“Espero que mais pessoas, em vez de ficarem com medo do que os fãs vão pensar, só façam o que seu instinto lhes diz para fazer”.
Depois de ser vice-campeã na oitava temporada de RuPaul’s Drag Race, a lendária drag Naomi Smalls fez seu tão aguardado retorno na quarta edição do All Stars e deixou a competição como… vice-campeã, mais uma vez.
Ela pode não ter levado a coroa para casa, mas quem liga? A artista, nascida na Califórnia, forneceu aos fãs alguns dos momentos mais emblemáticos da história de Drag Race com suas passarelas, lipsyncs épicos (Adrenaline, Come Rain ou Shine) e sua decisão de mandar para casa, Manila Luzon.
“Eu não achava que haveria qualquer reviravolta. Espero que mais pessoas, em vez de ficarem com medo do que os fãs vão pensar, só façam o que elas tiverem vontade de fazer”.
Pode ter sido um movimento controverso mandar para casa a competidora mais forte, mas não há como negar que Naomi Smalls mudou o jogo. Em comemoração à sua grande participação no All Stars, a Gay Times conversou com a estrela para discutir sua passagem no show, como lidar com os ataques e discursos de ódio do fandom, e qual rainha da temporada 11 ela acredita que “vai mudar o drag”.
Oi Naomi! Como você se sente sabendo que forneceu aos fãs de RPDR alguns dos momentos mais emblemáticos da história?
Oh, me sinto incrível! É muito insano que eu fui uma criança assistindo Drag Race e agora, não apenas eu posso competir no programa, mas eu faço isso duas vezes, e faço alguns momentos que, esperançosamente, vão ficar na história de Drag Race para sempre. É incrível e eu faria de novo. Eu faria tudo outra vez.
Então você alegremente eliminaria Manila de novo?
Oh absolutamente! Eu faria absolutamente o que eu acho que é melhor para mim na competição, e acho que aquilo foi o melhor para mim naquele momento.
Você esperou por meses para o mundo ver esse momento de cair o queixo. A reação foi melhor ou pior do que você imaginava?
É interessante, porque quando eu estava competindo no All Stars e tomei a decisão de mandar Manila para casa, eu não achava que haveria qualquer reação. Mas eu não estava necessariamente pensando nos fãs ou na reação quando competia, e espero que mais pessoas, em vez de ficarem com medo do que os fãs vão pensar, só façam o que seu instinto lhes diz para fazer. Meu objetivo era ganhar Drag Race e eu tive um relacionamento com Latrice, onde imaginei que se eu estivesse no bottom na semana seguinte, ela me salvaria. Eu não necessariamente tive isso com Manila, e eu não me arrependo de jeito nenhum.
De certa forma, foi uma lufada de ar fresco. Parece que as rainhas estão realmente preocupadas com a forma como são percebidas nas redes sociais, por isso tomam decisões que satisfarão os fãs.
Eu definitivamente me importo com o que as pessoas pensam sobre mim, mas no fim das contas, eu aguento todas as críticas negativas sobre algo assim. Eu não sou uma pessoa cruel, e as pessoas que eu me importo, elas se preocupam comigo.
Houve muitos comentários racistas de “fãs”, o que tem sido um problema constante no programa nos últimos anos. Como você acha que podemos resolver isso?
Eu acho que seria fabuloso se Drag Race abordasse isso como parte do show. Infelizmente, o programa tem uma base de fãs tão jovens, que eu não sei se eles estão super conscientes de que isso não está legal. As pessoas que crescem com irmãos mais velhos têm uma perspectiva muito mais madura e sabem que definitivamente não é algo que você inflige a outro ser humano. Talvez seja bom se Drag Race pudesse incorporar algo assim no programa.
Você acha que as rainhas, especialmente aquelas que possuem grande plataformas, deveriam falar sobre essas questões?
Sim, porque Drag Race é a primeira perspectiva sobre o motivo dessas pessoas deixarem comentários como esse nos perfis das concorrentes. Seria bom que elas ajudassem a participar da luta contra comentários como esse.
E Monet e Trinity foram coroados – quão impressionada você ficou?
Eu estava lá e não me lembrava de ter terminado com um empate… Acho que está bem claro como foi a edição. Mas sim, eu acho ótimo. Ambos conseguiram o que vieram fazer, e se RuPaul’s Drag Race tem o orçamento para coroar as duas, então mais poder para elas.
Por que você acha que eles acabaram coroando duas [rainhas]?
Eu conversei com os fãs e algumas das garotas do show, e eu não acho que eles sabiam qual decisão tomar na época. Muitas pessoas que assistiram ao programa disseram que a produção acreditava que ambas estavam no mesmo nível, e aparentemente é assim que eles achavam que deveria ser também. Eu amo as duas, eu pensei que eles iam me coroar na passarela. Mas RuPaul estava tipo, obcecada com Trinity. Eu com certeza pensei que ela ia levar a coroa, mas é ótimo que ambas tenha conseguido.
Além de nos proporcionar alguns dos momentos mais divertidos, você também nos deu alguns looks ‘doentios’ nessa temporada.
Ah obrigada! Essa foi a minha parte favorita do show, com certeza. Toda semana eu estava lá, a grande pressão que eus entra era poder desfilar meu último vestido na final. Eu precisava disso para usar aquele momento roxo com certeza.
E eu preciso falar sobre aquela dublagem de Adrenaline… Você desafiou a gravidade.
É estranho porque é algo que só a adrenalina pode trazer para fora de mim. Se você me pedisse para fazer isso agora, eu não conseguiria. Mas, por algum motivo, quando estou de salto alto, no palco e diante de uma platéia, eu gosto de… desafiar a gravidade. Quando estou no palco, eu apago. Eu me divirto muito e estou tão distraída com a platéia e tentando entrar em sintonia com o meu corpo. Talvez um dia na turnê Werq the World, eu caia de bunda. Mas isso é mais um motivo para comprar ingressos. Todo mundo quer ver alguém cair no próprio rabo certo?
Também nesta temporada, você foi visto como a “rainha roubada” pelos fãs. Você prefere ter o status de rainha roubada como Shangela ou, bem, vencer?
Para mim, sou uma pessoa muito competitiva. A única razão pela qual voltei para o All Stars foi ganhar, não para provar necessariamente que eu tinha melhores looks ou que eu tinha um orçamento, ou para mostrar que eu não era uma pessoa má. Meu principal motivo era vencer, então eu adoraria ganhar, mas, ao mesmo tempo, eu sabia quando estávamos filmando como a produção estava indo, e eu tinha a sensação de que essa não seria a minha vez. Eu não acho que eles necessariamente esperavam que fosse a minha hora, ou que eu iria me sair tão bem. Em vez de deixar isso me incomodar, eu interpretei assim: “Seja como for, estou aqui para fazer exatamente o que quero fazer e vocês podem filmar”.
Você sente que havia um enredo planejado para você?
Eu não sei se há necessariamente um grande plano, mas você pode começar a ver realmente como as coisas estão indo conforme as críticas vão sendo feitas, palavras-chave que você procura… Eu não sei se meu desempenho indo tão bem, era uma expectativa, mas eu não deixei isso me afetar.
O show teve o mesmo formato All Stars para as últimas três temporadas – você gostaria que ele continuasse assim ou apimentasse um pouco as coisas?
Eu adoraria que o All Stars mantivesse o mesmo formato se as competidores estivessem realmente jogando o jogo. Eu adoraria ver isso. Até mesmo um gostinho de me ver jogando o jogo nesta temporada foi muito divertido. No fim das contas, estamos realmente lá para fazer um show de realidade para a televisão.
Você está torcendo por alguém em especial na 11ª temporada?
Esta será a primeira temporada que eu vejo que eu não li muitos spoilers, e estou super empolgado como fã do show. Até agora, ao assistir a entrevista do Meet the Queens e do Build, eu realmente gostei de Yvie Oddly. Eu acho que ela vai mudar o drag da mesma maneira que Sharon e Adore mudaram o drag. Ela é muito punk rock e eu realmente gosto do jeito que o cérebro dela funciona e do que eu vi dela.
Ela é uma das minhas principais escolhas junto com a Plastique.
Oh meu deus Plastique! Plastique me faz não querer mais fazer drag. Eu nunca vou manter esse nível de beleza e é tão frustrante. Eu vi essa vadia fazer pirueta e death drop, então ela é definitivamente uma das que devemos acompanhar.
Mas, novamente, você não precisa fazer todas essas coisas para arrasar numa dublagem. Você é um exemplo disso. Adrenaline… Come Rain or Shine…
Bem, obrigada! Performar é com certeza minha paixão. Eu amo moda, eu amo desfiles, mas no fim das contas, eu sou uma drag queen e estar no palco é minha parte favorita. Estar nesta Werq the World Tour foi tão divertido, porque a imaginação é realmente o seu único limite. A produção e o nível de paixão no palco é uma coisa incrível de se fazer parte.
Será que vamos ver você (sua música) Pose no Werq the World Tour?
Você definitivamente vai ver minha bunda no palco posando muito. Com esta última turnê, nós temos que fazer Pose lá, então coloque seus ombros para trás e seus quadris para frente, e pose.
Podemos esperar mais músicas suas em breve?
Sim! Eu adoraria fazer mais músicas. Ultimamente eu tenho estado obcecada com o novo álbum da Robyn, Honey. As batidas underground e housey em todo esse álbum realmente me inspiraram a trabalhar mais com Cameron Traxxx e minha equipe musical.
O que podemos esperar de você no próximo ano?
O que estou trabalhando agora é meu Smalls World, série de documentários do YouTube. Eu me diverti muito criando a primeira temporada e isso realmente me ajudou a me apaixonar pela arte drag. Eu quero transportar isso para uma experiência no palco e então ele terá muitos recursos visuais, narrativos, mas também haverá números para o público. Talvez referenciando minha dublagem de Adrenaline ou até mesmo Pose, Come Rain ou Come Shine… Apenas para realmente colocar no palco e fazer mais uma peça de arte!
https://www.youtube.com/watch?v=-LnqdiACjdw
Entrevista de 26 de fevereiro de 2019.