Durante a temporada de premiações desse ano se teve uma figura que marcou presença em praticamente todos eventos foi nossa amada Shangela Laquifa Wadley, desde o Globo de Ouro até o Oscar lá esteve a dona do bordão Halleloo transbordando todo seu carisma e presença nos tapetes vermelho. Para nós que acompanhamos sua carreira nos últimos dez anos ver tamanha evolução é um dos maiores presentes que Drag Race poderia ter nos dado.
Então vamos recapitular sua trajetória… Como tudo começou!
Nosso primeiro contato com a rainha foi lá em 2010, quando ela adentrou a sala de trabalhos da segunda temporada de RuPaul’s Drag Race. Shangela já chegou afirmando que tinha menos de 6 meses de vida como queen, e isso era notável em sua maquiagem básica e look simplório. Contudo o que nos arrebatou na queen foi seu carisma imenso e força de vontade. Mesmo ao lado de drags tão polidas e experientes (como Pandora Boxx, Raven e Tyra Sanchez), Laquifa não deixou se abalar… Porém seu carisma não foi suficiente para mantê-la na corrida e a perdemos já no episódio de estreia, após enfrentar a falecida Sahara Davenport numa dublagem que mais parecia uma luta livre.
Um ano se passou e então estreou a terceira temporada de Drag Race (2011) e RuPaul nos apresentou um dos primeiros plot twists mais incríveis do seu show: o retorno supresa de Shangela dentro de uma grande caixa. Se para a gente foi um choque, imagina para as rainhas que estavam ali na competição e já tinham visto o desempenho da sister no ano anterior? A princípio Laquifa foi recebida com incredulidade e muita resistência:
“O que ela está fazendo aqui? Ela já teve sua chance!”
Ou então…
“Ela não aprendeu nada com a S2? Continua fraca!”
Mesmo contra as baixas expectativas do público incrédulo e das sisters implicantes, Shangela provou seu valor indo longe na competição. Mas para isso houve muito barraco e enfrentamento.
Quem não lembra do Untucked em que Mimi Imfurst acusou Shangela de ter um sugar daddy que bancava sua Drag e como resultado tivemos um dos barracos mais memoráveis da história de Drag Race e da TV americana?
“Calma aí, vamos esclarecer as coisas já que você quer me gongar. Eu não tenho um sugar daddy, queridinha. Tudo que eu tenho, eu trabalhei duro para conseguir e eu mesma me construí, então eu preciso que você saiba disso 100%. Eu não tenho um sugar daddy, eu nunca tive sugar daddy, se eu quisesse um sugar daddy, sim, eu provavelmente conseguiria um, por que eu sou o que? SICKNING! Você nunca poderia ter um sugar daddy, porque você não é esse tipo de garota. Meu bem, tudo que eu tenho, eu trabalhei para conquistar por conta própria. Eu me construí a partir do zero… VADIA!”
E esse barraco teve desdobramentos seríssimos que fecharam a produção da S3 por várias semanas (leia aqui).
Contudo, Mimi foi a menor das dores de cabeça de Shangela. Seu grande desafio era conviver com o grupo das Heathers, composto por Carmen Carrera, Delta Work, Manila Luzon e Raja. O quarteto que se achava o melhor da S3 vivia implicando com Shangela, subestimando e desmerecendo sua Drag em toda oportunidade que tinha. Mas aí que passamos a conhecer o outro lado de Shangela não tão bobinha como imaginávamos. A rainha não foi uma concorrente apática contra as Heathers, ela era a única, de fato, que enfrentava as quatro sem medo. E quando teve o poder em suas mãos, tramou contra elas.
Quem lembra do desafio de comédia que Shangela teve o poder de escolher as ordens das apresentações e fez com que Delta e Manila caíssem no bottom 2, resultando na eliminação de Delta? Aquilo foi incrível e mostrou como Shangela também é maquiavélica.
Em outro momento, Shangela durante um desafio musical, manipulou Carmen para que ela conseguisse sair com o estilo de musica que queria (reggae). Shangela não foi bem no desafio, acabou caindo com a própria Carrera no bottom 2, mas Laquifa arrasou na dublagem e mandou outra Heather para casa.
Nessa altura da S3 eu já estava ansioso para ver quem seria a próxima Heather que Shangela derrubaria, mas dessa vez sobraram as mais fortes da competição, Manila e Raja, as chances da queen de sair vitoriosa eram bem poucas. E preciso ser sincero, Shangela ainda tinha muito que evoluir, sua maquiagem ainda era fraca em comparação as outras e seus looks muito duvidosos. Então quando caiu no bottom contra Alexis Mateo, Shangela acabou levando sashay away.
Como eu sofri, vendo minha queen favorita de todas ser eliminada, depois de ter nos proporcionado tanta diversão. E assim como diria Naomi Smalls, “A vida não é justa”. Então a S3 acabou e coroou Raja como campeã. E no Reunited pudemos entender um pouco da birra de Raja com Shangela, a campeã achava que a sister era muito nova ainda com sua Drag, e que ela deveria ter mais experiência antes de tentar a sorte no show, tirando a vaga de alguém que merecesse mais. Além disso Raja revelou que conhecia Shangela previamente, e que a ajudou a se montar para a reunião da S2, emprestando uma peruca que Shangela devolveu praticamente destruída. Enfim drama, drama e mais drama. O que amamos em Drag Race.
All Stars 3
Aí chegamos na quarta temporada (2012) e RuPaul trouxe Shangela mais uma vez para a competição dentro duma caixa! Eu celebrei MUITO!! Mas as Queens não gostaram nenhum pouco e mama Ru revelou que era só uma brincadeira, e mandou Shangela embora com uma frase do tipo, “adeus, vai-te embora ninguém te adora”… To brincando, não foi bem assim, mas se fosse, “who cares?”.
Então fora de Drag Race vimos Shangela conquistar seu espaço no mundo do entretenimento, lançando musicas divertidíssimas como “WERQIN’ GIRL”.
Ou até mesmo fazendo aparições em séries consagradas como Glee.
A partir disso vimos que o destino de Shangela era ser grande e era só questão de tempo ela ter todo reconhecimento que merecia. Mas confesso que ainda tinha esperança de vê-la com sua coroa de Drag Race.
Então o elenco do All Stars 3 foi anunciado e dentre as queens figurava Shangela. O fandom foi a loucura, “finalmente Shangela vai ganhar sua merecida coroa”. E nisso acreditamos por quase todo AS3.
Shangela voltou com tudo para a competição. Suas habilidades de maquiagem melhoraram muito e seus looks eram incríveis. Seu talento para o humor estava ainda mais afiado. E o carisma que nos fez apaixonar por ela não tinha mudado nada.
Era consenso entre os fãs do show que se BenDeLaCreme não vencesse a temporada, Shangela que levaria a coroa. Tanto que a rainha foi ovacionada quando passou pelo Brasil em fevereiro de 2018, sendo chamada de Winner por toda plateia que compareceu na Werq The World em São Paulo (leia aqui).
Entretanto nossos planos de ver Shangela coroada foram cancelados, quando enfiaram aquele péssima reviravolta de voto de júri na final do AS3 que tirou Shangela do top2.
Pós Drag Race: Oscar e Beyonce
Bem, nessa altura tudo parecia perdido para a queen… mas só dentro de Drag Race mesmo. Shangela continuou trabalhando e foram aparecendo oportunidades incríveis para ela. A queen fez a maior turnê mundial que uma RuGirl realizou até hoje, visitando 180 cidades diferentes mundo a fora (leia aqui). Shangela também fez participação especial numa música do recente álbum de Ariana Grande, thank u, next, falando a frase de abertura da trilha NASA.
Contudo, uma das maiores oportunidades de Laquifa foi a participação no filme de Lady Gaga e Bradley Cooper, A Star Is Born. Shangela, assim como Willam, foi muito elogiada por sua participação. Daí em diante Laquifa virou a nova queridinha dos EUA, tendo varias reportagens especiais sobre ela em portais de notícias e programas de TV. Então foi natural que Lady Gaga arrastasse Shangela consigo para varias premiações que seu filme estava concorrendo. E Shangela fez bonito, sempre aparecendo montada nos tapetes vermelhos e esbanjando simpatia.
O auge foi sua participação surpresa no Spirit Awards, em que fez uma divertida apresentação musical para as celebridades presentes (leia aqui).
Aí chegamos na noite mais aguardada do cinema (leia aqui), o Oscar 2019. Shangela agraciou o evento com sua presença ao lado de Jenifer Lewis. E quando nossa amada rainha apareceu no tapete vermelho só pudemos celebrar e muito, pois vê-la alçar vôos tão altos nos deixa muito orgulhosos, por tudo que ela viveu, por toda sua evolução que acompanhamos de perto!
E não parou por aí, pois Shangela, na noite de 28 de março, apresentou um medley de músicas de Beyonce na frente da própria diva, no GLAAD Awards (leia aqui), sendo aclamada de pé por todos presentes, incluindo Queen Bey. Uma lenda reconhece outra, não é mesmo?
Shangela agradece sua jornada
Na minha PRIMEIRA performance drag como Shangela, eu apresentei “Single Ladies” de Beyonce. Dez anos depois, fui abençoado em homenagear a verdadeira BEYONCE em uma performance de tributo completa. Eu não posso expressar o quanto estou grata por este momento. Tem sido uma jornada e tanto, certo? Eu aprecio vocês ficarem ao meu lado e espero que vocês continuem inspirados em correr atrás de seus sonhos! Não há um caminho certo… você só tem que pensar positivo e TRABALHAR para que você esteja pronto quando chegar o momento de brilhar. Obrigada GLAAD por uma noite mágica, obrigada a todos os meus amigos que contribuíram com seu talento, e agradeço a Beyoncé e Jay Z por suas lindas palavras de amor e união. O futuro parece poderoso e brilhante ☀️
Por que Shangela nos fascina tanto?
Eu ouso falar que além de todo carisma que ela transborda, Shangela tem a trajetória de superação que a gente ama e se identifica. Uma pessoa que veio do nada que sempre se jogou nas oportunidades que lhe apareceram e hoje posa ao lado de grandes figuras do mundo do entretenimento.
Seja ao lado de Bradley Cooper, Jenifer Lewis, Lady Gaga, Ariana Grande ou Beyonce, Shangela provou que há um imenso mundo além de Drag Race, basta a rainha se aventurar e tentar a sorte. Perder Drag Race não é sinônimo de fracasso. O show é uma plataforma e cabe às queens usá-la da melhor forma possível, assim como Shangela tem feito.
Além disso, seus passos tem sido muito importantes para abrir portas para que outras drags, de RuPaul ou não, consigam brilhar no showbizz e mostrar seu talento para uma audiência maior e mais popular. Afinal Shangela é a prova viva de que drag queens podem tudo. São artistas incríveis que não cabem em caixinhas do que podem ou não fazer. Então a Shangela eu dedico minha eterna admiração e gratidão, por ser uma incrível representante LGBT que tem levado a arte Drag para lugares que antes não tinha tamanha visibilidade. Halleloo!
Para mim a lição que fica da vida de Shangela não é sobre meritocracia, pois antes de ser uma drag queen, a rainha é um homem negro gay que atende pelo nome de Darius Jeremy Pierce. E sabemos muito bem como na nossa sociedade racista esse papo de meritocracia é pura falácia, ainda mais para uma pessoa negra que precisa trabalhar dez vezes mais que uma pessoa branca para ter o mínimo de reconhecimento. A trajetória de Shangela é sobre perseverança e acreditar em si mesmo. Por mais que a vida lhe diga não, precisamos acreditar em nós mesmos e continuar dizendo SIM para nossos projetos e sonhos, pois um dia quem sabe, conquistamos tudo que desejamos!