Foto: Saullete com Latrice Royale da 4ª temporada de Drag Race.
Draglicious é mais do que um fã clube de Drag Race, é um portal de notícias sobre a comunidade LGBT. Nessa plataforma, é discutido diversos assuntos que incomodam e chocam as pessoas. Com o intuito de levar informação a todos,Saullete, faz um incrível trabalho discutindohomofobia, transfobiae racismo dentro da própria comunidade LGBT. Além disso, seu site é rico em informações sobre as participantes e a apresentadora do programa Rupaul’s Drag Race, inspiração que o levou a criar a página, cultura pop e questões de gêneros, tanto do Brasil quanto no mundo todo. Confira:
Imagem promocional do All Stars 4.
Como surgiu a ideia de criar a página?
Eu comecei a ver Drag Race sozinho e descobri grupos fechados no Facebook, eu percebi que esses grupos não me atendiam, então decidi criar o meu próprio em 2014, com o nome de Drag Deluxe, nele a gente falava sobre Drag Race e coisas de Drag em geral, sem a chateação que via em outros lugares. Lá fiz várias amizades, que mantenho até hoje. Uma dessas amizades foi o Gilberto Melo que eu coloquei como administrador do grupo. A gente sempre tinha ideias do que postar no grupo aí decidimos por fim criar uma página.
Por que você decidiu ir além do facebook e criar outras redes sociais como o Twitter, instagram, Tumblr e o site?
A Draglicious nasceu em 2015 e no início era uma extensão do Drag | Deluxe. No fim de 2017, o Facebook começou a penalizar quem postasse vídeos que infringirem os direitos autorais e isso me atingiu muito, depois de várias penalidades o Facebook acabou excluindo minha conta pessoal e eu decidi dar mais atenção a outras redes sociais como o Twitter e Instagram. Já o site, eu criei porque eu queria um lugar que não tivesse tanta restrição de conteúdo, e essa foi a melhor decisão que tomei.
Foto promocional de Shangela para All Stars 3
Você conta com a ajuda de alguém para cuidar de todas as plataformas digitais, ou faz tudo sozinho?
Hoje, basicamente, apenas eu que crio conteúdo para a Draglicious. O meu antigo parceiro me ajudou muito a fazer a Draglicious crescer, mas no momento ele está com a vida muito atarefada e não pode se dedicar às redes sociais. Então eu assumi essa responsabilidade sozinho, e estou tranquilo com isso, as vezes é muito exaustivo mas eu adoro. Quanto ao site, eu posto praticamente tudo nele, mas tenho ajuda de um grande amigo que me auxilia, pois ele também possui uma página sobre o mesmo conteúdo.
Como surgiu essa paixão por gerar entretenimento?
Eu sempre fui muito curioso e conforme eu crescia, ia expandindo minhas áreas de interesse. Sempre gostei de apreciar uma infinidade de produtos de entretenimento que nem sempre são compatíveis. Eu gosto dessa diversidade de arte e não só consumir coisas rotuladas como “LGBT”, afinal o que é “cultura LGBT”? Nós LGBT’s produzimos conteúdo universal, que qualquer um pode apreciar. O que eu acho é que entre nós há coragem de assumir as coisas que gostamos, seja na música, no cinema ou nos vídeo games.
Hoje, você produz conteúdos de música pop, além do universo LGBT que a Draglicious já costuma trabalhar. Como você produz todos esses conteúdos?
Eu sempre fui muito antenado no que está ao meu redor e acho fantástico poder compartilhar com as pessoas aquilo que me toca de alguma forma a partir do meu olhar. E essa é uma forma de estar sempre me mantendo atualizado com o que está bombando na cultura pop. Além disso, ser humilde e receptivo com as pessoas me ajuda muito. Nas minhas redes sociais, eu deixo disponível a opção de contatos para qualquer um que quiser conversar comigo, assim as pessoas me enviam sugestões do que postar. E eu acho isso fantástico.
Mas como você produz notícias e conteúdos para seus leitores?
Ah sim, eu sigo muitos portais de notícias e fofocas, pois eles sempre trazem novidades relevantes para cultura pop. Eu também acabei criando um bom faro ou extinto para criar conteúdo, então por mais que estejamos num momento de escassez de notícias sobre drags, por exemplo, eu quebro a cabeça um pouco e acabo produzindo alguma coisa bacana para as pessoas se divertirem e comentarem.
Jujube e Raven durante o All Star 1
Quando você criou o Drag Deluxe, qual era o seu objetivo?
O meu objetivo principal sempre foi construir com as pessoas um ambiente agradável de troca, e acho esse desejo muito bom para isso, essa relação entre autor e leitor.
O que é necessário para ter êxito nas redes sociais, produzindo conteúdos de sua preferência?
Então, não ter preconceito quanto ao que postar é essencial, pois mesmo que eu ache que um conteúdo não seja tão interessante, ele acaba tendo público. Eu sou formado em publicidade e propaganda, então ser curioso e consumir de tudo sem preconceitos faz parte do meu trabalho e por mais que eu não atue na área de marketing ou propaganda atualmente, hoje vivo para a Draglicious. Muito do que eu emprego no meu portal vem da minha formação em publicidade e dessa curiosidade infantil que carrego até hoje.
Já passou por alguma situação que te fez querer desistir?
Já passei por muitas situações de querer desistir. Meu público é diversificado, mas infelizmente o fandom de Drag Race é muito tóxico. E o meu diferencial é não falar só da parte de entretenimento de Drag Race e outras séries, mas também de problematizar comportamentos que acho problemáticos, seja em Drag Race sendo racista e transfóbico ou seja no fandom que já provou ser muito racista, então por isso parte desse fandom acha maravilhoso me atacar.
Foto promocional de Bebe Zahara Benet para All Stars 3
Como são esses ataques que você sofre por postar conteúdos que nem sempre agradam a maioria?
Então, tem grupos do Facebook que parece viver para o ódio e acabam me elegendo como saco de pancada. Dependendo do que posto, vem uma chuva de críticas, ataques e ódio. E eu faço isso tudo porque amo arte Drag, porque quero ver minha comunidade LGBT unida, mas tem horas que só me sobra ódio. E isso me dói, porque colocam em xeque tudo que construí, muita das vezes sozinho e sem nenhum reconhecimento, nem mesmo monetário.
Você disse que não recebe reconhecimento monetário, como você faz para manter o site?
O povo acha que Draglicious dá dinheiro, mas não dá, e na verdade me dá é despesas, tanto que os anúncios do site, não rendem nada relevante e servem basicamente para manter o site rodando, então ele próprio só paga suas próprias despesas.
Como você lida com esse ódio gratuito que você sofre por essa parte dos fãs do programa?
Depois que o site ganhou vida, esse ódio até piorou, teve gente pegando foto pessoal minha e debochando em grupos a ponto de fazerem chacota com até coisas de cunho racista, tudo porque não sigo o fluxo de só falar mal das drags perseguidas, e por ter coragem de apontar aquilo que não acho legal, seja do show, das drags ou de RuPaul. E é muito triste perceber que um grupo tão marginalizado que deveria ser mais receptivo, é tão tóxico assim. Enfim, mesmo com todo esse ódio contra a Draglicious, eu não deixo me abater.
O que te motiva continuar apesar de todos esses ataques e a falta de reconhecimento?
Quando eu fico chateado, eu desabafo nas redes sociais e dou um tempo delas. Mas aí vem o outro lado, os fãs que amam o que faço e demonstram seu carinho. No fim é isso que importa para mim, pois o que eu faço é para os fãs da arte Drag. Ler que eu ajudei alguém num dia ruim, me deixa nas nuvens. Eu já recebi muitas mensagens lindas de agradecimentos. No mais, se eu tenho haters é sinal que estou no caminho certo, pois o sucesso incomoda, vou focar no amor que ganho muito mais.
Como você dribla sua vida pessoal com os cuidados que a Draglicious exige?
Ser dono do próprio negócio é não ter férias nunca, e a Draglicious é meu negócio. Minha rotina é até tranquila, todo dia pela manhã me exercito. Então eu acordo, preparo um post, jogo no site e divulgo nas redes sociais. Aí vou pedalar, uso bicicleta ergométrica na garagem de casa, então posso ler, ouvir música… A tarde eu descanso e aí nesse momento vejo séries, filmes. Mas sempre estou antenado para produzir conteúdo para Draglicious, então se sai algo urgente eu faço o post e publico. Mas é isso, comigo não tem tempo ruim.
Quais são seus planos, desejos e objetivos para o futuro da Draglicous?
Eu sempre sou pé no chão, depois de muito quebrar a cara com projetos passados eu percebi que não dá para abraçar o mundo, então faço uma coisa de cada vez. Logo, quero que Draglicious continue se mantendo relevante e conquistando cada vez mais público e notoriedade, também desejo que role parcerias comerciais, patrocínios. Curto muito o trabalho que faço na Draglicious, então seria fantástico receber por isso, pois eu poderia me dedicar integralmente a esse projeto e ainda aumentar minha equipe de trabalho, ou até mesmo viajar para cobrir eventos drags e LGBTS em outras cidades do Brasil.
O que você deseja para o futuro da Draglicous?
Eu não consigo visualizar um objetivo tão concreto no momento, mas eu curtiria fazer eventos com a marca Draglicious, para poder apresentar o talento das Drags brasileiras. Fazer uma turnê pelo Brasil para o público nacional ver que nossas drags não devem nada às Queens gringas, seria um sonho. E no mais, sempre estou aí sonhando e planejando meu próximo passo.
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