O Oscar pelo segundo ano consecutivo não indicou nenhum artista negro as grandes premiações. O que gerou revolta na comunidade artística negra americana que, com toda razão, decidiu boicotar o evento. A gente se indigna por isso, mas o mesmo acontece no universo de RuPaul’s Drag Race e ninguém parece se importar.
Ano passado realizamos uma enquete com o elenco dos sonhos para o All Stars 2 e nenhuma das quatorze queens escolhidas, pela maioria de nossos curtidores no Facebook, eram negras. Fala-se muito no voto popular estrangeiro, como eles são intolerantes, mas aqui mesmo tamanha tolerância a diversidade não existe.
Não adianta culparem a edição shady de Drag Race, para justificar não gostarem das queens negras, pois o programa reflete o que o público deseja e faz. Tanto é que ele tem embranquecido desde a quinta temporada. As quatro primeiras temporadas eram ousadas e bem plurais. Mas desde então só tem prevalecido queens brancas magras que é o que o público se identifica.
E o reality tem sua imensa parcela de culpa nisso, não vamos defender quem não merece. Drag Race tem culpa por ser covarde e se render ao embranquecimento do show em busca de audiência. Tanto é que em seu famoso Battle of The Seasons desse ano, evento que reúne várias queens que passaram pelo show, não há negras, nem latinas e somente uma queen gorda.
E no cenário drag nacional se repete a mesma coisa. Estamos cansados de ouvir relatos de queens negras e gordas que não conseguem espaço nas festas e casas de show para elas, por não estarem dentro do padrão esperado. Isso desmotiva mesmo, daí é normal muitas queens desistirem de sua arte por não terem público que as abrace.
Portanto não adianta usarem a velha desculpa do “gosto pessoal”, pois gosto padronizado não passa de construção social. É o lugar comum que muitos se escoram, para não assumirem o racismo que ainda se faz presente em seu “gosto”. Se queremos um mundo mais justo, é preciso abrirmos os olhos para nossas próprias injustiças, porque apontar o demônio alheio é fácil, difícil mesmo é confrontar o nosso demônio interior.
A desconstrução é diária, não podemos esquecer isso. Não é uma linha de chegada que atingimos e pronto, não temos mais preconceito e intolerância para o mundo. E parem de usar Latrice como token* para camuflar seu racismo. Porque isso não cola mais.