Ela se tornou a primeira drag queen a ser nomeada para um Grammy com sua colaboração com Major Lazer Sua Cara. E seu single Todo Dia, que traz as letras gloriosas: “Eu não espero o Carnaval chegar para ser vadia, sou um todo dia, sou todo dia”, tornou-se o hino não oficial das celebrações do carnaval de 2017 no Brasil. A importância deste sucesso comercial para um indivíduo LGBT com certeza não passa despercebido para Pabllo.
“Eu sei que sou uma parte de toda uma comunidade LGBTQ, e eu sei as responsabilidades que acompanham isso. É por isso que estou aqui. É incrível trazer a arte do drag e da música para o mercado popular no Brasil. As pessoas devem saber que somos talentosos e merecemos o nosso holofote”.
Como um homem abertamente gay que dá o dedo do meio às expectativas de gênero, alternando regularmente entre apresentação masculina e feminina nas mídias sociais (embora ela prefira pronomes femininos quando está em drag), Pabllo ganhou seu status de voz para a comunidade LGBTQ do Brasil. Ela é o antídoto perfeito para o atual clima político e um farol de esperança para aqueles que se sentem oprimidos por quem eles são.
“Recebo todo tipo de mensagens [dos fãs], mas as que me fazem mais feliz são quando [os fãs] se sentem mais fortes por causa da minha música, se sentem felizes e têm um relacionamento melhor com a família – mensagens de aceitação e amor! É lindo e faz o meu trabalho valer a pena. Não se trata apenas de drag e música, é também de fazer a diferença no mundo”.
Muitos dos hits de Pabllo, cantados em seu tom nasal instantaneamente reconhecível, se tornaram hinos para aqueles que se sentem diferentes graças à sua natureza festiva e mensagens inclusivas. “Eu continuo dizendo que tudo vai ficar bem, e minhas lágrimas vão secar, tudo vai ficar bem, e essas cicatrizes vão se curar”, ela canta em Indestrutível, uma balada emocional sobre como superar a dor que ela experimentou na vida. O videoclipe que acompanha a canção é prefaciado pela estatística preocupante de que 73% dos jovens LGBTQ no Brasil são vítimas de bullying e violência na escola, algo que a própria Pabllo experimentou enquanto crescia. É por isso que o objetivo dela é compartilhar uma mensagem de respeito mútuo através de sua música. Seu mantra pela vida é:
“Seja você mesmo, respeite e ame a si mesmo e às outras pessoas. Eu quero que as pessoas saibam que você pode ser quem você quer ser e ninguém pode dizer o contrário. Todos devem saber que são lindos e maravilhosos como são. O tempo todo”.
Pode ser uma mensagem simples, mas é uma que parece ter sido perdida por muitos em seu país de origem. Somente nos últimos anos, os crimes de ódio contra LGBTQ atingiram um recorde histórico; a homossexualidade foi declarada uma doença e a conversão gay “terapia” foi legalizada (embora essa decisão tenha sido posteriormente anulada); e o já mencionado Bolsonaro – que removeu as preocupações com direitos LGBT sobre as responsabilidades do Ministério de Direitos Humanos em seu primeiro dia no cargo – assumiu o controle, o que Pabllo descreve como uma mudança “realmente horrível e estranha” na atmosfera.
Ela deixou sua postura clara quando, durante uma apresentação eletrizante no Prêmio Multishow 2018, ela gritou “Ele não”, um slogan viral e uma hashtag usada por aqueles que se opunham ao novo presidente e suas opiniões discriminatórias. É claro que não é só o Brasil que está envolvido cada vez mais com políticas de direita, como a cantora aponta com razão.
“Parece que uma ‘nuvem conservadora’ está se espalhando por todo o mundo e tornando as pessoas mais racistas e homofóbicas. Eu sinto a homofobia todos os dias aqui no Brasil, está em toda parte e precisamos ser cautelosos o tempo todo”.
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