Essa semana fez um ano que eu fui à minha primeira festa drag e, com saudosismo e alegria, todas as sensações daquela noite me invadiram a mente a ponto de eu sentir vontade de escrever sobre. O show era da Sharon Needles. O nome da festa era Priscilla. O lugar era a Blue Space. E eu não tinha a menor ideia do que esperar.
Sozinha e curiosa na porta de entrada, eu pedia por informações para as pessoas na fila, assim, fiz amizade com uma garota que frequentava a festa há muito tempo. Seu nome era Luciana e, animada em conhecer uma novata, ela fez questão de me contar uma minibiografia de cada drag queen brasileira que se apresentaria no show de abertura: Marcia Pantera, Tiffany Bradshaw, Sasha Zimmer, Mina DeLyon, Rita von Hunty, Ikaro Kadoshi… Eu ouvia atentamente a tudo o que ela falava enquanto admirava cada detalhe do lounge onde era possível sentar e conversar com as queens locais. Eu nunca antes estive em uma casa noturna com lounge. Sempre fui quase turista na minha própria cidade e como recente entusiasta de RuPaul’s Drag Race, a minha alegria transbordou quando as músicas do programa começaram a tocar na pista.
A casa era linda. A festa era incrível. O palco girava e o telão dava o tom das apresentações, fazendo com que as nacionais me emocionassem. O show da Sharon foi surpreendente e a união da galera cantando suas músicas, gritando Fora Temer e celebrando a vida e a arte me deixou comovida e arrepiada. Andar pelos espaços e interagir com as drags brasileiras me dava a sensação de estar na Disney podendo falar com as princesas. Eu, tímida e ainda sem saber direito como abordá-las, apenas olhava embasbacada para os looks e jeitos de cada uma. Eu quis conhecer todas, eu quis ser amiga, e encho a boca pra dizer que um ano depois a maior parte delas sabe meu nome.
Sharon discursando ano passado pic.twitter.com/LjR9iMZZWV
— Amora Glam (@AmoraGlam) May 21, 2018
Muita coisa aconteceu desde aquela noite, muita mesmo. Eu vivi um ano inteiro dedicado a conhecer, pesquisar, entender, abraçar, sentir e descrever a cena drag paulistana. Eu fiz amizades intensas, lancei um livro sobre o tema e aprendi truques de maquiagem. Eu estive em todos os tipos de festa drag possíveis de imaginar, mas a sensação de euforia e nervosismo daquela primeira descoberta ainda ressurge em mim toda vez que eu vou àquela onde tudo começou. A organização e o cuidado com o público são, provavelmente, o que a tornam uma referência da cena noturna. Todos que eu conheço gostam de ir e todos que se montam querem se apresentar lá. As edições nacionais com valores mais acessíveis dão um gostinho de festa em família, onde você mal consegue ir até o banheiro sem cumprimentar várias amigas pelo caminho. Para mim, estar ali é estar num evento onde todos são famosos, em cima do palco ou não, na fila da pista ou num teatro lotado. É saber que se rolar algum imprevisto, eu serei bem atendida (como fui quando perdi meu casaco na chapelaria). É a garantia de que eu terei uma noite inesquecível. E eu juro que esse post não foi patrocinado, é só porque eu acredito que coisas boas merecem ser exaltadas.
Existem dezenas de festas drag na cidade, cada uma a seu estilo, e eu honestamente recomendo a maioria delas (não diria todas, porque algumas festas novas eu ainda não conheço), mas aos que nunca foram em nenhuma e têm curiosidade, eu sugiro começar pela Priscilla. Vida longa à rainha da noite!