Drag Queens

Who’s That Queen? Tempest DuJour

“Eu escolhi você pessoalmente para participar do programa”, disse RuPaul para Tempest DuJour, em 2015, no 1° dia de gravações da S7 de Drag Race. Saiba mais a seguir na nossa entrevista exclusiva com Tempest.

🕓 9 min de leitura

Nas redes sociais ela define-se como ‘o cordeiro sacrificial maior que a vida da 7ª temporada de RuPaul’s Drag Race’. Se você a viu neste programa, já sabe: “Quem está pronto para uma caçarola de atum quente? Porque mamãe está em casa!”.

Tempest DuJour é muito mais do que a primeira eliminada do Drag Race. Desde 2 de março de 2015, quando sua season estreou e ela foi mandada para casa após dublar “Geronimo”, de RuPaul, contra Kandy Ho, muita coisa aconteceu na vida desta rainha americana. Para falarmos sobre tudo isto, Tempest é a grande convidada desta edição da Who’s That Queen?.

Criada por Patrick Holt – nascido no dia primeiro de setembro de 1967, em Durham, Carolina do Norte –, Tempest ganhou este primeiro nome como homenagem ao seu trabalho no teatro, referenciando à peça “The Tempest”, de William Shakespeare. Para o sobrenome, ela adaptou à expressão francesa “du jour”, que significa “do dia”. Tcharan: Tempest DuJour ou, no bom português, Tempestade do Dia.

Apesar do seu local de nascimento, é em Tucson, Arizona, que a drag de Patrick nasce. Radicado neste local desde 2002, ele sente-se atraído pela força da comunidade LGBTQIA+ de lá. Interessante para quem, inclusive, já viveu alguns anos na Arábia Saudita e participou da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Ao crescer na Carolina do Norte como mórmon, Patrick teve que ser resiliente as rasteiras da vida: por causa desta religião, ele foi exposto a terapias de conversão, aconselhamento profissional antiético e, como se não fora suficiente, tortura emocional. Aliado a tudo isto, a rígida criação religiosa dada por seus pais contribuiu para agravar seu quadro de depressão e ansiedade e, por fim, fez com que Patrick só se assumisse como homem gay cisgênero próximo dos 30 anos, ali pela década de 90.

Hoje em dia ele ainda considera-se uma pessoa espiritual, entretanto, não é fã da religião organizada. Talvez isto tenha lhe ajudado no próximo grande teste pelo qual teve que passar: após um grave acidente automobilístico, Patrick, além de quase perder a perna esquerda, ficara entre a vida e morte: “Perna arrancada, múltiplos ossos quebrados, 6 meses sem andar mas ainda assim eu me levanto! Um diamante é apenas uma pedra sem milhares de cicatrizes de polimento”, disse sobre o ocorrido no Instagram.

Uma visão bem positivista para alguém cuja resistência fora testada no limite, mas ainda tem mais. Após o episódio do carro, Patrick trava outra batalha no campo da saúde: ao enfrentar a obesidade, uma doença crônica que, não tratada, pode comprometer a expectativa de vida da pessoa, ele começou a questionar-se se veria, ou não, seus filhos crescerem. A partir daí, começa a diminuir a quantidade de comida ingerida e também corta certos alimentos e hábitos diários, afinal, Patrick considera-se um comedor emocional, tem consciência disso e, quando inicia estas mudanças, passados dois anos de trabalho duro, sente-se satisfeito com o que vê no espelho, uma imagem mais apreciada hoje em dia do que à comida.

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Até aqui, fica claro a força de Patrick para conseguir passar por tudo isto, mas não pense que ele esteve sozinho nesta jornada: seu namoro com David começara em 2007. Em 2015, na cidade de Utah, se casam. Em quatro de janeiro de 2018, a separação. O relacionamento rendeu frutos: os filhos adotados Auggie e Mia. O primeiro é o caçula, nascido à 12 de maio de 2010. Tem dez anos. A menina, de 14 anos, nasceu em 16 de julho de 2006.

A família é um dos pilares da vida de Patrick. Sua primeira postagem no Instagram, em 16 de julho de 2012, é uma foto de seu pai com a neta, Mia. Ela é surda e a comunicação realiza-se verbalmente e através da American Sign Language (ASL), conhecida como Língua de Sinais Americana.

Tanto Mia quanto Auggie convivem com o mundo drag desde sempre. Em dois de setembro de 2018, eles performaram, pela primeira vez, com Tempest DuJour. Um passo importante para quem começou a carreira ao vencer o concurso “Miss Gay Arizona”, em 2007, e ouviu, da própria RuPaul, no primeiro dia de gravação da temporada sete, que ela à escolheu pessoalmente para participar do show.

Tempest na praia com sua filha e filho.

Em paralelo à vida familiar agitada, Patrick também é professor universitário há mais de 20 anos. A carreira acadêmica inicia-se na Brigham Young University, em Salt Lake City, porém, por meio de uma oportunidade profissional, acabara no corpo docente da Universidade do Arizona.

“Professor titular, designer profissional nos melhores teatros regionais das Américas, pai solteiro de dois, dono de casa, RuPaul’s Drag Race e rainha old school. Agora, o que você conseguiu?”, afirma, nas redes sociais. Um bom recado para os haters? Sim, também acho.

Mas, independente do ódio do fandom, as engrenagens do mundo drag continuam trabalhando e Tempest, a artista que ama o filme “A Missão”, de 1986, e venera o estilista John Galliano, prossegue fazendo drag, porque drag é a sua droga, então, enquanto houver público ela continuará por aí, levando arte e felicidade. Entretenimento também, claro. Mas tudo de um jeito campy e Tempest. Ou seria o contrário? Em qual ponto acaba o exagero e começa a tempestade? Confira a entrevista exclusiva abaixo para descobrir!

Olá, Tempest. É um prazer falar com você. Conhece algo aqui do Brasil?

Infelizmente eu não sei muito sobre o Brasil, exceto pelo que eles mostram na televisão americana, mas parece um lugar incrivelmente bonito e fascinante. Adoro países que têm uma linda combinação de culturas como o Brasil e, como muitas pessoas sabem, eu sou muito da natureza, animais e aves e eu acho que o Brasil tem alguns dos animais e aves mais incríveis do planeta. Além disso, as pessoas no Brasil são incrivelmente bonitas!

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Engraçado pensar que faz 5 anos que a sua temporada foi transmitida e eu continuo rindo da sua entrada como se tivesse acontecido ontem. Como você vê esse momento e quando teremos a versão 2.0 num All Stars?

Assim que eu fui escalada para o elenco de RuPaul’s Drag Race eu sabia que queria causar um grande impacto para minha entrada na sala de trabalho no primeiro dia. Então eu pensei muito sobre isso e imaginei que ter um bebê seria algo que as pessoas se lembrariam! Eu tinha a sensação de que eles me lançariam como um tipo de pessoa materna, então fazia sentido para mim. A única coisa que eu tinha que mudar era que havia um cordão umbilical sangrento atracado ao bebê originalmente e eles me fizeram tirar isso antes de eu entrar, risos. Quanto ao All Stars, espero que eles me considerem para as próximas temporadas. Ainda tenho muito para mostrar ao mundo!

Ainda falando da season 7: até hoje eu penso que nós, o público, perdemos a grande oportunidade de nos entretermos com suas habilidades artísticas. Quem você faria no Snatch Game?

Bem, eu não quero revelar quem eu faria para o Snatch Game no caso de eu realmente ter a oportunidade de fazê-lo. Eu gostaria que fosse uma surpresa, mas tenho várias ideias muito engraçadas. E eu gostaria de uma chance de mostrar minhas habilidades de atuação e comédia, já que eu acho que essa é a minha força em drag.

*Nota do repórter: em outra entrevista, Tempest afirmou que faria, no Snatch Game, a celebridade Angela Joyce Big Ang Rayola, a Big Ang, estrela do reality show da VHI “Mob Wives”. Ela teve uma vida conturbada, ligações com a máfia e faleceu em 18 de fevereiro de 2016, aos 55 anos, como consequência de um câncer de pulmão e pneumonia. E Big Ang foi a escolha de Pearl para o Snatch Game da S7.

Você nasceu em Durham, Carolina do Norte. Como é a cena LGBTQIA+ de lá? Foi nessa cidade que sua drag nasceu?

O estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, tem uma incrível comunidade de drags. Alguns dos maiores artistas de drag que eu já vi são da Carolina do Norte e eles mantêm todos em um padrão muito alto. Mas minha drag realmente nasceu no Arizona onde também há uma cena de drag incrivelmente boa. As pessoas pensam que as principais cidades, como Nova York e Los Angeles, têm o melhor drag, mas eu acho que algumas das melhores vêm de algumas das regiões menores do nosso país.

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É comum ver nas redes sociais fotos de sua família. Como é a realidade do processo de adoção em Tucson, Arizona, sua cidade atual? Quais conselhos você dá para os gays que pretendem adotar?

Adotar no Arizona foi muito difícil quando eu fiz isso. Porque as leis nos Estados Unidos ainda eram muito anti-gays e isso tornou muito difícil convencer as agências de adoção a trabalharem comigo. Foi o maior desafio e a maior alegria da minha vida criar meus filhos e, quando me divorciei, há dois anos, tornou-se ainda mais desafiador, mas vale a pena todos os dias. Há milhares de crianças que precisam de casas, seja protegendo ou adotando, nossa comunidade LGBTQIA+ faz pais incríveis e estudos recentes nos Estados Unidos até provaram que as crianças dessas famílias são mais compassivas e inteligentes.

Mia, Patrick (Tempest) e Auggie

Queen ZaZa é sua personagem no filme Cherry Pop. Como você conseguiu o papel e como foram as gravações? Conta pra gente algo engraçado que aconteceu nos bastidores e ninguém sabe.

Atuar no Cherry Pop foi uma das maiores experiências da minha vida! Mas a maioria das pessoas não sabe que eu fui escalado na última hora. O ator que deveria fazer o papel desistiu no último minuto e eles me ligaram para ver se eu estava interessado. Duas horas depois eu estava em um avião para Los Angeles e comecei a filmar no dia seguinte. Eu nem tinha lido o roteiro ainda! Mas acho que era para ser porque acho que deu muito certo.

Assaad Yacoub dirigiu Cherry Pop. Ele também é conhecido pela direção de videoclipes de drag queens. O que você acha do trabalho dele no filme?

Assaad é uma das pessoas mais talentosas que eu já conheci. Além de ser um excelente diretor, ele se tornou um amigo muito próximo e eu absolutamente o amo e o adoro. Seu trabalho em outros filmes e com outras drag queens fala por si só, ele é absolutamente brilhante. O que o torna tão grande é seu amor pela arte do drag e seu respeito por seus atores e equipe. Só posso esperar e rezar para poder trabalhar com ele de novo algum dia.

Os seus alunos continuam te reconhecendo como professor na Escola de Teatro, Cinema e Televisão da Universidade do Arizona? Faz quanto tempo que você leciona?

Eu ensino há mais de 20 anos. Quando fui escalado para RuPaul’s Drag Race, meus alunos estavam muito animados. Eu nunca escondi meu personagem drag deles e muitos deles veem me ver em meus shows. O apoio deles significa muito para mim. Queria ter um professor drag queen quando tinha a idade deles!

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Tempest Dujour (S7), Stacy Layne Matthews (S3) e Acid Betty (S8).

Em 2015, foi lançado um álbum com covers de RuPaul e você regravou Sissy That Walk. Como foi o processo de gravação?

Gravar Sissy That Walk com RuPaul foi uma completa surpresa. No dia em que chegamos em Los Angeles para começar a gravar o show os produtores entregaram uma música a cada uma de nós e nos disseram para nos familiarizarmos com ela. Nós pensamos que nós dublaríamos as músicas, não realmente cantar elas! No dia seguinte eles nos levaram para um estúdio de gravação uma a uma. Quando entramos RuPaul estava esperando pela gente para começarmos a gravar a música sem nenhum ensaio ou prática. Originalmente Ru queria que eu cantasse uma música diferente, mas eu disse a ele que Sissy That Walk era a música favorita dos meus filhos, então ele me deixou mudar no momento. Nós só tivemos duas tomadas nessa música mas eu estou realmente orgulhoso do jeito que acabou. Obrigado, Deus: eu pratiquei tanto cantar no carro com meus filhos quando eu levava eles para a escola todos os dias.

Sua drag existiria ou seria como é sem o teatro? O quanto ele influencia sua persona drag?

O teatro literalmente salvou minha vida quando eu era mais jovem. Como um garoto muito fechado que cresceu em uma família religiosa muito conservadora eu usei o programa de teatro na minha escola para me ajudar a escapar de toda a depressão e tristeza que eu sentia por não ser eu mesmo. Então, quando escolhi meu nome de drag, escolhi Tempest como uma homenagem ao meu amor por Shakespeare. Acho que ser treinado como designer profissional e artista no teatro me dá grande confiança no meu drag e muitas habilidades que me ajudam a ter sucesso em drag.

“Em um mundo cheio de Kardashians, seja Divine”, você postou, no Instagram. Ainda pensa o mesmo?

Sim. Eu não tenho nada pessoal contra as Kardashians, mas eu vejo tantas jovens drag queens que tentam imitar estrelas pop ou outras drag queens e isso me deixa triste. Cada um deve encontrar sua própria voz em seu próprio estilo e sua própria maneira de se expressar. Claro, impersonator de estrelas é parte do drag, mas acho importante ser único e ser você mesmo. Todos neste mundo têm uma história interessante para contar e drag é uma ótima maneira de contá-la.

Tempest Dujour e Michelle Visage

Para finalizarmos, complete a frase a seguir: “Roses are red, violets are blue…”

Roses are red, Violets are blue,
I hope some day I’ll fly to Brasil,
And do some drag with you!

[Rosas são vermelhas, violetas são azuis, espero um dia visitar o Brasil e fazer drag com você]

Siga Tempest Dujour em suas redes: InstagramYouTube.

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