, quais são seus três momentos favoritos por ordem de importância?
Meus três momentos favoritos teriam que ser minha briga com Kyne no primeiro episódio, porque ela realmente mostrou que não se deve mexer comigo, risos! Meu segundo seria definitivamente o desafio do grupo feminino, porque eu realmente brilhei naquele episódio e o terceiro teria que ser o episódio seis, onde fui eliminada. Esse foi um episódio muito emocional e eu fui capaz de falar sobre meus traumas e espero que comigo contando minha história, eu tenha sido capaz de ajudar outros sobreviventes.
A segunda temporada de Canada’s Drag Race foi anunciada. Se você pudesse escolher o elenco, quais drags estariam no show com certeza?
Meu Deus! Há tantas rainhas icônicas vivendo no Canadá que eu nem consigo decidir, mas sei que adoraria ver Eve 6000, Ivory Towers e Naomi Leone.
Para concluirmos por hoje: como foi a gravação do videoclipe de Gettin’ In Done? Você lançará mais videoclipes?
A gravação do vídeo foi uma explosão absoluta! Eu queria fazer algo verdadeiro comigo, mas mais adulto. Eu fiz as piadas de peido e essas ficam velhas. Eu queria ter algo caótico, engraçado e icônico.
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